31 janeiro 2016

A INDEPENDÊNCIA E AS PRIMEIRA ELEIÇÕES «LIVRES» DE CABO VERDE

A cinco dias da data acordada para a independência de Cabo Verde (5 de Julho de 1975), mas um pouco mais de dois meses depois das primeiras eleições - efectivamente - livres realizadas em Portugal (as de 25 de Abril de 1975), o Diário de Lisboa noticiava discretamente a realização daquilo que qualificava como as primeiras eleições livres na colónia portuguesa em vias de se emancipar. Símbolo de uma tolerância ideológica que o tempo torna hoje ridiculamente inaceitável, as eleições livres(?) de Cabo Verde caracterizavam-se pela apresentação de uma única lista concorrente (a do PAIGC), sem qualquer outra opção de voto, algo que fora a característica das pretensas eleições(?) durante os 48 anos da ditadura do Estado Novo, e algo que fora enfaticamente renegado pelos portugueses em 25 de Abril com a sua afluência às urnas de 91%. Mas naquele caso, ou por ser quem era (o PAIGC), ou por ser para quem era (os cabo-verdianos), os problemas de consciência pela falta de pluralismo nem se pareciam colocar em quem redigia estas notícias. Por todo o lado brincava-se demasiado com as palavras sem que se apercebessem das implicações do que diziam: aqui abaixo Sérgio Godinho cantava que África é dos africanos, assim como hoje a extrema-direita lhe pode pegar nessas palavras de outrora e acrescentar que a Europa é dos europeus...

SOBRE A ACEITAÇÃO DOS RESULTADOS DA VONTADE DEMOCRÁTICA DO POVO, SOBRETUDO EM LETRAS MAIÚSCULAS

«BUT THIS IS TERRIBLE - THEY'VE ELECTED A LABOUR GOVERNMENT, AND THE COUNTRY WILL NEVER STAND FOR THAT!»
Há 70 anos a separar estas duas reacções aos resultados de dois actos eleitorais, mostrando como, a nível individual, as atitudes podem não ter evoluído nem um bocadinho. A senhora que se indignava no chique Hotel Savoy de Londres a 26 de Julho de 1945 diante da clara vitória eleitoral dos trabalhistas após o fim da Segunda Guerra Mundial (de que depois se perdeu a identidade), não se distingue em muito da argumentação que se lê a Maria do Céu Guerra imediatamente depois das eleições presidenciais da semana passada (24 de Janeiro de 2016). Ser-se de esquerda ou de direita é irrelevante. Em ambas se constata a evocação de um país que terá uma opinião convenientemente diferente da vontade livremente expressa pelos cidadãos que fazem parte desse país, que existirá autonomamente do seu povo. No primeiro caso, prevê-se que essa entidade abstracta não irá aceitar a nova realidade (will never stand for that) apesar do resultado das urnas, no outro constata-se quanto ela perdeu a oportunidade de mudar, causando a perdição de todos. Com muito choro e letra maiúscula, grande sensibilidade, mas, parece-me, nenhum sentido Democrático, o verdadeiro.

30 janeiro 2016

...UMA VERGONHA!

Parece ser uma tradição portuguesa firmemente enraizada a de valorizar acima de qualquer outro argumento aquilo que os estrangeiros pensarão de nós. É mesquinho. Há 75 anos (acima) o que nos poderia embaraçar seria a prosaica praga de mosquitos existente na região do Estoril; actualmente a putativa vergonha perante os estrangeiros ter-se-á sofisticado para a apreciação dos méritos do nosso orçamento de Estado, algo que nunca deverá ter passado pela cabeça do professor Salazar vir a acontecer. Sobre o delicado assunto, há que respeitar quem, internamente e no exercício dos mais elementares direitos de acção política, atacar directa e politicamente o documento, mas agora vê-lo a ser atacado escondido por detrás de uma falsa capa de jornalismo, isso sim, como método de combate político parece-me ser não uma, mas a vergonha, a de quem no jornalismo está mesmo a precisar de tomar vergonha na cara.

O «PATHOS» E O «LOGOS» DAS REDES SOCIAIS

Esta fotografia anda a ser partilhada pelo facebook como pretexto para uma insuperável manifestação de indignação para com o desinteresse das gerações mais jovens pelas artes. Uma corrente minoritária dispõe-se a interpretar a fotografia de forma diversa e avança com explicações plausíveis para que os jovens estejam a olhar para os seus phones em vez de apreciarem o quadro. Mas são escassíssimos os comentadores que no meio dos prós e dos contras se querem fazer úteis, identificando o quadro (A Ronda da Noite), o autor (Rembrandt) e a sua localização actual (o Rijksmuseum de Amsterdão). Nem vou especular quando dos que se decidiram a opinar sabiam de antemão qualquer daquelas três informações. Mas, mesmo sem a especulação, aquilo de que suspeito parece-me um aspecto pertinente do problema, para além de me parecer um exemplo emblemático de como os assuntos tendem a ser discutidos nas redes sociais.

29 janeiro 2016

ERRE ERRE (RR)

Ainda a propósito do magnífico soundbite de Jerónimo de Sousa na noite eleitoral, confesso que não consegui evitar o sorriso ao ouvi-lo referir-se despeitadamente à candidata mais engraçadinha e à opção do seu partido pelas formas sérias de fazer política. Como se o PCP não tivesse enveredado já por querer rivalizar com o Bloco (também) nesse campo, de que o exemplo mais flagrante é a promoção dada à deputada comunista Rita Rato (acima, à esquerda), eleita sucessivamente em 2009, 2011 e 2015. Rita Rato Araújo Fonseca de seu nome completo, funcionária do PCP, escolheu adoptar os seus dois primeiros nomes dobrando a consoante (RR) para seu nom de guerre. Terá mais impacto que outras opções (Rita Fonseca? - Rita Araújo Fonseca conotá-la-ia como uma deputada do CDS/PP...), torna-la-á mais identificável, mas a intensidade dos erres dobrados leva-nos a associações improváveis por causa da homofonia com nomes análogos. A primeira que faço é com Rute Rita, que era a assistente de Herman José num concurso da RTP de há muitos anos (A Roda da Sorte), nome com o qual o humorista passava o tempo a gozar (Crru Crru!). Outra associação, mais erudita e ainda mais antiga, é com Ratso Rizzo, vagabundo coxo de Nova Iorque, a personagem de Dustin Hoffman no filme O Cow-boy da Meia Noite... Eu bem sei que já se vai tarde para que a deputada comunista mude de nome, mas estou como o Baptista-Bastos - achei que devia dizer isto!... - tanto mais que o próprio Baptista-Bastos, também no domínio das consoantes dobradas, se deixa tratar por BB embora aí não houvesse qualquer possibilidade de o associarmos à Brigitte Bardot...

28 janeiro 2016

O MODELO NÓRDICO

Convenço-me que entre as razões que contribuem para ampliar o ultraje como está a ser acolhida a legislação sobre o confisco dos bens dos refugiados se prende com o facto da medida ter sido votada no parlamento dinamarquês (Folketing), um país escandinavo e não noutro qualquer. A Dinamarca, conjuntamente com os outros países nórdicos, sempre cultivou uma imagem internacional de benemerência vinda de uma sociedade que gozava de um padrão de qualidade de vida superior ao dos outros países. Só que essa superioridade material e também moral do modelo nórdico estará agora, ironicamente, a voltar-se contra quem a promoveu com tanta eficácia. Tanta, que mesmo fora da Escandinávia não se esperam atitudes egoístas como as que estão a ocorrer. As habilidades que seriam apenas compreensíveis se ocorridas noutros parceiros europeus, tornam-se particularmente chocantes, quando passa a ser a Suécia a anunciar que vai expulsar 80.000 migrantes. É curioso, e não vi isso devidamente destacado, o comportamento dos políticos locais perante tão grave problema: a votação do Folketing dinamarquês com 179 deputados que aprovou o controverso confisco dos bens dos refugiados teve o seguinte resultado: houve 81 votos favoráveis à lei, 27 desfavoráveis, ainda 1 abstenção, mas sobretudo 70 ausências significativamente oportunas. Estas últimas corresponderam a 39% dos parlamentares dinamarqueses. Mesmo contando com a revelação da política dinamarquesa que constituiu a famosa série televisiva Borgen, e sem ter a ousadia de especular o que os 70 deputados teriam votado se se dispusessem a ter estado presentes, é possível constatar quanto uma significativa parcela dos políticos de lá e de cá se podem equivaler na cobardia de se evadirem a mostrarem as suas convicções políticas.

AINDA MAIS UMA VEZ 1975 EM PORTUGAL

É engraçado como, tendo o 25 de Abril ocorrido em 1974 e tendo havido por muitos anos um enorme pudor em mencionar a data de 25 de Novembro, acabe por ser o ano de 1975 aquele que se tornou simbólico da Revolução. Este já não é o primeiro livro que se socorre do expediente de puxar ostensivamente o ano do PREC para a capa. E, dez anos depois da edição do primeiro livro desta nova fase de revisitação do período, Os Dias Loucos do PREC, o método de acompanhar compassadamente o dia a dia revolucionário através dos recortes da imprensa da época parece muito longe de se mostrar esgotado - neste caso privilegiadamente o Diário de Notícias de José Saramago, com o qual parece haver, de resto, um certo acerto de contas.
 
A melhor surpresa do livro será provavelmente o prefácio de Eanes. Está quase convencionado que, quando o tempo passa e os intervenientes mais importantes destes acontecimentos caminham para velhos, os seus depoimentos se tornam progressivamente mais benignos: os factores políticos em disputa perderam entretanto a importância e muitos dos outros protagonistas faleceram e há aquele disparate de parecer deselegante falar mal deles. A leitura dos acontecimentos que Eanes faz neste prefácio não tem nada, felizmente, dessa descrição previsível de octogenário clemente. Seja no cenário global, seja nos pormenores, Eanes parece ter um compromisso para com aquilo que ele considerará ser a Verdade. No primeiro caso, identificar os comunistas, fosse a sua ala militar - Vasco Gonçalves - fosse a sua ala civil - Álvaro Cunhal - como os únicos actores políticos antagonistas que sabiam o que estavam a fazer; o resto da esquerda revolucionária - com Otelo Saraiva de Carvalho - eram apenas uns joguetes exuberantes. Como exemplo do segundo caso, o de fazer reviver pormenores esquecidos, fez-me bem ser recordado que uma das razões que terá levado à aceitação pelos comunistas de Pinheiro de Azevedo como sucessor de Vasco Gonçalves foi a circunstância de o primeiro se ter comportado até aí como um dos mais entusiásticos gonçalvistas; só depois é que o viraram...
Quanto ao livro propriamente dito, ele beneficia com a libertação de documentação que fora até agora (2014) classificada... pelos norte-americanos, nomeadamente as actas deles de algumas reuniões de topo havidas com dirigentes portugueses ou internas, mas a respeito de Portugal. A transcrição da acta da reunião que Vasco Gonçalves teve a 29 de Maio de 1975 em Bruxelas com Gerald Ford e Henry Kissinger (acima, e na pp. 222 e ss.), por exemplo, é um portento de onde escorre uma ironia quase sarcástica nos comentários de Kissinger aos protestos de Vasco Gonçalves de que o governo em Portugal não fora tomado pelos comunistas («A complexidade do sistema que nos descreve vai muito além de tudo o que estudei em Ciência Política»; «Enquanto professor de Ciência Política, acho que nunca ouvi falar de um sistema tão complexo»; «Quem imaginou este sistema? Todos temos uma profunda admiração pela sua natureza complexa»). Das actas de outras reuniões percebe-se, ao contrário do que acontecia com Vasco Gonçalves, o respeito que os norte-americanos nutriam por Melo Antunes, apesar de ele ser um perigoso esquerdista, ou que o apoio financeiro aos socialistas nunca faltou, e que Soares chegou mesmo a prescindir do dos americanos porque o que os europeus lhe davam, chegava. Pena que não haja outras actas que nos digam o que se pensava nas capitais (como Moscovo) que apoiavam o outro lado. São estes livros que nos fazem lembrar a famosa frase de Baptista-Bastos - Onde é que tu estavas no 25 de Abril? - mas refraseada de uma forma que é capaz de fazer morrer alguns sorrisos - De que lado é que tu estavas no 25 de Novembro? Lembro-me de tantos nomes, que hoje querem passar por respeitáveis, que estiveram do lado errado...

27 janeiro 2016

PIOR QUE LANÇAR FOGUETES ANTES DA FESTA

A intervenção da ex-ministra pode ser um sucesso para arregimentar os apaniguados mas torna-se um desastre político se o objectivo considerado for o de persuadir os neutros. Não é apenas a precipitação de ela estar a lançar os foguetes antes da festa, como diz o ditado popular. É que já não lhe competia lançá-los e ela só beneficiaria se alguém mais afastado e com crédito o tivesse feito atempadamente por ela. Ou como diria o outro ditado popular com foguetes, lançou os foguetes e até quis apanhar as canas. Mesmo que hipoteticamente tenha razão (algo que duvido, precisamente por causa disto), este auto-elogio descabido e prematuro de Maria Luís Albuquerque acaba por dissipar o interesse por uma discussão técnica quanto às virtudes da execução orçamental de 2015 e tranferi-la para o domínio do comportamento político, colocando o ónus da prova em si, levantando suspeitas sobre que impactos da revelação dessa execução ela quererá atenuar com este gesto. E depois, para o folclore e ainda por cima, há a história da devolução da sobretaxa do IRS...

SENDO A GLOBALIZAÇÃO GLOBAL, SERÁ ELA EQUILIBRADA?

Em pleno mês de Janeiro deu-se o acaso de coincidir aquilo que foi designado por uma vaga de frio que abrangeu todo o Extremo Oriente (mas concentrando-se sobretudo na China) com aquilo que foi baptizada por tempestade de Inverno na América do Norte (concentrando-se sobretudo no Leste dos Estados Unidos). Apesar das designações, a primeira afectou muitos mais milhões que a segunda e também terá provocado mais desastres pessoais, a atender aos relatos, mas a distinção de como a nós, europeus, observadores equidistantes, chegaram as notícias de um e outro episódio, é uma constatação que, no que diz respeito à informação, ser qualificada de global não é sinónimo de ela ser equilibrada. É que a neve que incomoda um norte-americano terá para nós a mesma importância que o tiritar de um chinês e fartámo-nos de ver dos primeiros e quase nada dos segundos...

26 janeiro 2016

A NOITE DAQUELES QUE «FAZEM OPINIÃO»

A noite eleitoral do passado Domingo teve mais derrotados dos que aqueles que foram identificados pelos múltiplos painéis de especialistas da feitura de opinião que se desdobraram a analisar e comentar os resultados por tudo o que era órgão de comunicação social. O problema é que muitos desses derrotados teriam que fazer um julgamento em causa própria. Assim, e apenas para dar um exemplo a que já aqui me referi anteriormente no blogue, houvesse justiça na Terra e Ricardo Costa teria sido obrigado a comparecer no estúdio com um nariz vermelho de palhaço (abaixo), porque o escrutínio dos votos estava a dar-lhe 152 mil razões para responder à questão que ele tão arrogantemente colocara dias antes, para que ele finalmente percebesse o que é que o Tino de Rans estaria a fazer na festa dos 15 anos da SIC Notícias...
Mas Ricardo Costa, com José Manuel Fernandes ou Paulo Baldaia, embora unidos numa mesma actividade a tantos outros, fazem parte de um grupo distinto de analistas/comentadores daquele que engloba João Marques de Almeida, outro exemplo de visionário arrogante que escolhi para destacar neste texto. Licenciado em Relações Internacionais pela Lusíada, Mestre também em Relações Internacionais por Kent e Doutorado ainda em Relações Internacionais e Ciência Política pela LSE, Marques de Almeida faz parte de um grupo qualificado academicamente que, quando escreve asneiras (e é apreciar a profecia que lemos acima...), fazem-no de cátedra, enquanto que os outros (Costa, Fernandes ou Baldaia), por falta de tais atributos, fazem-se passar por catedráticos... da asneira. Para comparação, considero João Marques de Almeida o outro lado da moeda de uma outra opinadora qualificada como Raquel Varela: ao contrário daqueles outros, não questiono a legitimidade da promoção que a comunicação social dá às ideias de um e outra, têm a qualificação académica para isso, mas confesso que, em certas ocasiões, fico com uma grande vontade de pedir responsabilidades a quem lhos conferiu, aos tais graus académicos...
 
Mas concentremo-nos finalmente no artigo de opinião acima, um que exemplifica a atitude daquele quadrante político que, à direita engoliu a candidatura (e agora a vitória) de Marcelo a custo. O artigo foi escrito há um pouco mais de dezoito meses, e nele João Marques de Almeida antecipava, prescientemente, que o homem não se ia candidatar. E mais, se o fizesse, perdia. Não se impressionem mal que o Doutor Marques de Almeida é pessoa de convicções sólidas e de profecias concretas: por essa mesma altura antecipava o fim do bloco de esquerda, uma ideia inovadora que à época até se desvalorizara de tão banal. Ultimamente vimo-lo a dar uma pirueta argumentativa total, o problema é que nunca deu a mão à palmatória. Quem ler o que escreveu já este ano, fez de Catarina Martins a primeira das personagens políticas em 2016 e elogiou Marcelo: «Rebelo de Sousa foi o único candidato que percebeu que deveria fazer campanha para a maioria de indiferentes». É um cromo! Mas como o ridículo é chato, uma coisa aprendeu entretanto: agora coloca um ponto de interrogação a seguir aos seus vaticínios - O fim de Merkel? é o título da sua última crónica no Observador. Não fosse cá por coisas e isto seria o certificado de mais dez anos de Merkel no poder.

DEPOIS DAS FESTAS - A CONTA

Agora que se encerrou a campanha eleitoral e que se levanta o problema para certas candidaturas sobre quem pagará as despesas de campanha, começo por achar deliciosa a ironia de quem se consideraria disponível para ajudar Paulo de Morais, não fosse o receio de que o próprio Paulo de Morais o considerasse corrupto, por estar a corromper um político dando-lhe dinheiro...
No mesmo espírito, torna-se adequado ir buscar este desenho com 110 anos de Manuel Gustavo Bordalo Pinheiro intitulado Depois das Festas - A Conta. O pretexto para a sua publicação em A Paródia foi a visita a Portugal de Eduardo VII, o monarca britânico, e o espavento associado, que se percebe pelas rúbricas da factura, onde se contam detalhes da espontaneidade como:
- Quatro vivas isolados na Rua do Ouro
- Um dito à esquina do Rossio
- Um desmaio na Calçada da Pampulha
- Uma salva de palmas da Liga Naval
- Pago ao sr. Taveira por 6 ensaios de um pombo destinado a pousar no coche da rainha de Inglaterra
E, ainda nesse mesmo espírito, o que eu não tenho a certeza é se, mutatis mutandis, Marcelo Rebelo de Sousa terá tido necessidade de pagar por - Uma perseguição ao automóvel onde viajava o presidente eleito feita por várias motorizadas com cameraman...

LAWRENCE E O SOM DAS AREIAS DO DESERTO


Estou convencido que o leitor concordará comigo que a inesquecível música de Lawrence da Arábia combinará perfeitamente com a paisagem desértica inicial, mesmo depois de o informar que o deserto em causa fica em Marte e que os trilhos deixados na areia são do rover Curiosity...  

25 janeiro 2016

OS VINHOS DA CONSOADA

Continua a intrigar-me esta capacidade para as pessoas se exporem excessivamente no facebook. Elas podem dizer-nos imenso e, por vezes, mais do que aquilo que os visados quereriam. Estas duas fotos são dos vinhos da consoada de dois utilizadores que as publicaram no Natal e que eu aguardei pacientemente que se escoasse um mês para que a própria mecânica do facebook tornasse mais cansativa a tarefa da identificação dos autores. Sendo o tópico o mesmo repare-se o contraste, a começar logo pelo local da fotografia, a bancada da cozinha e com as garrafas aparentemente ainda por abrir no caso acima, já na sala, abertas, com o devido cachecol, toalha e uma vela a enfeitar no caso abaixo. Em qualquer dos casos intriga-me a multiplicação das escolhas (três tintos e, no caso abaixo, ainda mais um verde?), tendo em conta que se está a escolher o vinho para uma ou, quiçá, duas refeições. E depois há as escolhas. O budget do escanção que tirou a fotografia abaixo foi decerto um múltiplo do da fotografia acima. Este último, o da foto superior, ao exibir-se no facebook, pretenderá ser reconhecido pela sua sapiência, exibindo aquilo que consideraria a melhor relação entre preço e qualidade. Confere com a informalidade de nos mostrar a sua cozinha. Em contraste, o autor da foto inferior parece ter jogado por aquilo que ele considerará mais seguro e apostado no que haveria de mais impressivo em termos de rótulos. O que também confere com o engalanamento como os exibiu. Não sei se qualquer deles terá ficado com a consciência do que, agindo como o fizeram, puderam dar a serem lidos nas suas pretensões, como acabei de o fazer...

O VELHOTE VALE MEIO PITBULL ZICO

Tendo recolhido quase 39.000 votos, os resultados da candidatura de Henrique Neto foram um desapontamento. Acreditava eu sinceramente que o velhote, apesar da sua atitude consistentemente antipática, recolheria as simpatias de mais portugueses, tomando em consideração essa que é minha referência quantitativa da intervenção cívica em Portugal, a petição pública contra o abate do pitbull Zico com as suas 80 mil assinaturas. Descubro agora que Henrique Neto vale metade de um pitbull e, para explicar a diferença, nem se poderá colocar a questão da atitude e/ou da fotogenia, porque, mau grado a retocada foto abaixo, os pitbulls nem sequer são uma raça canina bonita ou simpática. Em contrapartida e, ainda assim, Henrique Neto recolheu marginalmente mais alguns votos do que as assinaturas apostas numa outra petição pública, a que pedia que se preparasse a reestruturação da dívida para crescer sustentadamente (35.000).

Uma das boas consequências da minha decisão de há umas eleições atrás, a de passar a votar linearmente sem me deixar condicionar por aquilo que acreditava serem os cenários eleitorais, é que a nova atitude transformou-me as digestões das derrotas daqueles em quem votei em exercícios muito mais sãos, dispensando as tabletes anti-ácidas. Mas não prescindo de um último ferrete, que uma das minhas motivações para o voto neste velhote foi a de marcar a distinção para com os outros velhotes. E o ferrete consiste em, partindo dos 39.000 votos de Henrique Neto, perguntar qual será a audiência real das estrelas do pessimismo, dos programas televisivos de Medina Carreira ou dos comentários episódicos de António Barreto? Note-se que não pergunto quantos são os que têm a televisão lá sintonizada; pergunto por aqueles que compreendem o teor do que está a ser dito para além daquela impressão geral que se está a falar mal de tudo.

24 janeiro 2016

AS «VERDURAS» DAS FISCALIDADES VERDES DOS MINISTROS VERDES

A história de taxar os sacos de plástico a doer, que obrigou os portugueses a alterar os seus hábitos de consumo, obrigando-os a passar a ir fazer compras aos supermercados acompanhados de uma catrefada de sacos, está em vias de perfazer um ano. O Observador de 20 de Janeiro de 2015, por exemplo, não escondia as suas conhecidas inclinações pró-governamentais, falando de uma guerra dos sacos de plástico que estava a ser travada pelo ministério do Ambiente contra os comerciantes. A tal guerra inserir-se-ia no quadro de uma ofensiva mais vasta denominada Fiscalidade Verde, que estava a ser patrocinada pelo mesmo ministério e de que a imagem mediática era o ministro, Jorge Moreira da Silva, acima retratado. Um latecomer ministerial, admitido quando da remodelação irrevogável de Julho de 2013 e tendo ficado com a parte do superministério de que Assunção Cristas não conseguia dar conta, Jorge Moreira da Silva representa o paradigma (palavra de que agora se abusa) do jotinha (neste caso JSD) quando chegado à maturidade: a especialização numa causa (a do ambiente, vulgo verdura) que é politicamente incorrecto criticar; uma grande sensibilidade às photo-ops (vejamo-lo abaixo a abastecer uma viatura de um combustível qualquer que sabemos cheio de predicados ambientais) e um cuidado irrepreensível com o tratamento da sua imagem (as notícias a seu respeito atribuem-lhe invariavelmente uma competência que depois não se consubstancia: Jorge Moreira da Silva é competente... porque é competente).
Mas regressemos aos sacos de plástico e sobretudo à Fiscalidade Verde que, provavelmente por ser verde, parecia revestir-se de uma benignidade que as outras fiscalidades não possuem aos olhos de um qualquer contribuinte e que, para além disso, era publicitada e aparecia como a menina dos olhos do ministro quando da sua introdução (a da taxa), em 15 de Fevereiro de 2015. Em concreto, o que a competência apresentava era uma win win situation: a nova taxa sobre os sacos de plástico iria não apenas disciplinar os portugueses arredios à sensibilidade ambiental como constituiria uma fonte de receitas fiscais à custa dos que se deixassem desleixar. Seguidor atento da operação e confidente do ministério, aquele mesmo Observador que não hesitara em tomar partido quando da guerra dos sacos de plástico, dava conta do sucesso alcançado, ao noticiar em 8 de Abril de 2015 que, mês e meio depois da sua introdução, o Estado já encaixara 1,6 milhões de euros com (a taxa sobre) os sacos de plástico, prevendo-se que a arrecadação até ao final do ano atingiria os 40 milhões de euros. Ora, mesmo que Jorge Moreira da Silva tenha abandonado o ministério nem há dois meses (a 26 de Novembro, para ser preciso), parece-me mais do que razoável que recaiam sobretudo sobre si as responsabilidades políticas da execução desse programa das taxas sobre sacos de plástico, de que o mesmo ministério do Ambiente recentemente prestou contas: o Estado terá encaixado afinal apenas 1,5 milhões de euros dos 40 originalmente orçamentados para 2015, uma taxa de execução de 3,75% e, antecipando-me ao que o leitor possa estar a pensar, não, já não foi no Observador que se pôde ler esta última notícia...
Ironizando com a palavra verde, que parece ser palavra chave em toda esta confrangedora situação, a haver verdura ela terá sido a do ministro competente e também a da equipa de economistas por si escolhida para estimar qual seria o volume de receitas fiscais geradas pelas medidas de Fiscalidade Verde que pretendiam implementar. A confirmar-se esta ridícula taxa de execução (3,75%!), então é indício seguro de que eles não faziam a mínima ideia de qual seria o comportamento dos consumidores, do que é que era a realidade onde intervieram... Esta última música, evidentemente por ser verde, é-lhes dedicada, ao Jorge Moreira da Silva e a quem ele encarregou de trabalhar no orçamento de receitas das taxas com sacos de plástico...

TV NOSTALGIA - 85

Com a proliferação das aparelhagens individuais que também fotografam, o que eu estranho é que não haja uma cobertura mediática mais intensiva a episódios como o supra. Será, creio, mais por falta de publicitação do que por falta de cobertura, que as imagens de profissionais de saúde a dormir (literalmente) na forma a altas horas da madrugada devem abundar por aí. E isso acontecerá talvez porque a publicitação destas cenas desfará o mito, criado também pela média (mas que aproveita sobretudo à reputação dos que lá servem), que nas urgências de um hospital vive-se sempre a um ritmo de frenesim ao jeito da saudosa série televisiva ER (abaixo). Muitas vez acontece mesmo, sobretudo quando as urgências se tornam notícia de primeira página de jornal. Mas outras vezes são de uma pacatez de dar vontade de não chatear o médico (acima, à direita), coitado... E os doentes que por ele aguardam, já agora, porque não esperam mais uma horita ou duas?

23 janeiro 2016

TV NOSTALGIA - 84

Hoje é dia de reflexão, não se pode falar das eleições presidenciais. Esta série de televisão, dos inícios da década de oitenta, tinha por protagonista o Plastic Man. Ainda antes da palavra plástico ter uma conotação poluente e negativa. Plastic Man era um super-herói com a capacidade de fazer o seu corpo adoptar as mais variadas formas. E ao contrário de outros super-heróis as suas aventuras não eram para ser levadas totalmente a sério. Não me lembro se houve algum episódio onde ele tivesse penteado alguma cabeleireira, mas lembro-me que tinha uma namorada loura (chamada Penny) que aparecia sempre muito bem penteada.

PORTUGAL MERECE MELHOR DO QUE ISTO

Se recentemente me referi à mediocridade das opiniões de Paulo Baldaia e aos critérios insondáveis que levam à promoção de tais nulidades ao estatuto de destaque entre os fazedores de opinião, não quis ser exaustivo no elenco de tais figuras medíocres, identificando quem eu consideraria digno de emparceirar com o ex-director da TSF. A lista seria cruel além de potencialmente injusta como o são todas as listas, malignas ou benignas. Mas o título deste artigo de opinião acima de José Manuel Fernandes, publicado pelo Observador de ontem, ter-me-á feito algo, precisamente mudado a opinião que eu fizera, sozinho, sem a ajuda dos Baldaias. Mas talvez ultraje descreva melhor a minha reacção à passagem que incluí acima e que começa por ...retórica barroca e que se alonga em considerações sobre o candidato Sampaio da Nóvoa. Formara eu a minha opinião que Paulo Baldaia é um merdas mas que se consegue esquivar a julgamento mais severo porque, como outros, é um merdas de esquerda. E José Manuel Fernandes, por ser um merdas de direita que ainda por cima veio da - e traiu - a esquerda apanharia pelos dois e dos dois lados, por ser um trânsfuga. Afinal enganei-me. Afinal toda a traulitada que ele apanha será merecida: José Manuel Fernandes é pretensioso, é petulante, é um merdas, é de direita e além disso é rasca. Não é só por causa do que ele escreve acima sobre os títulos académicos de Sampaio da Nóvoa (que será factualmente falso), é aquilo que ele acima insinua sobre os três ex-presidentes da República, qualquer um deles predisposto a deixar-se seduzir por um qualquer doutoramento honoris causa¹ dado pelo ex-reitor. Escrevo isto com o distanciamento de quem, nestas eleições, não vai votar em Sampaio da Nóvoa. Mas o outro isto a que Fernandes não se refere, pegando no título sobre aquilo que Portugal merec(er)ia melhor, é pior porque é endémico e perpetua-se. Ele refere-se aos candidatos presidenciais mas a campanha eleitoral já acabou. Amanhã contudo, à hora do encerramento das urnas, aí estarão de volta os omnipresentes fazedores de opinião como ele e o Baldaia & Friends (a propósito: em que canal aparecerá José Manuel Fernandes?), concebendo-se quase todos (e discursando) como sendo a nata da opinião portuguesa. E porque, quase todos engajados, de engajamentos conhecidos e de discurso previsível, já sabemos o que quase todos vão dizer, ora aí sim, e porque nem sequer se sujeitam a qualquer tipo de escrutínio, Portugal merec(er)ia (muito) melhor que isto...

¹ José Manuel Fernandes estaria decerto muito distraído para não ter notado, por exemplo, que em 2006 Eanes fez o seu doutoramento na universidade de Navarra. Admitamos que, tendo trabalhado para receber um doutoramento canónico, é, no mínimo, estranho deixar-se lisonjear da forma sugerida por ter recebido um honoris causa...

22 janeiro 2016

AS CALÇAS QUE MARCELO PUSERA A SECAR E A MANDATÁRIA QUE, APRESENTADA COMO TAL, AFINAL NÃO O É

Na biografia de Marcelo Rebelo de Sousa de Vítor Matos pode ler-se uma história engraçadíssima a seu respeito, numa ocasião em que algo acontecera às suas calças que, molhadas, precisaram de ser postas a secar, enquanto se aproximava a hora de uma audiência com o embaixador do Irão que o visitava na sede do PSD enquanto presidente do partido (estou a sintetizar de memória). Temos então a cena de um Marcelo em cuecas no seu gabinete enquanto se buscavam soluções alternativas para o evento que não poderia decorrer com o presidente naqueles propósitos. A começar pela proposta mais imediata (e, com celeridade, recusada) de que o secretário (José Luís Arnaut) cedesse patrioticamente as suas calças ao chefe. Perante a recusa obstinada de Arnaut, a situação acabou sendo ultrapassada com Marcelo a receber o embaixador acantonado por detrás da sua secretária que lhe escondia as pernas nuas e com um embaixador iraniano previamente brifado que, devido a umas obscuras regras protocolares (recém inventadas), o presidente do PSD em circunstância alguma se levantava da sua secretária quando de audiências como a que iria ter lugar...
Se esta deliciosa história me retornou recentemente à memória foi por causa do episódio da mandatária da sua campanha, uma mandatária nova (29 anos), desconhecida e expatriada chamada Maria Pereira, aqui acima apresentada por Marcelo quando da inauguração da sede da campanha, que teve o seu momento de (in)visibilidade quando não apareceu num debate que uma televisão organizou com os vários mandatários nacionais. O episódio fez-me lembrar as calças de Marcelo porque vim a descobrir que a mandatária... afinal não é a mandatária. O mandatário é outro (Fernando Manuel Cardoso da Fonseca Santos) conforme se comprova pelo mapa da Comissão Nacional de Eleições (CNE). Não é grave, mas é Marcelo em todo o seu esplendor - É proibido! Mas pode-se fazer! O que eu tenho pena é como o bloco da comunicação social terá deixado escapar o pormenor (ao contrário das redes sociais), numa indicação da sua incompetência para acompanhar as futuras tropelias do próximo inquilino do Palácio de Belém, que serão decerto capazes de gerar cenas cómicas em lugares respeitáveis verdadeiramente dignas dos filmes do irmãos Marx.

EVIDÊNCIAS QUE O DISTANCIAMENTO TEMPORAL NOS PREDISPÕE A ACEITAR MELHOR

Sete meses antes das eleições legislativas, Pedro Passos Coelho deu uma entrevista ao Expresso, de onde o jornal aproveitou para cabeçalho a sua promessa de que se iria bater por uma maioria absoluta. Mais do que isso, de entre as ideias mais fortes então formuladas e destacadas para acompanhar o cabeçalho, estavam a de que não ter um governo estável podia ser um perigo e a de que não fechava porta alguma, nem sequer a um bloco central. Lembro-me que no momento a história da maioria absoluta foi levada pelos seus apoiantes e adversários políticos à conta de uma bravata. Mas, por esta vez, adoptemos o princípio salutar que o primeiro-ministro queria dizer aquilo que disse e que o Expresso destacou, e comparemo-lo com o que veio a acontecer posteriormente em Outubro, e que tanta celeuma levantou. Que se ia bater por uma maioria absoluta - e não a alcançou. Que não ter um governo estável podia ser um perigo - e isso viu-se logo na posse do seu, quando foi rejeitado. E que não fechava a porta sequer à formação de um bloco central - o que é difícil de aceitar quando participou nas negociações sempre com o CDS de arreata, atitude que em si esvaziava de propósito a centralidade do bloco a constituir. Quando os ânimos se acalmaram e já se terão interiorizado as frustrações de perder o poder, mas quando permanece a lucidez de reconhecer que a solução governamental encontrada é também extremamente frágil, aceite-se compungidamente que bem se pode aplicar a Pedro Passos Coelho neste caso o velho ditado popular: pela boca morre o peixe...

21 janeiro 2016

JÁ NÃO HÁ DEBATES COMO DANTES...

Já nem era preciso reunir dez (nove, que Maria de Belém fez luto...) candidatos à presidência da República para que a constatação fosse óbvia: já não se «debate sobre situação política actual» (ou qualquer outro tópico...) com a veemência como se fazia nos tempos do PREC. No caso do evento anunciado acima, o local escolhido para a peleja foi a Escola Nuno Gonçalves e, apesar de bem vinda, era irrelevante a presença da comunicação social, especialmente a televisão, rara naqueles dias. Era a arte da argumentação pelo prazer da prática. A escolástica revolucionária. A sociedade evoluiu, as audiências voltaram ao seu hobby de sempre, o futebol, e os protagonistas também adoptaram novo comportamento: Ferro Rodrigues pelo MES, António Vitorino pela FSP, Isabel do Carmo pelo PRP-BR, para dar três exemplos de três figuras destacadas de cada uma das organizações convocadas que bem poderiam ter estado no tal debate, aburguesaram-se todos. Nos dias que correm não me surpreenderia vê-los alinhadamente unânimes no apoio a Sampaio da Nóvoa num daqueles almoços - e desde quando é que os verdadeiros revolucionários têm tempo para almoçar?... - de campanha.

O HOMEM CERTO

A notícia da nomeação do eurodeputado socialista Carlos Zorrinho para a comissão de inquérito sobre as emissões poluentes dos construtores automóveis é uma excelente notícia. É o homem adequado. Recorde-se que Carlos Zorrinho será um dos poucos vultos políticos portugueses agora destacados em Bruxelas com uma reputação firmada sobre os mais variados assuntos relativos ao sector automóvel, tendo-se notabilizado há cerca de três anos, no período mais agudo da crise, por nos ter explicado no facebook as economias representadas pela utilização pelo seu grupo parlamentar de um Audi 5 quando em comparação com um BMW 5, explicação tão bem dada («...deixei de puder usar em serviço um BMW 5 para usar um Audi 5 porque era significativamente mais barato») que a comunicação social lhe deu a devida cobertura... Agora a sério: há algo de injusto quando houve o episódio dos brioches da Maria Antonieta que se tornou famoso e depois há estes gajos que demonstram uma sensibilidade social equivalente e que lá se vão esgueirando pelo pingos da chuva...

DEBOCHE IMPERATIVO

Recolhido num parque. Sinal de trânsito com indícios de pouca ortodoxia. Trata-se do verbo pinar e de um convite (algo insistente) a fazê-lo. Pela forma, tanto se pode tratar da terceira pessoa do plural do presente do conjuntivo quanto - tempo que preferimos... - da segunda pessoa do plural do imperativo. Neste último caso, um assertivo convite ao deboche generalizado... A responsabilidade será de algum maroto do INEM com uma daquelas fantasias crapulosas em parques de estacionamento.

20 janeiro 2016

«LES BEAUX ESPRITS SE RENCONTRENT»

Sarah Palin, a antiga governadora republicana do Alaska e candidata à vice-presidência nas eleições de 2008, surge aqui nesta foto a apoiar publicamente o candidato Donald Trump, num comício que ontem teve lugar no Iowa. A cena é do mais americano que pode haver. Os fotografados representam a quintessência desse americanismo que, por exemplo, uiva para manifestar o seu júbilo, atitudes que o resto do Mundo nunca entenderá. E contudo só nos surge uma expressão bem francesa para legendar a cena: Les beaux esprits se rencontrent... Paradoxos.

UM TRIBUTO AO VELHOTE... PRECISAMENTE POR NÃO FAZER COMO O STATLER E O WALDORF

Numas eleições presidenciais que considero - infelizmente - estarem decididas de antemão, essa circunstância liberta-me a consciência para decidir o voto de acordo com outros critérios que não a selecção da identidade do próximo inquilino do Palácio de Belém.
Há uma meia dúzia de anos, talvez um pouco mais, que um núcleo de figuras de idades veneráveis, promovíveis ao estatuto de senadores, se tem destacado, com a conivência de alguma comunicação social, por preverem a decadência e o fim do mundo.
Mas não será pela gravidade apocalíptica do que dizem que os vemos disponíveis para, como os dois velhos dos Marretas, saírem da frisa do camarote de onde mandam as suas bocas para regressarem ao palco, tentando implementá-las. A excepção é Henrique Neto.
O meu voto será um voto de respeito pela atitude consequente de Neto. E o somatório de votos considerá-los-ei o fosso que separa quem se empenhou (como ele) daqueles que fizeram do tremendismo um novo estilo do pensamento político-económico...

19 janeiro 2016

A DIALÉCTICA DAS EXPECTATIVAS GORADAS DA ECONOMIA SOVIÉTICA, A PROPÓSITO DAS EXPECTATIVAS GORADAS DO PROJECTO EUROPEU.

No quinquénio de 1966 a 1970 a economia soviética cresceu ao ritmo médio de 4,1% ao ano. No que se lhe seguiu (1971-1975), esse ritmo decresceu para os 3,2% anuais. E no segundo quinquénio dessa década (1975-1980), a economia soviética, referência económica do campo socialista, acabou por vir a progredir a uma média de crescimento situada à volta de uns medíocres 1,0% anuais. Esta crise da desaceleração do crescimento económico (em 1973, a economia mundial crescera a 6,2%) não era percebida como tal pelo cidadão comum mas era evidente para os economistas soviéticos: o período ficou a ser conhecido pela estagnação brejneviana. Apesar das proclamações dos jornais de cá, a desaceleração do ritmo de crescimento da economia soviética muito antes de ela atingir níveis em que se pudessem equiparar aos níveis registados pela potência rival norte-americana tornava-se um problema preocupante, mais ideológico até do que económico, tanto mais que se entrava pelos anos em que os maiores dirigentes soviéticos do passado (a começar por Nikita Khrushchev) haviam prometido ostensivamente que essa paridade iria ser alcançada e mesmo ultrapassada. Há 40 anos a imprensa portuguesa dominada pelo PCP embarcava acriticamente (mais uma vez...) na promoção dos artigos de propaganda soviética a respeito do milagroso ressurgimento da sua economia para recuperar esse atraso. A edição de 24 de Janeiro de 1976 do Diário de Lisboa antecipava um período de crescimento intensivo da economia soviética, concretizado em crescimentos de 5,4% do rendimento nacional, 43% da produção industrial, 7% da produção agrícola. Infelizmente, como já acontecera no passado e acrescendo à clarividência de quem já conhece a continuação da história(...), todos aqueles números não passaram de piedosas intenções para serem discursadas durante as reuniões do Soviete Supremo.
Mudando substancialmente de assunto e indo consultar a página 54 do Documento de Estratégia Orçamental (DEO) que foi elaborado em Agosto de 2011 para incorporar as previsões dos impactos que viriam a ter na economia e nas contas públicas portuguesas as medidas preconizadas pela troica, dá para perceber como, avaliando os quatro anos e meio passados e os resultados dos défices alcançados e previstos para este ano (a vermelho e laranja no quadro acima), os desvios se assemelharão no rigor ao acompanhamento de um plano quinquenal soviético típico da era Brejnev. Acresce à semelhança que, tal como outrora fizera Khrushchev em relação aos Estados Unidos, também Mário Soares, Cavaco Silva e os líderes políticos que lhes seguiram nos haviam prometido, como consequência da adesão à Europa, uma convergência progressiva com os padrões de vida dos países da União. Os últimos números do Eurostat (abaixo), envolvendo nomeadamente os três anos de aplicação do programa da troica, mostram-nos que isso está cada vez mais longe de acontecer: o PIB português em 2014 ainda foi inferior ao de 2011. Eu bem sei o quando poderá parecer desagradável estar a diagnosticar o mal sem propor soluções alternativas. Há contudo as vantagens de, apresentando o problema como aqui o faço, a) não dar por alternativas soluções que já eram caducas há 40 anos; b) notar que o problema da comunicação social, de quem, nocionalmente, se esperaria uma atitude moderna mais distanciada, permanece essencialmente o mesmo, engajado ideologicamente e afiliado às fontes de poder; e c) dar a possibilidade de chamar a atenção, pela analogia, que de não vale a pena adiar a questão política da União Europeia com tecnicidades: lá chegará o tempo em que a situação se tornará tão insustentável que os candidatos a reformadores - esses hipotéticos Gorbachevs da União Europeia - também já não chegarão a tempo de a salvar da desagregação.

MAS DEPOIS HÁ VEZES EM QUE ELE NÃO FICA: FAZ UM INTERVALINHOS...

Em contraste, reconheça-se que houve também aquela outra vez em que anunciou que era para se ir (irrevogavelmente) embora mas acabou por ficar. Sem Portas a política portuguesa arrisca-se a perder uma boa dose daquela aldrabice circunspecta que a todos nos anima e que não pode ser colmatada só com as improvisações de Marcelo a partir de Belém. Embora eu esteja em pulgas para descobrir como este último vai fazer Portas engolir a vychissoise...

18 janeiro 2016

«...AND NOW FOR SOMETHING COMPLETELY DIFFERENT» (3)

Tantas serão as preocupações do jornalismo que se toma por mais sofisticado em fazer a opinião, que já nem se percebem as lacunas de certos artigos publicados nas páginas dos jornais que a fazem (à opinião...). Será o caso do artigo apresentado abaixo, que consiste numa descrição benevolente da guinada que Assunção Cristas se dispõe a fazer dar ao CDS/PP sob a sua liderança, mas onde falta um pertinente preâmbulo de apresentação no jeito dos que fazia John Cleese (acima) nos Monty Python. Lembremo-nos da coerência deste novo discurso com o que estivemos habituados a ouvir nos últimos quatro anos e meio, quer da parte do CDS/PP, quer da ministra da Agricultura...

SOBRE A SÍRIA SÓ SEI QUE POUCO SEI

Os complexos mapas que vão sendo publicados sobre a situação militar na Síria são suficientemente elucidativos quanto à dificuldade em identificar as facções em confronto, quais as suas posições e as regiões que estão militarmente em disputa. Mas, melhor que esses na expressão da complexidade da situação, que já transbordou para o Iraque, só mesmo um gráfico que foi apresentado pela revista The Economist já há vários meses, onde cruzou as atitudes entre si dos diversos actores do conflito: são 14(!) actores, apesar de todas as simplificações ali feitas (os Estados Unidos e os vários países da União Europeia estão emparelhados, por exemplo, e o mesmo acontece com a Arábia Saudita e os vários países da Liga Árabe - ora isso não é propriamente verdade...). Claro que o potencial militar no terreno e o peso político daqueles 14 actores variarão enormemente, mas apercebemo-nos pelo panorama geral de como a constituição de dois blocos antagónicos, confederando por negociação os objectivos em dois polos rivais, se afigura mais do que problemática. Ao contrário do enredo clássico de um filme do Oeste, não existem apenas dificuldades para que os bons se ponham de acordo: os norte-americanos não vão deixar de embirrar com Assad e o seu governo e os russos não vão deixar de o defender; os maus do fundo do gráfico, a Al-Qaeda e o Daesh, antagonizam praticamente todos os outros actores, mas não será por isso que deixarão de rivalizar entre si quanto à supremacia de ser o pior. Sinceramente, acho que a maioria das notícias que nos chegam da Síria são assertivas demais para a situação que o esforçado gráfico da The Economist procurou sintetizar.

17 janeiro 2016

A PROPÓSITO DE DOIS HOMENS QUE DISPARAM MAIS RÁPIDO DO QUE A PRÓPRIA SOMBRA

A maior diferença que existirá entre um dia típico do Oeste de Lucky Luke e um dia normal da campanha de Marcelo Rebelo de Sousa é que o primeiro cansa-se e, em chegando a noite, precisa de repousar numa boa cama (abaixo) enquanto que ao segundo lhe bastará uma sesta nocturna assim mais prolongada...