15 novembro 2016

«SPECIAL RELATIONSHIP»?

A fuga que tornou público um recente memorando enviado pelo embaixador britânico em Washington para o seu governo, a respeito das consequências da eleição de Donald Trump, chamou a atenção para a posição equívoca do executivo conservador londrino, entalado entre as simpatias de (e por) Nigel Farage, o amigo das horas difíceis, e as antipatias censórias (previsíveis) expressas por Jeremy Corbyn na oposição. Onde é que pode então caber aquilo que em Londres tanto gostam de chamar special relationship?

4 comentários:

  1. Aquilo que eu mais gosto de observar neste pais, e a capacidade de encaixe, a capacidade de se fazerem golpes de rins sem sinal de desconforto ou esforco.
    E a eleicao do Trump e um dos exemplos mais acabados desta qualidade britanica.
    A mesma elite politica que insultava de forma mais ou (muitas vezes) menos velada o Trump candidato, a mesma elite que discutiu no parlamento (o parlamento de Westminster, convem lembrar, e um bicho bem diferente do parlamento de S.Bento e o soberano deste arquipelago, verdadeiro assento do poder) como dizia, discutiu no parlamento barrar a entrar do Trump candidato em territorio britanico. Esses mesmos, em menos de 24 horas passaram a falar acerca da relacao especial que se podera forjar, como isto sera igual aos tempos da Thatcher/Reagan, que o Trump president ate e bom rapaz e que os outros deviam de ser mais ponderados nas suas reaccoes.
    E o instinto para o negocio, a flexibilidade invertebrada que permite uma adaptacao sem igual a quase todo o tipo de imprevisto que o mundo possa inventar.

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  2. É engraçado isso que me conta. Em Virtual History (https://www.amazon.com/Virtual-History-Counterfactuals-Niall-Ferguson/dp/0465023231), um livro publicado em 1997 sob a supervisão de Niall Ferguson, em que o tema é precisamente o que teria acontecido em Inglaterra se a História tivesse corrido de maneira distinta ao que aconteceu, o capítulo dedicado ao Reino Unido ocupado por Hitler (England's Hitler p. 281-320) nunca me convenceu. O seu autor, Andrew Roberts, bem se esmera por convencer o leitor de que, caso tivesse acontecido a invasão, não aconteceria aquilo que descreve no seu último parágrafo.

    Mais. Porque seria provavelmente mais bem tratada, apostaria numa Inglaterra mais aquiescente aos desejos alemães do que a França.

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  3. Nao e precisa muita imaginacao para ver como a ocupacao do Reino Unido teria sido, pelo menos no sudeste, na Inglaterra. Observe-se como a ocupacao de Jersey e Guernsey ocorreu sem sobressalto. Observe-se como, facto pouco publicitado, nao houve Resistencia a implementacao das leis anti-semitas e como nao houve protestos quando finalmente a ordem de deportacao dos judeus chegou em 1942. Salvo erro 4 foram depostados, 3 de Guernsey e 1 de Jersey.

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  4. Numa boa parte do capítulo do livro a que acima me referi, o autor Andrew Roberts afadiga-se a desmentir a analogia que faz, entre as ocupações das ilhas do Canal e a hipotética ocupação da Grã Bretanha. Um dos seus argumentos mais "pesados" para as distinguir é a proporção entre os efectivos de tropas ocupantes e de habitantes civis, que foi de 37.000 soldados alemães para 60.000 civis, um rácio impossível de repetir na Grã-Bretanha propriamente dita.

    Pessoalmente, apostaria que o modelo de ocupação alemã do Reino Unido se assemelharia muito mais à civilidade das ocupações dos países da Europa setentrional (como os Países Baixos, a Bélgica, a Noruega ou a Dinamarca) do que às perturbações da Europa meridional (como a França ou a Grécia), esqueça-se o ambiente de campo de batalha que grassava na Jugoslávia.

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