27 novembro 2016

«WHATABOUTISMO»

Por esta minha experiência, enganam-se os que asseguram que nada se aprende frequentando as redes sociais. A morte recente de Fidel Castro foi causa para que eu aprendesse que existe uma designação para uma técnica argumentativa dos simpatizantes da esquerda não democrática com que há muito e por muitas vezes me confrontei. A habilidade designa-se (em inglês) por whataboutism que eu tomei a liberdade de aportuguesar para whataboutismo. Evidentemente é uma falácia, mas funciona assim: quando se endereçam críticas a quaisquer aspectos negativos do comunismo (são muitos e Fidel Castro tornou-se um desses aspectos...) não se faz qualquer esforço em refutar essas críticas, e passa-se directamente para a contracrítica realçando um aspecto considerado negativo das sociedades ocidentais. Daí a designação: ...e então...? É assim que é perfeitamente normal discutirmos com uma dessas pessoas o percurso controverso de Pinochet sem que, por uma vez que seja, haja uma menção a Fidel, mas é impossível que aconteça o contrário: se o tema for a controvérsia à volta de Fidel, há a certeza que aparecerá uma invocação a Pinochet (ou então a Salazar, ou a Franco, ou...). Com comunistas, é possível criticar infindavelmente Pinochet sem falar de Fidel, mas é impossível criticar Fidel sem que Pinochet seja rapidamente convocado para a conversa. É também possível falar com eles dos campos de concentração alemães por horas a fio sem que se fale do Gulag, mas não há conversa a respeito do Gulag que se sustente por mais de um minuto sem que eles não venham logo falar de Auschwitz. E até depois da Queda do Muro, os fiéis dos fiéis, não resistem a meter sempre a colherada do 11 de Setembro chileno a despropósito, quando de qualquer evocação ao norte-americano. O antídoto ao whataboutismo é simples: ignorar a tentativa de desvio da conversa, voltar ao tema central como se não tivesse existido o último trecho da conversa. A minha experiência diz-me que, numa esmagadora maioria das vezes, esse tipo de reacção precipita o fim da conversa. Mas também é um momento esclarecedor: a conversa só parecia razoável e racional, na sua flexibilidade intrínseca. Conversar com um comunista destes assuntos, costuma equivaler-se à tida com uma testemunha de jeová de outros assuntos, como o da salvação eterna... Sobretudo, e a propósito das variadíssimas análises que tenho lido à vida e obra de Fidel Castro, é sempre reconfortante descobrir-se que a linha de argumentação se trata de um fenómeno cientificamente estudado.

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