27 abril 2017

AINDA O COMBATE DOS CHEFES

Este mapa, que foi buscar ao New York Times, mostra-nos o resultado das eleições presidenciais francesas de Domingo da forma geográfica canónica a que muitos se habituaram: os vencedores em cada círculo eleitoral recebem uma cor distinta e o conjunto da montagem dá-nos uma ideia das prevalências regionais. Neste caso, e por causa da distribuição das votações muito equilibradas pelos quatro candidatos principais, o efeito torna-se enganador. Na esmagadora maioria dos casos, o candidato mais votado registou apenas uma maioria relativa: recebeu ⅓ ou talvez um pouco mais dos votos expressos. As manchas acima estão, por isso, muito longe por isso de constituir os bastiões que se costumam referir quando da feitura destes quadros, de que um caso exemplar, até bem tarde na nossa Democracia portuguesa, foi o caso do Alentejo comunista. Podendo induzir em erro, o mapa também não mostra aquilo que considero importante concluir dos resultados: evidencia-se mais uma vez, aquela que é uma tradicional discrepância política entre Paris e o resto da França. Ela consubstancia-se na diferença significativa dos resultados alcançados pela candidata da extrema-direita à escala nacional (21,3%) e na capital (5,0%). As capitais não são regiões como as outras. São os domicílios dos órgãos de decisão política e judicial, sede dos principais interesses económicos, albergam os expoentes do pensamento intelectual e são responsáveis pela formação da imagem da sociedade por ali se localizarem os principais órgãos de comunicação social. E a formação da imagem dessa França institucional ocorre nesta cidade de Paris onde Marine Le Pen tem uma expressão eleitoral que é menos de ¼ do que acontece no resto do país. Será que a imagem é suficientemente rigorosa e não nos aparece por cá distorcida?
É que eu lembro-me das eleições de 25 de Abril de 1975. Só pelo resultado delas é que deu para perceber que existia para lá de Lisboa e da sua cintura industrial um outro Portugal que o poder político e a comunicação social da época não tomavam em conta... Até o Quim Barreiros do poste imediatamente abaixo ainda não havia descoberto onde estavam os seus verdadeiros admiradores...

Adenda do dia seguinte: Nem de propósito, o jornal Le Monde do dia seguinte ao da publicação do meu poste insere uma pequena análise sobre a distribuição da votação em Paris, com Fillon a vencer a Paris ocidental dos ricos, Mélenchon as periferias pobres, e Macron tudo o resto. O problema é que se tende a tomar Paris pela França e Paris não é a França.

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