06 dezembro 2023

EXPERIÊNCIAS POLÍTICO-SOCIOLÓGICAS

(Republicação)
A 6 de Dezembro de 1933 (comemoram-se hoje 90 anos) terminava a Proibição nos Estados Unidos. A Proibição (era tão impopular que nem era preciso especificar que se referia às bebidas alcoólicas) tornou-se numa daquelas experiências político-sociológicas que, como se veio a comprovar pelo tempo, se saldaram por um desastre colossal em qualquer daqueles campos (político e sociológico), episódio hoje enterrado nos cartapácios da História e que se recorda a contragosto. Nem importa lembrar que a Constituição dos Estados Unidos precisou de sofrer uma adenda por causa deste assunto (a 18ª) e que recebeu uma outra adenda (21ª) revogando a precedente. Estou com curiosidade em ver o que acontecerá ao ambiente de confronto social que foi cultivado nestes últimos doze anos (de 2011 para cá), entre os trabalhadores do sector público e os do sector privado, entre os activos e os reformados, entre os novos e os velhos, para antecipar aquilo que daqui por uns anos subsistirá daquela conflitualidade que, a certa altura, nos pareceu tão divisiva da sociedade portuguesa. Será genuína e manter-se-á, ou atenuar-se-á porque afinal nos foi inculcada pela máquina do poder em exercício entre 2011 e 2015? Se o foi, o processo terá responsáveis e rostos, como os teve a Proibição. (Adenda da republicação: Oito anos depois da publicação original e de terem perdido o poder na AR, no PSD já se terão finalmente apercebido que Pedro Passos Coelho é um ídolo perene dentro de portas (partidárias), mas que nunca deixará de ser tóxico fora delas - a sua ausência recente do último congresso do partido parece-me eloquente dessa constatação)

3 comentários:

  1. Os responsáveis materiais serão esses, mas os responsáveis morais e inspiradores da impiedosa agenda ideológica e de classe aplicada por aqueles primeiros são bem outros: vindos dos MBAs da “Católica” ou da “Nova” e influenciados por blogues como “O Insurgente”, “Corta-Fitas”, “31 da Armada” e outros menos relevantes, chamam-se Carlos Moedas, Manuel Rodrigues, Miguel Morgado, Hélder Rosalino, Sérgio Monteiro, Bruno Maçães e, se se quiser, Maria Luís Albuquerque.

    Trata-se de gente que, numa autêntica “funcionariofobia”, sempre teve um ódio patológico à função pública, por eles caricaturalmente reduzida ao escriturário laxista do balcão de atendimento de repartição, mas jamais - “et pour cause”… - aos lóbis privados e aos interesses rentistas que, através dos seus homens de mão nos aparelhos político-partidários, saquearam e saqueiam a coisa pública em proveito próprio pessoal privado… Trata-se, outrossim, de gente com uma crença autenticamente religiosa nas “virtudes” do chamado “mercado”, por eles percebido como um ser divino com propriedades de omnipotência e omnisciência, insusceptível de cometer erros e ainda menos de ser objecto de manipulações ou de influências interesseiras...

    De resto, sublinhe-se, o que se viu aplicado pelo anterior governo, ainda assim foi uma reduzidíssima quota-parte da ideologia que mencionei no parágrafo anterior. A título de mero exemplo, n”O Insurgente”, em tempos, alguém chegou a sustentar que o direito de voto em eleições deveria ser retirado aos funcionários públicos, sustentando assim, de modo nada sub-reptício, o sufrágio censitário oitocentista. Em suma, trata-se de gente implacável que não brinca em serviço, como todos bem sentimos nestes últimos quatro anos.

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Caramba homem, você disse tudo. Quem começou nos idos de oitenta como humilde técnico superior de 2ª classe e chegou a director de serviços (director de departamento na administração local) subscreve totalmente!

      Eliminar
  2. O que se passa e se passara em Portugal e aquilo que se observa nos paises anglo-saxonicos primeiro logo seguidos das grandes economias Europeias e que Portugal segue regra geral com 10 anos de atraso: os partidos da chamada direita, estao/vao sair do espectro politico denominado de "normal", representando sem pudor, no ambito da politica economica de forma fundamentalista e intransigente os interesses de classe das elites.
    Uma vez que os interesses das elites se tornaram nos ultimos 15 ou 20 anos profundamente divergentes e inconciliaveis com os interesses do grosso da populacao assalariada, a unica forma destes partidos conseguirem algum apoio popular no ambito de um regime nominalmente democratico e aliarem-se as franjas sociais mais ultramontanas no campo das liberdades e costumes.
    Paralelamente. cultivam uma serie de praticas, tendencialmente cada vez mais violentas para alienar a participacao politica do resto da populacao.

    ResponderEliminar