14 abril 2017

A PIRA FUNERÁRIA DA HERÓICA CADELA LAIKA

Quando se tornara mundialmente famosa, a bordo do Sputnik 2 a 3 de Novembro de 1957, a cadela Laika representara muito mais do que um orgulhoso exemplar da raça canina russa. Era o socialismo que através dela triunfava, protagonizado apropriadamente por um rafeiro proletário como passageiro do segundo satélite que a pátria do socialismo, a União Soviética, colocava em órbita. Outros países com o mesmo regime associavam-se às celebrações em emissões filatélicas. Uma questão maculava porém a consagração das ciências soviéticas sobre a égide esclarecida e esclarecedora do socialismo científico: o destino de Laika. Nada pudera ser contemplado para recuperar a heroína da façanha, o máximo que se podia prometer aos espíritos mais sensíveis da opinião pública dos países capitalistas rivais era uma morte induzida e indolor em data não especificada. Soube-se, 45 anos depois do voo, que nem esse golpe de misericórdia fora necessário porque a cadela morrera logo ao fim de algumas horas no espaço, sendo as causas prováveis o sobreaquecimento da nave e o stress do animal sujeito às condições de imponderabilidade. Mas a efeméride que hoje se assinala, a 14 de Abril de 1958, é o anti-clímax do que se publicitara 3 de Novembro de 1957. Depois de 162 dias e de 2570 órbitas, a nave Sputnik 2, já desactivada mas ainda transportando o cadáver da Laika e que viera a perder altitude desde o início, desintegrou-se numa gigantesca pira funerária a que a comunicação social soviética, compreensivelmente, já não prestou a mesma atenção.

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