09 abril 2017

O QUE IMPORTA LEMBRAR E O QUE IMPORTA ESQUECER NO CENTENÁRIO DA BATALHA DE ARRAS

9 de abril de 1917. Os britânicos desencadearam uma ofensiva designada por Batalha de Arras. Uma das componentes dessa batalha, que ganhou uma importância simbólica e uma designação própria, foi a ofensiva sobre Vimy Ridge (ao norte, no mapa abaixo) que representou a emancipação e a chegada à maioridade do exército canadiano. Sobre a batalha em si, que não se distinguiu metodologicamente das que a haviam precedido (duas semanas de bombardeamento prévio de artilharia a que se seguiu a ofensiva da infantaria a 9 de Abril), há a registar, para aqueles mais interessados, o primeiro emprego maciço, selectivo e em profundidade de um morteiro que disparava armas químicas: o projector Livens. Tendo conseguido localizar as concentrações dos animais de tiro dos alemães, os canadianos, talvez num acto de mercê para com os homens, concentraram nos animais o fogo das granadas de fosgénio (houve versões dos morteiros que vieram a ter um alcance útil superior aos 1.000 metros), matando a esmagadora maioria dos cavalos e com isso privando a artilharia inimiga de mobilidade e de novas munições. A surpresa táctica foi alcançada e isso reflectiu-se no sucesso das progressões que vieram a ser alcançadas no primeiro dia da ofensiva. Todavia, ficaram por resolver os problemas subsequentes que se haviam deparado a todas as ofensivas da Grande Guerra até aí: como manter a dinâmica da progressão das tropas e, sobretudo, como romper a linha defensiva adversária. Apesar das excelentes perspectivas iniciais, no fim desse mês de Abril de 1917, Arras tornara-se em mais um impasse.
Mas o mais interessante de notar é como a Batalha de Arras e o seu subepisódio de Vimy Ridge são evocados e recordados na actualidade (vejam-se os links para as respectivas páginas em inglês da Wikipedia), e como é mencionado - completamente en passant - e explicado - não é explicado... - o emprego das armas químicas e qual foi a sua importância para o desfecho inicial das operações... É preciso consultar um livro da especialidade (acima) para se compreender como os alemães foram surpreendidos nessa altura, e como há algumas verdadeiras faces da guerra a que se deixou de dar enfoque porque entretanto esses processos se tornaram politicamente incorrectos. A verdade singela é que, naqueles anos, os britânicos utilizaram a guerra química tanto quanto os seus inimigos alemães e tanto quanto os seus aliados franceses. Um exemplo da relação ambivalente da história com figuras dessas que agora se tornou inconveniente evocar, pode ser apreciada na página da Wikipedia que é dedicada ao tenente William Livens (1889-1964), o inventor do morteiro homónimo responsável pelo sucesso do primeiro dia da Batalha de Arras e que na foto abaixo vemos a posar orgulhoso junto da sua invenção. Parece-me ser o problema inverso ao de Werner von Braun, o alemão que, já na Segunda Guerra Mundial, foi um inventor de algo extremamente útil (os foguetões), só que pertencia às SS; William Livens, pelo contrário, parece que era só sócio do Royal Thames Yacht Club, mas a sua invenção mais conhecida é um embaraço...

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