30 novembro 2017

COMO EVITAR CUIDADOSAMENTE UM ASSUNTO


30 de Novembro de 1967. Há precisamente cinquenta anos, o Reino Unido concedia a independência ao Iémen do Sul. O documentário acima, mostrando as últimas horas da presença britânica na colónia, capricha na espampanância precisamente para esconder o quanto o processo de descolonização fora uma humilhação para as autoridades coloniais britânicas. A marcialidade da fanfarra da banda sonora acaba por destoar do conteúdo das imagens. Nelas, vêem-se as últimas malas dos soldados expedicionários a serem transportadas de helicóptero para os navios, mas sem se explicar que os britânicos já não controlavam as próprias instalações portuárias em Áden e não queriam correr os riscos de as carregar para bordo da forma tradicional; também por incapacidade em assegurar um perímetro seguro em terra, a última guarda de honra ao Alto-Comissário Humphrey Trevelyan, com o simbólico arriar da bandeira, teve lugar ao largo, a bordo de um navio, o HMS Intrepid. Um conjunto de pormenores verdadeiramente inconvenientes, que a frota de 25 navios deslocados para o resgate e a parada de aviões não consegue escamotear, apesar dos ângulos como as imagens são captadas. No mar, a Royal Navy podia-se prestar a tais cenas mas, se tivesse sido em terra, não haveria um único soldado britânico a almejar a duvidosa honra de ser o último a morrer no conflito para defender a presença britânica em terras iemenitas.
O tema é tanto mais pertinente quanto se constata o esquecimento que é dado a este cinquentenário por toda a comunicação social do Reino Unido. E essa omissão é tanto mais difícil de compreender quanto, precisamente hoje, a primeira-ministra Theresa May se encontra naquelas mesmas paragens do Médio Oriente, mais concretamente na Arábia Saudita, para discutir com o rei Salman a concessão de ajuda humanitária aos - adivinhem? - iemenitas (abaixo). Pois bem, em todo o Reino Unido não consegui encontrar um jornalista que fosse que tivesse feito essa aparentemente simples sinapse entre os dois acontecimentos. Parece-me que, pior do que se ter um passado colonial, será ter um passado colonial mal concluído...

QUEM MANDOU MATAR ALFRED HERRHAUSEN?

30 de Novembro de 1989. Na Alemanha ainda se vivia sob a impressão de euforia que se sucedera à queda do Muro de Berlim (três semanas antes - 9 de Novembro) quando foi surpreendida com a notícia de um sofisticado e bem sucedido atentado cometido contra Alfred Herrhausen, o presidente do Deutsche Bank. Parecia o regresso aos princípios do Deutscher Herbst (Outono alemão) de 1977, quando a Alemanha Federal atravessara uma enorme crise de segurança por causa do rapto de um dirigente empresarial (Hanns-Martin Schleyer, posteriormente assassinado pelos raptores), encadeado depois com o desvio de um avião da companhia aérea estatal Lufthansa. A crise culminara com o suicídio suspeitamente oportuno dos dirigentes terroristas da Fracção do Exército Vermelho já julgados e condenados. Regressando a 1989, por causa do que acontecera com Schleyer, as condições de segurança que rodeavam um alvo potencial como Alfred Herrhausen eram completamente outras e é por isso que vale a pena descrever o atentado, assim como as condições especiais de que se revestiu para ter sido bem sucedido. A viatura blindada onde viajava Herrhausen seguia no meio de um comboio de três viaturas com a sua equipa de protecção. A bomba, com 7 kg de explosivos, que estava colocada na mochila de uma bicicleta esquecida ao lado da estrada, detonou com uma precisão milimétrica ao lado da porta blindada do lugar onde viajava o alvo. Para alcançar essa precisão, o explosivo foi detonado pela interrupção de um feixe de luz infravermelho (invisível) que foi causada pela deslocação do próprio Mercedes onde seguia Herrhausen. A rematar a sofisticação do atentado, e para ultrapassar a protecção fornecida pela porta blindada, aos explosivos fora acoplado um sofisticado dispositivo penetrativo (Misznay-Schardin) que é semelhante ao que é utilizado por algumas munições anti-tanque. Só assim o projéctil formado em consequência da explosão conseguiu atravessar a porta atingindo Alfred Herrhausen. Seccionou-lhe as duas pernas provocando, por causa da hemorragia, uma emergência médica incontrolável. Nos dias que correm um tal dispositivo tornou-se uma banalidade, popularizado nomeadamente no Médio Oriente (Líbano, Iraque), mas há 28 anos tratou-se de uma novidade de deixar boquiabertos os - ditos - especialistas. Impondo a pergunta: quem fornecera tal know-how aos autores do atentado? Não faltou quem apontasse o dedo para os suspeitos óbvios, para a outra Alemanha, a que acabara de colapsar. Só que, naquelas circunstâncias, a iniciativa já não fazia sentido. Seria que, até no terrorismo, se poderiam verificar os efeitos de inércia burocrática e que a preparação do atentado já estaria demasiado adiantado para que o HVA da Stasi o pudesse abortar?...
Mas, num indício de que a opacidade e a encenação a respeito do que acontecera parecia abranger tanto os autores quanto as vítimas, as imagens que acompanhavam as notícias do atentado exibiam retratos de um Herrhausen com uma aparência artificialmente jovem para os quase 60 anos que ele contaria à data. Quanto à pergunta que o Bild então exibia em primeira página, Warum? (Porquê?), essa ainda hoje está por responder. Nem o porquê, nem o quem, embora a sofisticação de que se revestiu o atentado limitasse substancialmente o campo das pesquisas. Este parece-me ser um daqueles casos em que a ausência de empenho posterior em encontrar uma resposta é, em si, uma resposta, pelo menos uma resposta para aquilo que os responsáveis por tal investigação estariam à espera de encontrar (e que não lhes interessou).

OS OLHOS ARRANCADOS ou O ESCRUTÍNIO DA OPINIÃO PUBLICADA

Repare-se na data. Esta profecia tem dois anos e a pergunta que impõe é: quantas asneiras são precisas para que um político, que se dedica exclusivamente a publicar opiniões nos jornais, seja sancionado pelas suas precipitações e erros de leitura política? Ou, como se suspeita, prevalecerá a capacidade de dar graxa aos que o financiam e lhe estão por cima? Em vez da capacidade de prestar satisfações aos seus pares e ao público que é suposto lê-lo. Ou é suposto escrever apenas coisas para animar a malta do clube, em jeito de claque futebolística? Se tomássemos a leitura política de José Manuel Fernandes a sério, a imagem abaixo bem poderia ser aquilo que restava de um dos grupos parlamentares de um dos partidos da Geringonça... Se tomada a sério.

29 novembro 2017

TRADUÇÃO LIVRE

Mesmo que os conhecimentos linguísticos do leitor - como os meus - não cheguem para saber ler todos estes avisos, dá para perceber que o apelo ao silêncio deste cartaz é subtilmente distinto conforme o idioma em que se expressa. Por exemplo, a explicação complementar que é dada aos falantes de inglês (os exames em curso), parece ser desnecessária para quem se expressar em alemão - cumprem e pronto! Entre os latinos, tradicionalmente menos cumpridores, aquilo que se pede aos que falam castelhano (não fazer ruído) não é rigorosamente o mesmo do que o que se pede aos que falam italiano (que é manter o silêncio). E haverá uma importante diferença entre mantê-lo e respeitá-lo, tal qual é pedido aos francófonos, como se o respeito pelo silêncio fosse algo inimaginável entre os transalpinos. Confesso a minha extrema curiosidade a respeito dos expedientes que serão utilizados para persuadir chineses e japoneses a permanecerem silenciosos... E falta o aviso em português: Chiu! Pouco barulho.

A CARTA DE LORDE LANSDOWNE

29 de Novembro de 1917. Há cem anos aparecia publicada no diário britânico The Daily Telegraph uma carta aberta intitulada Coordenação dos Objectivos de Guerra dos Aliados. Tratou-se de uma carta destinada a tornar-se circunstancialmente importante, apenas para depois cair rapidamente num conveniente esquecimento. Mas, para compreendermos esse ciclo de importância é aconselhável conhecer quem a assinava. Começar por dizer que Lorde Lansdowne (1845-1927) nasceu em berço de ouro é uma banalidade. Henry Charles Keith Petty-Fitzmaurice (de seu nome) era tão nobre que possuía um título de nobreza distinto por cada um dos três reinos que então constituíam o Reino Unido: era marquês de Lansdowne em Inglaterra, conde de Kerry na Irlanda e ainda barão de Nairne na Escócia. Numa época em que extensão fundiária ainda tinha imenso significado, os títulos representavam uns 80.000 hectares espalhados pelas duas ilhas. E, nascido durante o longuíssimo reinado da rainha Vitória (1837-1901), Lorde Lansdowne representava um dos últimos exemplares de aristocratas naturalmente destinados à carreira política, que essa mesma época vitoriana veria a ser substituídos gradualmente pelos políticos de ascendência comum. Era o reflexo da evolução da sociedade e da política britânica, que, no período de vida do próprio Lorde Lansdowne, assistira a um crescimento do eleitorado efectivo de 0,5 milhão de eleitores na década de 1840 para os mais de 10 milhões que virão a votar nas eleições de 1918. Mesmo considerando esse facto, de que a carreira política de Lorde Lansdowne se deveria muito mais ao seu nascimento do que aos seus méritos, o percurso que o levara até ali, em finais de Novembro de 1917 era impressionante: fora Governador-Geral do Canadá (1883-1888), Vice-Rei da India (1888-1894), Secretário de Estado (ministro) da Guerra (1895-1900) e Secretário de Estado (ministro) dos Negócios Estrangeiros (1900-1905). Colocado em reserva depois da chegada dos liberais ao poder em 1905, tornara-se o líder dos conservadores na Câmara dos Lordes a partir daí. É com esse estatuto que o vamos encontrar quando do episódio da carta. A caminho de completar 73 anos, Lorde Lansdowne tinha, assim, uma opinião a que havia que conceder a devida atenção.

O título da carta (Coordenação dos Objectivos de Guerra dos Aliados) não é muito revelador sobre o seu conteúdo: trata-se de uma recomendação para que se estudasse seriamente as possibilidades de chegar a uma paz negociada com os impérios centrais. Se o verdadeiro sucesso das partes beligerantes nos três primeiros anos de guerra se limitara ao registo dos desgastes morais entre o inimigo, então, pela argumentação expressa na carta, os alemães haviam sido bem sucedidos com Lorde Lansdowne. Eis algumas passagens do documento:

«Não vamos perder esta guerra, mas o seu prolongamento vai arrastar consigo a ruína do mundo civilizado e um aumento acrescido do sofrimento humano que por ele já é actualmente suportado (...) Não se deseja o aniquilamento da Alemanha como uma grande potência (...) Não se procura impor sobre o seu povo (alemão) qualquer forma de governo que não seja da sua própria vontade (...) Não se tem qualquer desejo de negar à Alemanha o seu lugar no comércio mundial (...)»

A proposta foi muito mal acolhida, tanto pela esmagadora maioria da imprensa britânica como pelos círculos de poder. Neste meio, Lorde Lansdowne foi não apenas censurado como condenado e votado ao ostracismo. Na época, quando se deu destaque à sua proposta foi sobretudo para a desfazer, como aconteceu, por exemplo, com o escritor H.G. Wells, que atribuía um cunho fortemente sociológico às preocupações do proponente: «...é uma carta de um aristocrata que tem mais receio da revolução do que da desonra da Pátria». De facto, quando a carta foi publicada, a Revolução de Outubro na Rússia ainda não tinha um mês... e as preocupações de Lorde Lansdowne não deviam ser apenas dele mas também de muitos da sua classe... e não só no Reino Unido. A Primeira Guerra Mundial durou quase mais um ano e, na hora da Vitória (11 de Novembro de 1918), o episódio fora convenientemente esquecido porque no Reino Unido nunca se duvidara do desfecho da guerra.

Uma nota final. Há uma tremenda ironia em ler uma crónica actual no The Times defendendo Lorde Lansdowne e a sua carta, apresentando-o neste centenário como uma vítima da ditadura das opiniões, acusado de derrotismo, qualificado como traidor, quando fora esse mesmo jornal o inicialmente escolhido pelo próprio Lorde Lansdowne para publicar a sua carta em 1917. Se não o fez, foi porque o editor do The Times de então se recusou a fazê-lo.

28 novembro 2017

COMO - FELIZMENTE - NEM TODA A IGNORÂNCIA PASSA IMPUNE

A primeira história tem mais de dez anos e ocorreu por ocasião de uma audição do então PGR no parlamento. O assunto que a provocou - um tal de Envelope 9 que pareceu assunto grave na altura - já foi, provavelmente como devia, há muito esquecido, mas o que não devia ter sido foi uma das reacções de Souto Moura, quando confrontado com a questão do formato em Excel dos ficheiros que eram alvo da polémica. Como se escrevia então (21 de Janeiro de 2006) numa passagem da notícia no Diário de Notícias :
 
'Nunca vi o programa Excel'
 
Questionado sobre o teor do comunicado da Procuradoria (de sexta-feira, 13), no qual foi dada a garantia de que no Envelope n.º 9 apenas se encontravam dados relativos à facturação detalhada de Paulo Pedroso, Souto Moura afirmou que foi essa a 'informação' que os magistrados do MP que acompanham o julgamento lhe deram no próprio dia. 'Acredito que não houve má-fé', sublinhou.
E disse que tal comunicado foi difundido sem a PGR ter conhecimento de um outro da PT, no qual a empresa, implicitamente, reconhecia o erro dando explicações sobre o funcionamento do programa informático Excel. 'Eu nunca tinha visto um programa Excel', desabafou aos deputados.
O que fica a faltar à descrição - infelizmente perderam-se os vídeos do momento - foi o enfâse dado por aquele alto magistrado à sua ignorância a respeito de um aplicativo informático corriqueiro como o Excel. Por essa vez, as redes sociais, se calhar porque ainda incipientes, não se escandalizaram (como deviam), mas o momento era patético: as pessoas podem ser ignorantes mas fica-lhes sempre mal orgulharem-se dessa ignorância. Mas o que me parece mais desconfortável é como essas manifestações de ignorância, se se referirem a questões técnicas/científicas, não parecem ser depois sancionadas socialmente pela comunicação social - quando elas são, no mínimo, exibição de uma mediocridade auto-congratulatória. Coisa expectável se vindas de um taxista, é muito triste se as virmos exibidas por um procurador geral da República. O que nos leva à segunda história que aqui é contada com um sentido de desforra. A desforra de que nem sempre a ignorância displicentemente confessada sai impune. O episódio (bem recente) ocorreu durante um daqueles programas de comentário futebolístico. Um dos convidados, José Guilherme Aguiar, alegando previamente aquela tradicional ignorância a respeito dos assuntos mais elementares da navegação na net (que continua por sancionar socialmente), resolveu troçar da publicidade associada a um site de um clube rival:
 
- (...) o meu informador, que toda a gente conhece dentro deste programa que é o meu filho, eu pedi-lhe, e ele mandou-me um... um... site, não é? É site que se diz?
- Sim.
- ...de um famoso comentador do Benfica, Hugo qualquer-coisa, não fixei o nome...
- Hugo Gil.
- ...e depois... ah, ah, ah, abri o artigo e depois aparecia a fotografia do... ah, ah, ah... desse senhor que apareceu agora na televisão, esse ex-jornalista, aparecia o princípio da notícia e depois aparecia uma coisa que era publicidade, «você quer acabar com as hemorróidas?», eh, eh, eh, era assim que vinha! E eu digo assim: olha que raio de anúncio é que eles vão pôr!
 
Azar o de José Guilherme Aguiar desconhecer que a publicidade que lhe aparece na sua página, e da qual tanta troça fez, não tem nada a ver com as escolhas do autor do site, mas antes com o seu próprio histórico de navegação... Riu-se muito mas, por ignorância, acabou por ser o próprio José Guilherme Aguiar a - por assim dizer - dar o cu ao manifesto.

A DECLARAÇÃO UNILATERAL DA INDEPENDÊNCIA DE TIMOR LESTE

28 de Novembro de 1975. Com a publicação da imprensa lisboeta suspensa como consequência dos acontecimentos do 25 de Novembro torna-se necessário ir recuperar a imprensa menos convencional as noticias do período que imediatamente se seguiu. No caso, o anúncio da declaração unilateral da independência de Timor Leste por parte da Fretilin há precisamente 42 anos, a fonte é o jornal A Voz do Povo, o órgão oficial da UDP, o único partido da extrema esquerda com representação parlamentar (1 deputado na Assembleia Constituinte).
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MORRE MAIS UMA COLÓNIA!
Nasce a República de Timor-Leste

Contra as tentativas do governo português de prolongar a dominação colonial e contras as invasões e ingerências estrangeiras, mais uma colónia portuguesa se transformou em país independente, mais um povo conquistou, pelas armas, a sua liberdade.
A independência de Timor foi proclamada pela FRETILIN (Frente Revolucionária para a Independência de Timor-Leste) no dia 28 de Novembro . Mas enquanto nasce a República de Timor-Leste tropas indonésias, já numa invasão completamente descarada, tomam Atabae(?), uma localidade situada entre a fronteira com a parte indonésia da ilha e Díli, capital de Timor-Leste. E se isto acontece é porque o que mais enfurece o fascista Suharto (chefe do governo da Indonésia) é o facto do povo de Timor, mesmo desfalcado pelas duras batalhas que tem travado ultimamente, não desistiu da luta e tomar nas suas mãos o seu próprio destino.
A proclamação da independência foi o culminar de uma luta que nos últimos meses o povo de Timor tem travado contra um inimigo militarmente poderoso. Mesmo assim, tem sido a FRETILIN, através das suas forças armadas, as FALINTIL, a fazer recuar todos os ataques e invasões e a assegurar o controle militar do território.
Quando, em Agosto, a UDT decidiu romper unilateralmente o pacto anteriormente estabelecido com a FRETILIN, isso tinha uma razão. E que a ligação cada vez mais profunda que se estava a estabelecer entre a FRETILIN e o povo timorense iria em breve deitar por terra todas as tentativas mais ou menos disfarçadas de neo-colonialismo.
De então para cá, as forças pró-indonésias, assim como o governo de Suharto, têm sido obrigadas a revelar a sua verdadeira face: inimigos do povo timorense, mostrando pelos interesses deste um profundo desprezo.
No entanto, quer o golpe da UDT, em Agosto, quer as sucessivas manobras e agressões militares que se seguiram, tudo tem falhada. Timor respondeu sempre com firmeza, apesar de lutar em condições muito desfavoráveis - eis uma grande lição para os povos de todo o Mundo!
E, quanto ao governo português, responsável até há bem pouco pela administração do território, que fez? Recusando-se a tomar uma posição face à invasão e às interferências estrangeiras, cumpre o papel de colaborante com o neo-colonialismo, discutindo, ora com a Indonésia, ora com a Austrália, o destino de Timor-Leste. Por outro lado não quer reconhecer a independência enquanto fala na ONU, abusivamente, em nome da ex-colónia. É isto que significa na prática, a política de "descolonização" do governo português.
"VOZ DO POVO" saúda a independência de Timor-Leste, tão heroicamente conquistada, ao mesmo tempo apela ao povo português, aliado natural dos povos das ex-colónias, para que manifeste a sua solidariedade através de um apoio concreto à luta deste povo irmão, ainda cercado pelos inimigos.

VIVA TIMOR-LESTE INDEPENDENTE!
O POVO DE TIMOR VENCERÁ!
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Aparecido alguns minutos depois da meia-noite do dia do PREC, este é um dos meus textos favoritos daquele período: não consigo imaginar como se possa retocá-lo para o tornar ainda mais demagógico e inconsequente do que o que está. É uma verdadeira obra-prima dos chorrilhos de disparates ideológicos da língua portuguesa. De autor(es) anónimo(s) do século XX. Na verdade, do ponto de vista diplomático e com a clarividência dos 42 anos entretanto transcorridos, percebe-se hoje que ainda bem para os timorenses que, na ocasião, Portugal nunca tivesse levado esta proclamação unilateral da independência de Timor a sério.

27 novembro 2017

«(VRAIMENT) LE DERNIER MÉTRO»

Há instantâneos que, quando fotografados, se agigantam pelo potencial de títulos imaginativos que conseguem despertar. É o caso acima em que, sem se procurar ser exaustivo, apenas instintivo, nos ocorre de imediato quer um sarcástico «NADA A DECLARAR», como numa alfândega imaginária, quando não um «(VRAIMENT) LE DERNIER MÉTRO» numa alusão complementar ao famoso filme de François Truffaut.

AS SUBTILEZAS DA DIALÉCTICA LENINISTA APLICADAS ÀS PROTECÇÕES DAS PARAGENS DE AUTOCARRO NA RÚSSIA MODERNA - 2

Os dizeres КРАСНОДАР ЧИСТЫЙ ГОРОД (KRASNODAR CHISTYY GOROD) afixados no tecto da protecção traduzem-se por KRASNODAR CIDADE LIMPA... Krasnodar é uma cidade com um pouco mais de 700 mil habitantes no sul da Rússia e, embora possa ser muito asseada em geral, nos arredores desta paragem de autocarro não parece nada.

26 novembro 2017

AS BODAS DE DIAMANTE DA ESTREIA DE «CASABLANCA»


26 de Novembro de 1942. Há precisamente 75 anos o filme Casablanca estreava numa apresentação especial no Hollywood Theater de Nova Iorque. A estreia terá sido antecipada para beneficiar de algum efeito promocional devido aos desembarques americanos no Norte de África e da conquista da verdadeira Casablanca. Melhor do que isso porém, a estreia geral nos cinemas dos Estados Unidos, a 23 de Janeiro de 1943, coincidirá involuntariamente com a realização da Conferência de Casablanca, com a presença de Roosevelt, Churchill, De Gaulle e Giraud e que porá a cidade no mapa noticioso. Como há sempre mais uma história surpreendente para contar a respeito do filme, acrescente-se por esta vez que o actor mais bem pago do elenco foi Conrad Veidt, o pérfido major Strasser, que nem figurava entre os seus actores principais...

FALA SÔNIA, VERSÃO ERUDITA


...um pequeno esforço para soletrar o nome de Rabindranath Tagore, poeta bengali, agraciado com o Prémio Nobel da Literatura em 1913.

E SE A ATENÇÃO DEDICADA AOS MORTOS DO SINAI NÃO FOR ESCASSA? SE FOR A ATENÇÃO DEDICADA AOS MORTOS DE MANCHESTER QUE É EXCESSIVA?

A 22 de Maio de 2017 houve um ataque terrorista durante um concerto em Manchester do qual resultaram 23 mortos e 116 feridos. A imagem acima mostra a informação ainda hoje disponível a esse respeito nas páginas do Jornal de Notícias. A 24 de Novembro do mesmo ano, seis meses depois, houve um outro ataque terrorista durante as orações a uma mesquita no Sinai, do qual resultaram 305 mortos e mais de 128 feridos (os números ainda estão em actualização). E a imagem abaixo mostra a informação até agora disponível no mesmo Jornal de Notícias, sobre esse outro atentado. Sobre a comparação destas duas imagens, um princípio salutar será o de abandonar a ingenuidade de esperar que houvesse um tratamento noticioso equilibrado dos dois acontecimentos:
Manchester fica no Reino Unido e o Sinai é no Egipto. E a verdade cruel (mas correntemente invocada) é que os mortos de Manchester, independentemente do seu número, são muito mais importantes para a comunicação social ocidental do que os mortos do Sinai. Aceite-se isso. Mas será que essa mesma verdade cruel não justificará que possa estar a haver uma enorme desproporção na cobertura noticiosa? Ou seja, se tomarmos o desinteresse relativo pelos 305 mortos do Sinai por referência, não será possível que haja uma saturação mediática e emocional com os ataques terroristas no Ocidente? E que as audiências prescindam perfeitamente da maioria das dúzias de notícias irrelevantes mais acima, quando se podem satisfazer com apenas duas (ainda incompletas) no caso egipcio?

25 novembro 2017

AS SUBTILEZAS DA DIALÉCTICA LENINISTA APLICADAS ÀS PROTECÇÕES DAS PARAGENS DE AUTOCARRO NA RÚSSIA MODERNA - 1

100 anos depois da eclosão da Revolução de Outubro e 26 anos depois do seu colapso, as sementes da dialéctica leninista ainda subsistem em toda a Rússia e encontramo-las, a essas subtilezas, nos locais mais improváveis, como as protecções das paragens de autocarro. Desde uma dessas protecções que foi erigida no que outros acharam que devia ser um parque de estacionamento de automóveis até ao dono de um automóvel que, pelo contrário, achou que uma dessas protecções era um bom local para o estacionar.

O 100º ANIVERSÁRIO DA BATALHA DE NEGUMANO

Hoje celebra-se o 100º aniversário da Batalha de Negumano (25 de Novembro de 1917), um dos vários confrontos em que o exército português se envolveu em África contra o exército alemão durante a Primeira Guerra Mundial. Foi uma derrota pesada. Como se pode perceber pela leitura do mapa acima, no mês anterior as colunas alemãs (representadas a verde) haviam-se defrontado com um grande destacamento britânico (a vermelho) desembarcado em sua perseguição e haviam-no derrotado na Batalha de Mahiva (15 de Outubro de 1917). Fora uma humilhação para os britânicos que puseram em campo mais do triplo dos efectivos dos alemães, mas a vitória teve também algo de pírrico para os alemães, que haviam consumido no combate quase todas as suas munições e que, isolados da Metrópole, se debatiam com o enorme problema logístico de não as conseguir substituir. O comandante alemão, Paul von Lettow-Vorbeck (1870-1964, foto abaixo), uma verdadeira raposa da savana, resolveu evadir a pressão que as várias colunas britânicas procuravam exercer sobre as suas próprias tropas, abandonando o seu território de origem (a colónia alemã do Tanganica), sem quaisquer pretensões de o defender e invadindo pelo Norte a vizinha colónia portuguesa de Moçambique.
Do lado de cá da fronteira, ali constituída pelo rio Rovuma, os portugueses haviam montado um dispositivo de defesa, mas com as suas companhias espalhadas ao longo do rio, ignorando-se o local por onde é que os alemães pretenderiam atravessar. Depois de certamente ter feito os seus reconhecimentos, Von Lettow-Vorbeck escolheu atravessar o Rovuma na extremidade ocidental do dispositivo português e atacar a unidade portuguesa que estava mais isolada para o interior, em Negumano, junto à confluência do Rovuma com o seu afluente Lugenda. Desta vez os alemães atacaram em superioridade numérica, muito embora a falta de munições deva ter afectado o seu poder de fogo. Há um contraste notório entre a descrição da batalha feita a partir de fontes britânicas, severamente crítica, e a feita a partir de fontes portuguesas, muito mais indulgente. O destacamento português bem podia ser comandado por João Teixeira-Pinto (1876-1917, foto abaixo), um oficial experiente que mostrara todo o seu valor nas Campanhas de África (embora na Guiné). Numa guerra que daquela vez era equilibrada, ele não conseguiu evitar o envolvimento táctico das suas forças, e acabou por se deixar matar à frente delas no sucedâneo trágico mais próximo da glória que um chefe militar pode obter perante uma derrota.
Porém, não foi um sacrifício que tivesse galvanizado as tropas pelo exemplo. Quando a batalha terminou haviam morrido 5 oficiais, 14 soldados brancos e 208 africanos; havia ainda 70 feridos e 550 prisioneiros, dos quais 31 eram oficiais; estima-se que cerca de 300 soldados haviam conseguido evadir-se. Do lado alemão, provavelmente com algum exagero, confessavam-se apenas 2 europeus mais 6 soldados indígenas mortos. Se aqui evoco o episódio desta morte heróica desconhecida de um herói colonial relativamente conhecido (abaixo, a estátua que lhe foi erigida no período colonial na Guiné, hoje naturalmente desaparecida) é para relativizar a importância que se costuma atribuir a estas mortes heróicas. Raros são os casos em que elas têm uma verdadeira importância militar – de memória, só me lembro do caso de Martim Moniz que não deixou que a porta do castelo de Lisboa se fechasse… E sobretudo dependem muito mais da conjuntura política e moral do que das circunstâncias em que ocorrem essas mortes. Diante de uma massa amorfa desencorajada de subordinados ninguém consegue motivar ninguém a nada. Nem mesmo com o exemplo do seu sacrifício último.

FLORES DE OUTONO

Há muitas flores bonitas e aromáticas que despontam no Outono. E foi uma pena que naqueles dias do final de Novembro de 1975 houvesse uns quantos que houvessem perdido o olfacto da Liberdade por estarem ideologicamente constipados; quiçá uma reacção alérgica ao cheiro selecionado e impositivo dos cravos. A verdadeira Liberdade implica que se pode gostar do cheiro de todas as flores em todas as estações. Desde este dia do Outono de há 42 anos, já houve felizmente muitos deles que conseguiram desentupir as fossas nasais; outros, infelizmente, parecem ser casos perdidos de anosmia.

24 novembro 2017

EM ROTA DE DISSOCIAÇÃO

24 de Novembro de 2016. A diferença de como as partes concebem a adesão da Turquia à União Europeia expressa-se bem nos respectivos logotipos do processo, o da Turquia e o da União Europeia. Mas não terá sido por essa diferença conceptual da importância relativa de ambos que há precisamente um ano o Parlamento Europeu propôs o congelamento das negociações de adesão da Turquia à UE. A causa próxima invocada pelos parlamentares para aquele gesto foram as reacções desproporcionadamente repressivas do governo turco a uma tentativa de golpe de Estado que ocorrera em Julho de 2016. A votação foi maciça (479 votos a favor, 37 contra e 107 abstenções) e, por essa vez, a opinião do Parlamento foi acolhida e cumprida pelos restantes órgãos da União. Mas o que é mais significativo é que, ao longo deste ano que passou, não se vislumbrou qualquer iniciativa significativa de qualquer das partes em reatar o diálogo. Pelo contrário, se houver factos a destacar são incidentes como o que recentemente fez a Turquia abandonar operações em que estava a participar com os seus aliados da NATO em que aquela era usada para simbolizar o Inimigo. Se a terminologia popular consagrou a expressão rota de colisão, neste caso, aquilo que está a acontecer entre a Europa e a Turquia será uma colisão mas porque as partes estão em rota de dissociação.

COMEÇOU NO WEINSTEIN MAS AGORA CHEGOU ATÉ AO BOBBY...

A forma crescente como as denúncias encadeadas de assédio sexual têm surgido - aprecie-se uma lista (incompleta) de 235 acusados recentemente publicada - terão alterado abruptamente os padrões sociais nas últimas semanas, e refletir-se-ão na forma como esta imagem abaixo terá perdido a razão original de nos fazer rir. O Bobby passou de descarado (e potencial vítima do mau humor da tigresa) a indecente (e compelido a ser expulso do zoológico).

A VEROSIMILHANÇA

A origem da notícia é Paris. A data, 24, é a abreviatura de 24 de Novembro de 1925, completam-se hoje 92 anos. O sr. Briand é Aristide Briand, um dos políticos da III República francesa a quem o presidente da mesma, Gaston Doumergue, abordara para a eventual formação de um novo governo, o processo de sondagens consagrado pelos costumes de então para a nomeação de quem viesse a encabeçar um novo ministério. Mas o que torna deliciosa a notícia é a cautela e o arcaísmo gramatical como ela é redigida. Já não há jornalistas que saibam escrever com aquele estilo. O sujeito da oração que antecipa a recusa é indeterminado e isso vem a revelar-se positivo para quem dá a notícia porque os livros de História virão comprovar que o "sr. Briand" virá a ser o presidente do Conselho de ministros de um novo governo francês no dia 28 de Novembro...

23 novembro 2017

QUANDO SE PODIA ESTACIONAR VERDADEIRAMENTE À PORTA DO CINEMA...

Fotografia da fronte do cinema Roma há 59 anos. Apenas quatro carros à vista e o nosso instinto, treinado, leva-nos logo a imaginar a plétora de lugares legais, semi-legais e tolerados que ali se poderiam aproveitar pelas regras de trânsito actuais. Sobrava espaço porque faltavam automóveis, a nossa renda per capita em 1958 era de 216 dólares, que se comparavam muito mal com os 299 de Espanha, 326 da Grécia, 464 da Irlanda, 478 de Itália ou 1003 de França. Nathalie é uma comédia francesa e esteve em exibição entre 16 de Outubro e 6 de Novembro de 1958 e hoje está tão comercialmente desvalorizada que pode ser vista no youtube.

22 novembro 2017

DÊ POR ONDE DER: ...'TÁ MAL!

Entre ontem e hoje, o Observador, com a colaboração prestimosa da agência Lusa, tem-nos informado que essa coisa de ter antecipado os reembolsos ao FMI está mal, qualquer que seja a perspectiva pela qual a encaremos. Esqueça-se lá que, como se pode ler desenvolvidamente no interior das notícias, se trate de «uma estratégia iniciada pelo governo de Passos Coelho e prosseguida pelo de António Costa com o objectivo de gerar poupanças com os juros pagos ao FMI, mais pesados do que os que incidem sobre o montante pedido aos credores europeus.» Ou então que, mais adiante, essas poupanças com os juros estejam quantificadas: «o juro médio que Portugal paga ao FMI pelo dinheiro emprestado é de 4,3%, ao passo que os juros relativos à parte europeia do resgate não vão além dos 2,7%.» O que importa é aquilo que o jornal projecta para os títulos, sempre de conteúdo crítico para com essa prática - «absurda» - de reembolsar os empréstimos mais onerosos mais rapidamente. Tanta é a vontade de dizer mal que, no caso da notícia da esquerda, só ao quarto parágrafo da mesma é que nos apercebemos que a razão para que esteja a haver uma revisão em baixa dos reembolsos previstos para o futuro é porque se excederam as previsões dos reembolsos até agora: «Esta revisão em baixa dos montantes a pagar à instituição liderada por Christine Lagarde nos próximos dois anos surge depois de o Estado ter devolvido este ano mais cerca de mil milhões de euros do que o previsto aquando da entrega da proposta orçamental para 2018.» No que diz respeito a esta área, as políticas governamentais não se alteraram substancialmente, uns obtêm melhores resultados, outros menos. Mas o Observador consegue verdadeiros milagres, nomeadamente o de transformar em horríveis os resultados que seriam virtudes se fossem outras as circunstâncias. Será para isso que conta com a colaboração de Helena Garrido que, ao contrário de Jesus Cristo, perceberá imenso de finanças e consta até ter biblioteca... embora desconfie que ela use muito mais os livros de política do que os de economia.

A BULA «PASTORALIS PRAEEMINENTIAE»

22 de Novembro de 1307. Com a publicação da bula «Pastoralis Praeeminentiae» o papa Clemente V (o francês Bertrand de Got) ordenava a todos os reis da cristandade que procedessem quer à prisão de todos os membros da Ordem dos Templários presentes nos seus reinos, quer ao sequestro de todos os terrenos e bens da Ordem. Com a bula, Clemente procurava associar-se (para o tentar controlar) ao processo que o rei Filipe-o-Belo, lançara no mês anterior (13 de Outubro) contra esses mesmos templários em França. Nascida como uma Ordem militar religiosa no século XII, a Ordem dos Templários era aquilo que de mais parecido haveria com uma multinacional moderna no século XIV, mas haviam perdido a sua principal fonte de financiamento com a queda da última possessão cristã na Palestina em 1291. Com isso, tiveram que diversificar a sua actividade: os capitais que antigamente eram destinados principalmente ao financiamento do comércio levantino passaram a ter como destino as necessidades da coroa francesa. A França do dealbar do século XIV era indiscutivelmente o reino mais importante e desenvolvido do Ocidente cristão. Mas a concentração das aplicações num grande cliente foi o grande erro do também francês Jacques de Molay, o 22º e último grão mestre da Ordem: é que uma instituição nunca pode emprestar demasiado dinheiro a uma outra que seja mais poderosa que a sua. Não só deixa de ter instrumentos de pressão para recuperar o crédito malparado, como surge a tentação do devedor resolver a dívida extinguindo o credor - como tantos banqueiros do período medieval descobriram à sua própria custa. Muito se crítica Clemente V pela publicação desta bula há 710 anos, mas, para mim, ela é apenas demonstrativa de uma evidente lucidez política quanto à força dos intervenientes. Afinal, Filipe IV e Guilherme de Nogaret, apenas haviam precisado de capturar 232 membros (138 em Paris e 94 no resto de França) para se apropriarem de todo o património dos Templários e, actualmente, em querendo, com muito menos detenções seleccionadas qualquer poder político determinado toma conta de uma grande multinacional...

21 novembro 2017

...E QUEREM ELES QUE SE PAGUE A INFORMAÇÃO...

O que justifica o destaque do incidente não é o erro. Erros acontecem. É a negligência como o erro não é corrigido. No momento em que o copiei para o transpor para aqui, já se haviam passado mais de três horas após a publicação do comentário alertando que a fotografia que decorava as declarações de Hassan Rohani não era a do próprio. Pior, em nenhum momento da notícia aparece qualquer referência que seja a Ali Khamenei, ou seja, nem há espaço argumentativo para invocar um lapso: é incompetência mesmo! Ainda por cima, rematada com uma antipática desatenção pelas reacções dos leitores. Quem ainda acha que há espaço para se fazerem cobrar por publicar isto, é porque não está a ver bem o filme.

MIREILLE MATHIEU, QUANDO FOI A NOVA ÉDITH PIAF


21 de Novembro de 1965. Dá-se a estreia televisiva na ORTF da cantora francesa Mireille Mathieu, num daqueles programas de Domingo à tarde, em que se buscavam novos talentos. Se o talento de Mireille Mathieu pareceu promissor, a ascensão fulgurante da carreira da jovem de 19 anos deveu-se mais - pelo menos nesta fase inicial - a uma espécie de sentimento de orfandade que a morte de Édith Piaf (ocorrida dois anos antes) deixara na canção francesa. Mais do que pelos seus próprios méritos, Mireille Mathieu apareceu subitamente catapultada para a fama porque, quem a promovia se dirigiu a uma fracção da audiência que queria uma reedição de Piaf. Nesta outra aparição televisiva acima, que teve lugar pouco mais de um mês depois da tal estreia (a 26 de Dezembro), repare-se como, para além da voz, que é indiscutivelmente parecida, há todo um conjunto de pormenores, desde a roupa (simbólica em Piaf mas imprópria para uma miúda de 19 anos), ao acentuar deliberado da sua pequenez (é que Mireille é franzina - 1,53 - mas não tanto quanto Édith o era - 1,47), ao estilo de interpretação ou até ao próprio teor da canção, a sugerirem que a actuação se destina a ser uma reencarnação nostálgica - ou perto disso - das de Édith Piaf. Até a letra do tema que é interpretado - que tem por título O Natal da Rua - alude subtilmente às ascendências modestas de uma e outra, que a máquina promocional manipulada pelo empresário de Mireille não se cansava de enfatizar. Porém, o que a beneficiou inicialmente, veio a voltar-se depois contra a artista, dificultando-lhe a tarefa de criar um estilo próprio que a afirmasse individualmente, como é o caso deste Paris em Cólera do filme Paris Já Está a Arder?.

AJOELHOU... VAI TER DE REZAR

Suspeito que a alusão da música do José Malhoa não tem propriamente a ver com ir levantar dinheiro a esta caixa multibanco exoticamente instalada...

20 novembro 2017

ESTARÁ A POLÍTICA ALEMÃ A MODERNIZAR-SE?

Como acontece, por exemplo, com a censura, de que a pior porque menos evidente, é aquela que nos impomos a nós mesmos, há muitos episódios que nunca questionamos devidamente porque os tomamos por implícitos, sem os questionar. Um desses episódios é que na Alemanha do após Guerra não há crises políticas. Em Itália, para usar a definição do sonho de António Gedeão, as crises são uma «constante da vida»; em França, acontecem de quando em vez, quando não aparecem homens que a encarnem - à França - devidamente; mas, numa Alemanha traumatizada por alguém que a encarnou provavelmente bem demais, depois daquilo não era para haver crises políticas. Só agora o fracasso das negociações conducentes à formação da coligação tripartida, coloridamente qualificada de Jamaika-Koalition (CDU/FDP/Verdes), vem acordar-nos para a evidencia que afinal até pode haver crises políticas na Alemanha, como se se tratasse de um país europeu normal. Aí está uma: No Frankfurter Allgemeine Zeitungse pergunta se vêm aí novas eleições. O SPD recusa mais uma vez refazer a coligação anterior e pede-as. Parece-me dramatismo a mais, já que ainda só se passaram dois meses sobre as eleições anteriores. Se a Alemanha, agora convertida à modernidade política, quiser ser um país como os outros, tem que dar mais tempo ao tempo, que ainda muito recentemente os seus vizinhos holandeses estiveram quase sete meses (ou, mais precisamente, 208 dias) em negociações para a formação do seu governo. Nas partes mais modernas desta nossa Europa a várias velocidades parece ter deixado de haver premência na formação de um governo em efectividade de funções...

A BATALHA DE CAMBRAI

Centenário do início da Batalha de Cambrai. Trata-se de uma ofensiva desencadeada pelo 3º Exército Britânico sobre as posições defendidas pelo 2º Exército Alemão na região do Norte de França adjacente à cidade que irá dar o nome à batalha. Costuma dar-se realce a esta batalha por causa do que é considerado o primeiro emprego maciço de blindados por parte dos britânicos para apoiar a progressão da infantaria. Na verdade, o recurso a 476 carros de combate (designados por tanques), foi apenas uma expansão daquilo que já havia sido feito em operações anteriores. Tanto assim, que uma das divisões atacantes, a 51ª (Highland), se irá confrontar com uma divisão alemã (a 54ª) que já se especializara em tácticas anti-tanque, aprendidas depois das ofensivas francesas de Abril de 1917.
A maior novidade presente em Cambrai não foi o hardware mas o software. Por uma primeira vez, o bombardeamento que abriu a ofensiva às 06H00 de 20 de Novembro de 1917, empregando mais de 1.000 peças de artilharia, foi realizado recorrendo a novos métodos indirectos e passivos de referenciação dos alvos, evitando denunciar prematuramente a concentração do poder de fogo ao inimigo. Por outro lado, o avanço das tropas foi concebido como uma colaboração entre blindados e infantaria, num primeiro exemplo de colaboração entre aquelas duas armas - a dos blindados acabara praticamente de nascer. Os carros de combate lideraram a progressão da infantaria de 6 das 19 divisões do Exército de Sir Julian Byng.
Como um bom oficial de cavalaria tradicional (a que ainda pretendia ainda usar cavalos naquela guerra...), o plano de Byng contemplava ainda o emprego de 3 divisões de cavalaria mantidas em reserva para, depois de conseguida a ruptura da frente, avançarem sobre Cambrai, conquistando a cidade, rompendo a estrutura da defesa inimiga. Antes disso, o resultado do primeiro dia da ofensiva (há precisamente cem anos) revelou-se espectacular. Ao longo de uma extensão de oito quilómetros, as defesas alemãs colapsaram. Tanto o sucesso se apresentava que, no Reino Unido se mandaram tocar os sinos em celebração. Foi uma decisão prematura. Apesar dos resultados iniciais, os atacantes começaram a ter dificuldades crescentes em manter a dinâmica da ofensiva. Mais do que os homens era agora o material que dava de si. Alguns tanques foram atingidos pela artilharia alemã mas muitos mais, centenas, ficaram fora de combate por deficiências mecânicas ou então atolados numa das trincheiras inimigas.
Exaurida a cavalaria moderna, nunca se chegaram a criar as condições para que a cavalaria antiga pudesse exibir-se na frente de combate. Passado o impacto da ofensiva inicial, e como já se tornara tradicional na Frente Ocidental, os alemães concentraram meios (20 divisões) para passarem ao contra-ataque. Com a sua contra-ofensiva recuperaram grande parte do território perdido nos primeiros dias. Com esse território vieram algumas dezenas de tanques que os britânicos tiveram de deixar para trás e que os alemães depois puseram ao seu serviço. Como saldo da batalha, a configuração da frente no mapa abaixo mostra apenas alterações irrelevantes do ponto de vista táctico. Mas em Inglaterra, para efeitos de propaganda e porque alguém irrefletidamente mandara tocar os sinos a celebrá-la antes de tempo, a Batalha de Cambrai teve que se tornar numa vitória...

19 novembro 2017

FUGIU-LHES A BOCA PARA A VERDADE?...

O secretário-geral da NATO, Jens Stoltenberg, viu-se obrigado a pedir desculpas formais à Turquia por causa de um incidente ocorrido durante exercícios militares que estavam a decorrer na Noruega. Nesses exercícios, as imagens do líder fundador da Turquia, Mustafa Kemal Ataturk, e do seu actual presidente, Recep Tayyip Erdoğan, constaram de uma apresentação como representando o inimigo. Em protesto, a Turquia decidiu retirar os seus 40 soldados que estavam a participar dos treinos no centro de guerra conjunta que a NATO possui em Stavanger. Foi dada a explicação que o responsável directo pelo lapso fora um civil norueguês subcontratado localmente e não qualquer funcionário da NATO. (Alguém que, por só ver televisão, não saberá que a Turquia ainda devia ser teoricamente dos bons...) E o secretário-geral da NATO (também norueguês) emitiu uma declaração pedindo desculpas pela ofensa causada, esclarecendo que o incidente foi o resultado de uma lapso individual e que não reflete os pontos de vista daquela Aliança Militar. Mas os militares turcos não terão regressado aos exercícios, com o presidente turco a comentar que um tal comportamento não podia ser facilmente perdoado. Não deixa de ser irónico ouvir essa opinião a alguém que, quanto a inimigos, ainda há três meses e a propósito da política interna alemã, qualificava Angela Merkel como sendo uma inimiga da Turquia.

18 novembro 2017

UMA PEQUENA HOMENAGEM ÀQUELES DOCUMENTÁRIOS DA NATIONAL GEOGRAPHIC SOCIETY





O SUICIDIO COLECTIVO DOS SEGUIDORES DE UMA SEITA RELIGIOSA

Durante os anos que se seguiram à Segunda Guerra Mundial assistiu-se nos Estados Unidos a uma multiplicação de cultos de vaga inspiração cristã devotados à figura de um profeta messiânico, quase todos em busca de uma espécie de reencenação da vida de Cristo transposta para o século XX. Encarados quase todos com a condescendência da liberdade religiosa em que está matricialmente assente a fundação dos Estados Unidos, esses perspectiva tolerante foi profundamente abalada há 39 anos, com o episódio do suicídio induzido entre um pouco mais de 900 seguidores de uma dessas religiões, que se denominava Templo do Povo. Apesar de ter envolvido uma esmagadora maioria de cidadãos norte-americanos, o suicídio, que teve lugar em 18 de Novembro de 1978, aconteceu na Guiana, país da América do Sul que o guru da religião, um homem de 47 anos chamado Jim Jones, seleccionara para fundação de uma comunidade idealizada dos seus seguidores. Quanto à magnitude e à gravidade dos acontecimentos, ela só se compreenderá se concebermos o Templo do Povo de Jim Jones como uma organização que era absolutamente devotada ao seu fundador, fundador esse que, entretanto, terá desenvolvido uma qualquer doença mental. As imagens que correram mundo (acima e abaixo) são confrangedoras pela exibição do desperdício de vidas humanas. Esta morte de quase um milhar de pessoas, que se descobriu ter sido promovida por uma pequena dúzia, tornou-se, desde aí, um poderoso argumento do Estado para que a relação dos cidadãos com o Altíssimo pudesse não ser, em certos casos, apenas um assunto pessoal...

17 novembro 2017

OS GOLPES DE ESTADO MILITARES À AFRICANA JÁ NÃO SÃO O QUE ERAM

Este Século XXI produziu muitas transformações nos usos e costumes. E uma dessas transformações é que os golpes de estado em África já não se revestem daquela simplicidade de há uns quarenta ou cinquenta anos. Desde quando é que o presidente acabado de depor - que tantas vezes era um ditador encartado como acontece no caso acima com Robert Mugabe do Zimbabué - tinha o topete de achar que não colabora?... O que os vencidos canónicos de outrora tinham garantido era um pelotão de fuzilamento, com ou sem um simulacro de julgamento sumário. Mesmo os julgamentos ordinários, menos apressados, costumavam caracterizar-se por não se distinguirem dos sumários no teor das sentenças. O verdadeiro bónus para o vencido de um desse golpes de estado era a permissão concedida pelos vencedores para a sua partida para um exílio muitas vezes dourado onde, ainda assim, os mais venais poderiam usufruir de um confortável pé de meia entretanto posto a bom recato na Suíça. O que mudou no entretanto que leva os militares zimbabueanos a manifestarem esta paciência de Job com os caprichos de Mugabe? A moda das relações internacionais, que entretanto deixou de achar bem a interferência dos militares nos processos políticos como acontecia durante o período da Guerra-Fria. Descarte-se a opinião pública, que neste caso não se imagina a sair em defesa de um ditador que ocupa o poder há 37 anos. E descartem-se as dificuldades operacionais para eliminar fisicamente Mugabe, que o mais fácil seria arranjar-lhe uma oportuna crise cardíaca ou então uma queda fatal nas escadas, coisa natural num velho de 93 anos (a idade de Mugabe).

16 novembro 2017

O CENTENÁRIO DO REGRESSO DE GEORGES CLEMENCEAU AO PODER

16 de Novembro de 1917. Em mais de três anos de guerra, a França já tivera cinco governos. O mais recente, chefiado por Paul Painlevé, durara apenas dois meses. foi nessas circunstâncias complicadas que o presidente da República Raymond Poincaré terá feito a aposta mais arriscada da sua carreira política: convidou o seu inimigo de estimação Georges Clemenceau para formar governo. Num momento de usura moral, em que uma parte da classe política francesa ousava dizer em voz alta que já não se podia contar com a Rússia e que a América chegava demasiado tarde, aquele que era alcunhado na política francesa como o Tigre e que contava então já 76 anos, parecia encarnar a última possibilidade de um sobressalto de energia da França, cimentado no facto dele capitalizar como mais nenhum outro político francês o ideal da desforra contra a Alemanha. Tido como um parlamentar temível, o discurso da posse do seu governo diante da Câmara de Deputados configura um estilo hoje datado, mas que se reconhece ao mesmo tempo pujante e gracioso, apesar dos cem anos em cima. Eis o início:
 
«Meus senhores, nós aceitámos formar governo para conduzir a guerra com um redobrar de esforços tendo em vista a melhoria do rendimento de todas as nossas energias.
Apresentamo-nos diante de vós com o pensamento focado numa guerra integral. Queremos que a confiança que vos pedimos em testemunho seja um acto de confiança em vós próprios, um apelo às virtudes históricas que nos fizeram franceses. Nunca a França sentiu assim tão nitidamente a necessidade de viver e de crescer no ideal de uma força posta ao serviço da consciência humana, na resolução de atribuir cada vez mais direitos aos cidadãos assim como aos povos capazes de se libertarem. Vencer para sermos justos, eis a palavra de ordem de todos os nossos governos depois do princípio da guerra. Este programa a céu aberto, mantê-lo-emos.
Temos grandes soldados de uma grande História, sob chefes que foram experimentados pelos desafios, animados por uma devoção suprema que fez o renome dos seus antepassados. Por eles, por todos nós, a pátria imortal dos homens, dona do orgulho das vitórias, prosseguirá com as mais nobres ambições da paz o que é o curso do seu destino.
Estes franceses que fomos obrigados a lançar na batalha têm direitos sobre nós. Eles querem que nenhum dos nossos pensamentos se esqueça deles, que nenhum dos nossos gestos os não tome em consideração. Devemos-lhes tudo, sem reserva alguma. Tudo pela França que sangra na sua glória. Tudo pela apoteose do direito triunfante. (...)»
 
Nascido de uma fuga para a frente do que parecia um impasse político severo, este governo de Georges Clemenceau, que foi dos seis durante a Grande Guerra, aquele que foi indigitado com uma maioria mais frágil (que os houvera com um apoio unânime da Câmara), irá cumprir a sua missão de sobreviver pelo próximo ano, até ao Armistício de 11 de Novembro de 1918, conferindo a George Clemenceau o estatuto de Pai da Vitória.

PARA OS ENTUSIASTAS DAS VIRTUALIDADES INESCAPÁVEIS DA INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL...

...o que eu lhes desejo é defrontarem-se com uma encrenca por causa de uma encomenda perdida da Amazon, encrenca essa proporcionada pela qualidade de serviço de um transportador como a SEUR espanhola. Aliás, mantenho que a associação de palavras contida na expressão qualidade espanhola faz tanto sentido quanto as expressões humor alemão ou modéstia francesa. Por causa da SEUR, o número de vezes que já me frustrei a embater contra demonstrações de obtusidade da tal de coisa artificial, já me levou a ter saudades daqueles call-centers que adivinhávamos instalados em Bangalore ou afins. Havia os tradicionais problemas de entendimento por causa dos sotaques dos interlocutores e raramente o problema era resolvido, mas era uma ineficácia embrulhada numa capa aparente de se ser prestável. Fiasco por fiasco, preferia aquela estupidez natural a esta inteligência artificial que, de inteligente só tem a alcunha... e o entusiasmo dos crentes.

15 novembro 2017

ISABEL DOS SANTOS: O FIM DE UM MITO?

Mas, afinal, Isabel dos Santos não vale todos aqueles bilhões que faziam dela uma das dez maiores fortunas de África? E uma das dez mais poderosas mulheres do Mundo? Quer dizer que foi só preciso o pai abandonar o cargo de presidente, para que o seu sucessor - e não esqueçamos que Angola é só uma potência regional... - pudesse, num par de meses, esvaziar Isabel dos Santos de toda aquela aparência de poder? É curioso constatar, com este exemplo cristalino, que, em querendo, a correlação de forças entre o poder político e o poder económico pode ser afinal linear. É uma questão de, como dizia Fernando Ulrich, eles também aguentarem...

PORQUE SERÁ QUE AS PESSOAS NÃO QUEREM SABER PORQUE SABEM AQUILO QUE NÃO TEM QUALQUER INTERESSE SABER?

Há perguntas que me parecem imperativas e injustificadamente ausentes: Quem é Kim Kardashian? E o que é que Madonna tem feito? E qual o interesse em alimentar estas patetices?

JOÃO O PÓSTUMO

15 de Novembro de 1316. Em França nascia e começava imediatamente a reinar o filho póstumo de Luís X o Teimoso (1289-1316) e de Clemência da Hungria (1293-1328). Sem que existissem as modernas ecografias, e com a morte inesperada de Luís X apenas com 26 anos no mês de Junho, todo o reino ficara suspenso por cinco meses para saber qual seria o sexo do bebé da rainha. Entretanto, o irmão mais velho do rei, Filipe o Comprido (1293-1322), assumira a regência do reino. E é com este enquadramento que se chega a este dia de há 701 anos, em que se fica a saber que a França tem um novo rei (se fosse uma menina, a questão política seria mais complicada pois havia um partido na corte disposto a invocar a lei sálica, que excluiria as mulheres da sucessão ao trono). Deram ao bebé o nome de João e assim seria o primeiro rei com esse nome a reinar em França. Mas, nesses tempos medievais, onde se registavam elevadíssimas taxas de mortalidade perinatal, João I o Póstumo (1316-1316) não estava destinado a notabilizar-se nos livros da História: morreu com cinco dias de vida, a 20 de Novembro e foi o tio a herdar o trono como Filipe V de França. Nos milhares de relatos dos feitos de um reinado que haja por esse mundo fora, dificilmente haverá outro que se possa reduzir o comportamento do monarca às funções mais elementares como as do reinado de cinco dias de João I de França: mamou, chorou e sujou algumas fraldas...

14 novembro 2017

NOVOS «PAPERS», MAS DESTA VEZ SEM PROMESSAS DE GRANDES REVELAÇÕES DO «EXPRESSO»...

Embora estejam a passar muito mais desapercebidos do que os seus antecessores do Panamá, tornou-se notícia uma outra gigantesca fuga de informações financeiras, expondo mais outros milhares de utilizadores das redes mundiais de offshores. Chamaram a estes os Paradise Papers. A fonte da fuga é a mesma da dos Panama Papers: o jornal alemão Süddeutsche Zeitung. Comparando esta com a precedente, o número de documentos desta fuga é superior (13,4 versus 11,5 milhões de documentos) embora o conteúdo informativo dos mesmos seja apenas um pouco mais de metade da anterior (1,4 versus 2,6 Terabytes de informação).
Mas, o que nos interessará à escala doméstica, é que não terão aparecido interesses portugueses entre as primeiras revelações, o que dispensará o Expresso de grandes promessas como aconteceu no ano passado (abaixo) e adivinha-se o suspiro de alívio de Pedro Santos Guerreiro, director do jornal, que por esta vez estará dispensado de fazer novamente figura de parvo tentando convencer-nos (sem grande sucesso) que, no capítulo das revelações, a montanha não havia parido um rato. Talvez por causa das baixas expectativas ainda acabe por pingar qualquer coisa em termos informativos...