01 setembro 2016

OS OPINANTES E OS COMPETENTES (1)

Eu gostaria que houvesse uma comunicação social em que, para além da promoção do conteúdo bombástico de algumas declarações, como as de Miguel Poiares Maduro que abrilhantam uma das páginas do Expresso on-line desta manhã, houvesse simultaneamente um escrutínio editorial sobre quem proferiu tão interessantes declarações. Quando Poiares Maduro apareceu na política portuguesa na Primavera de 2013, fê-lo com a aura de que gozam por cá os intelectuais estrangeirados, que são por definição excelentes desde há mais de 250 anos. Chegava num momento difícil para as hostes governamentais, em (parcial) substituição do estudante Miguel Relvas. Era difícil não simpatizar com a sua disponibilidade cívica. Mas um pouco mais de dois anos passados, Miguel Poiares Maduro regressava ao estrangeiro, sem honra nem glória. Aqueles famosos "fundos comunitários" de que fora fiel depositário, tinham sido objecto de uma intensa cobiça mas o ministro recusara "ceder a pressões" (veja-se abaixo) para que os critérios de atribuição dos dinheiros fossem mais soltos. Politicamente foi uma asneira: arranjou uma data de inimigos dentro da estrutura do próprio partido - nomeadamente autarcas. Administrativamente, foi outra asneira: em ano de batalha eleitoral, ele e a sua equipa arvoraram-se de um rigor burocrático tal que, quando o inimigo socialista ocupou o poder, descobriu que a execução dos fundos em 2015 havia sido de apenas 4,5%... Moralmente se calhar teria toda a razão em ter procedido como o fez, mas era um pouco como aqueles paióis de munições que se descobrem ainda estar cheios depois da batalha, apenas porque durante ela o almoxarife só deixava levantar o material com as requisições bem preenchidas e em triplicado... E concludentemente, se a execução (sob aquelas regras) fora aquela, os tais de fundos comunitários no formato em que nos haviam sido concedidos não serviam para nada...
Poiares Maduro voltou para o estrangeiro sem parecer deixar por cá saudades entre os companheiros do PSD. Significativamente, a tal história dos 4,5% de execução dos fundos comunitários nem sequer foi enfaticamente rebatida. Mas é agora, por falta de comparência de outros nomes disponíveis para se agregarem à volta de um Pedro Passos Coelho que parece frenético, mas em descrédito, que Miguel Poiares Maduro é recuperado por causa de umas coisas que disse na universidade de Verão do PSD. E se, política e administrativamente se revelou um nabo, como analista da actual situação europeia também não me parece muito convincente, esqueça-se lá o bombastismo* das suas declarações. Numa simplicidade que eu não garanto adequada, Poiares Maduro parece-me reduzir à condição de populistas todos os governos da União que não se têm mostrado conformistas. Parece-me que, por ele, a conformidade para com as decisões de um centro geográfico que se tem tornado progressivamente mais suspeito, são ainda o padrão a valorizar na definição da política europeia. Se calhar, o discurso estará ultrapassado e vai sendo tempo de ele mudar de opinião. Para mais, não me parece sequer que haja coordenação entre os quatros países proscritos que ele identificou (Grécia, Hungria, Polónia e Portugal) porque o falso traço de união entre eles será a defesa daquilo que cada um considera serem os seus interesses nacionais. O que está a enfraquecer a União Europeia, entre outras causas, será fundamentalmente o nacionalismo e Miguel Poiares Maduro parece ainda não se ter apercebido disso: transversal ao espectro político, na Grécia e em Portugal ele exprime-se pela esquerda, na Polónia e na Hungria exprime-se pela direita. E, se a sua carreira política já o indiciava, também no domínio da análise teórica não creio que as opiniões de Miguel Poiares Maduro, de tão descabidas, valham toda esta promoção...
* Neologismo, evolução do adjectivo bombástico.

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