11 março 2016

«BÜCHERVERBRENNUNG» MAS TAMBÉM «BOOKBURNING»


Nem foi preciso Indiana Jones para conferir notoriedade às cerimónias de queima de livros pelos nazis. Essas já todos conhecem de uma forma ou outra. O que será menos conhecido é que do outro lado do Atlântico havia quem, simultaneamente, se dedicasse à mesma tarefa e com igual zelo. A Sociedade Nova Iorquina para a Supressão do Vício (NYSSV) fora fundada em 1873 e nessa mesma década de 1930 em que se assistia à ascensão dos totalitarismos na Europa, nuns Estados Unidos cuja mitologia se pretende diferente da europeia (recorde-se o New Deal de F.D. Roosevelt a partir de 1933), o ideal e a prática da repressão daquilo que se publicava ainda se mantinha dinâmico coexistindo com a(s) censura(s) de aquém Atlântico. Ali, o enfoque podia incidir mais na moral do que na ideologia, mas os resultados das proscrições podiam resultar estranhamente semelhantes.
Nesta fotografia abaixo, datada de 1935, o dirigente máximo da Sociedade Nova Iorquina para a Supressão do Vício, John Saxton Sumner (1876-1971), acompanhado de Martin H. Meaney (1885-1970), o subcomissário da polícia nova-iorquina (NYPD), supervisionam a queima de livros considerados imorais que haviam entretanto sido apreendidos em várias buscas pelas livrarias da cidade. Entre os livros elegidos para a queima encontrar-se-ão obras de Erskine Caldwell, James Joyce (Ulysses esteve proibido nos Estados Unidos), D.H. Lawrence ou Oscar Wilde. Num remate final de ironia, ao contrário do que era a prática europeia, estes livros estão a ser queimados discretamente em fornos o que torna quase impossível, lembrando a semelhança com as fotografias dos fornos de Auschwitz, não lembrar a frase de Heine: «Onde se queimam livros, acaba-se queimando pessoas».
A Sociedade para a Supressão do Vício teve que mudar de nome logo depois do fim da Segunda Guerra  Mundial, adoptando uma designação mais simpática aos ouvidos da opinião pública, a de Sociedade para a Manutenção da Decência Pública, mas, mesmo assim, esta última extinguiu-se logo depois, em 1950, provavelmente por falta de activistas que se preocupassem em mantê-la, à decência pública. A partir daí, ou ela se manteria por si mesma ou seria indecente recorrer-se a métodos assim para a manter.

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