31 dezembro 2015

RADIESTESIA BANCÁRIA: a PARAFINANÇA

A radiestesia, esclarece-nos a wikipedia, «é uma sensibilidade a determinadas radiações, como energias emitidas por seres vivos e elementos da natureza». A sua aplicação prática mais conhecida é a determinação da localização dos cursos de água subterrâneos recorrendo a uma vareta como se vê na fotografia acima (Jim Richardson é o seu autor). Até hoje, não se encontrou qualquer sustentação científica nessa prática, mas é da natureza humana que se tenda a valorizar e recordar muito mais os sucessos do que os fracassos e a radiestesia continua a subsistir com frequência quando surge a necessidade da localização de um poço de onde tirar água. Para lhe conferir respeitabilidade designam-na por paraciência. Analogamente, tudo o que tem acontecido com a banca portuguesa nos últimos anos levou-me à conclusão que também as regras económicas e financeiras que eu julgava disciplinarem a banca nacional e que supunha rígidas, científicas e rigorosas dependem muito mais da atitude compenetrada do protagonista ajudada da nossa credulidade: é o que poderíamos chamar com propriedade de parafinança.

30 dezembro 2015

O TAMANHO DAS PILAS

Ao encerrar do ano esta súbita competição, cerradíssima, para descobrir qual será o clube que mais se esmerou ao firmar o contrato com a respectiva operadora de telecomunicações, considero o episódio (e a importância que lhe está a ser dada) o que de mais semelhante existirá em social, adulto e em lógica futebolística ao exercício da comparação do tamanho das pilas, actividade recreativa que sempre entreteve gerações dos jovens adolescentes. É exercício que desconheço se actualmente ainda se manterá, porque talvez inconveniente. Mas, se não o for, ora aqui temos o que pode ser uma bela sublimação...
And Now, For Something Completely Different, há a Porta dos Fundos que retrata o absurdo em que se transformaram a maioria destas expressões modernas de clubismo...

29 dezembro 2015

«THAT WAS HIS FINEST HOUR»

Neste momento em que nos é anunciado o seu abandono da liderança do CDS/PP, importa fazer o balanço da obra que Paulo Portas, o governante, nos deixou nestes últimos quatro anos e meio, de onde considero merecer ser destacado o famoso guião para a reforma do estado, apreciando-o sinteticamente numa expressão de indiscutíveis ressonâncias churchillianas (do discurso que proferiu a 18 de Junho de 1940): That was his finest hour (Foi o seu momento mais brilhante). Só é pena que depois disso o vice-primeiro-ministro tenha adoptado uma atitude menos conforme o estadista que ambiciona ser, transferindo as responsabilidades da implementação desse seu magnífico guião para os colegas de governo (como se pode assistir abaixo). Isso é que já terá sido bastante menos churchilliano... De facto, a reputação de estadista de Winston Churchill não seria a que lhe reconhecemos se, perante as várias derrotas militares que o Reino Unido ainda veio a sofrer depois de 1940, tentasse transferir publicamente as responsabilidades para o Exército, a Royal Navy ou a RAF... E agora rematando sem qualquer ironia: eu suspeito que Paulo Portas nem percebe a diferença entre as duas condutas.

28 dezembro 2015

«É este ano, com Luciana Abreu e Rui Drummond, os 2B, que Portugal vai ganhar o festival da eurovisão...»


Para quem tenha acabado de ler o poste anterior permitam-me acrescentar que é em contrapartida do que ali deixei escrito que acrescento que Marcelo Rebelo de Sousa disse mesmo aquilo que aqui se ouve, em Junho de 2014, imediatamente antes do estouro do BES. Na inesquecível personificação de Ricardo Araújo Pereira: Eu seja ceguinho se não é este ano, com Luciana Abreu e Rui Drummond, os 2B, que Portugal vai vencer o festival da eurovisão...

TRATARAM DA SAÚDE AO MARCELO E A MARIA DE BELÉM TRATOU-NOS DA SAÚDE

Está de parabéns o deputado socialista Filipe Neto Brandão e o seu trabalho de investigação de ir buscar às actas da Assembleia os resultados da votação sobre a aprovação do Serviço Nacional de Saúde para expor as contradições de campanha presidencial de Marcelo Rebelo de Sousa. Roubando as palavras do próprio Neto Brandão: Marcelo até pode estar arrependido do gesto, mas isso não lhe dá o direito de tentar falsificar a História... Reconheça-se que, ao contrário do que diz o ditado popular, nem sempre é verdade que mais depressa se apanha um mentiroso que um coxo. Esta é a demonstração de quanto trabalho pode dar ir atrás de um mentiroso e é merecido que o seu trabalho se tivesse tornado viral. Só é pena que o investigador não tenha feito uma pesquisa adicional ao diário dessa sessão para confirmar se Marcelo Rebelo de Sousa, à época (Junho de 1979), era deputado em exercício e se estava no hemiciclo: por acaso creio que não era deputado e, caso o fosse, por constatação da lista de presenças tenho a certeza que não estava presente na sessão... A não ser que Filipe Neto Brandão perfilhe a lógica da responsabilização por blocos partidários (os militantes são responsáveis por todas as decisões dos partidos onde militam), será que o deputado socialista (e em exercício de funções!) se arrependerá por sua vez do gesto? Mas, se calhar, isso agora não interessa nada, como diria a Teresa Guilherme. O que interessa é que até a comunicação social adversa deu publicidade ao assunto (escapando-lhe a gaffe).
Em contraste, parece-me inequívoco para lá de qualquer investigação que uma das rivais de Marcelo, a candidata Maria de Belém Roseira, foi a ministra da Saúde do XIII Governo Constitucional. Quando ela se pronuncia sobre o tema da Saúde, como se tornou quase imperativo que os candidatos presidenciais fizessem depois daquilo que aconteceu no caso da urgência de neurocirurgia inexistente do Hospital de São José, fá-lo-á com vantagem sobre a concorrência e com a cátedra de, durante quatro anos (1995-1999), ter sobraçado aquela complicada pasta ministerial. O que dá uma outra valia às suas palavras quando ela se pronuncia sobre cortes na saúde (acima). Para comparar com a que foi a sua actuação, não há 36 anos, mas há apenas 16. O relatório da Auditoria ao Serviço Nacional de Saúde, que foi elaborado pelo insuspeito Tribunal de Contas em 1999, parece ser uma grande ajuda para esse fim. É com ele que ficamos a saber (abaixo, pp. 89 e 90) que entre 1995 e 1998, sob Maria de Belém, o défice financeiro do SNS mais do que triplicou, passando dos 100 milhões de contos para os 330 milhões (o equivalente actual a 1.650 milhões de euros). No mesmo quadro lê-se que as dívidas do SNS em finais de Setembro de 1998 montavam a 1.370 milhões de euros. Com um tal desequilíbrio e descontrole, é legítimo questionar se, durante a gestão de Maria de Belém, terá havido cortes de qualquer espécie naquele sector, tivessem sido eles críticos ou acríticos...
Num exercício para dar ao leitor uma escala comparativa da situação então atingida com a actualidade, veja-se este outro quadro abaixo onde se lê que, em finais de 1996, as dívidas às farmácias montavam aos 34 milhões de contos (170 milhões de euros). Pois bem, no princípio de Novembro passado (2015) foi notícia ultrajada que o ministério da Saúde lhes devia quase 100 milhões... Ao contrário de Filipe Neto Brandão eu não adoto a sua lógica da responsabilidade partidária colectiva, extrapolando que todos os socialistas são igualmente irresponsáveis na gestão pública como o foi esta sua ilustre camarada, mas a minha opinião firme é que Maria de Belém Roseira é uma candidata muito séria a um dos lugares do pódio dos piores ministros da Saúde que tivemos em Portugal. Que ela tenha querido ser também candidata presidencial só mostra como, à força de todo aquele seu falar sem dizer nada, ela nem se toca... Suspeito que será só por não a levarem a sério é que não a fazem ouvir estas evidências como ela mereceria. Mas merecendo-o e sendo levado a sério, Marcelo também deveria, a bem do rigor, não apanhar por aquilo que não fez... Ele não votou contra a lei da criação do SNS. A bem da Verdade, que eu sei que é coisa que não combina bem com política e com campanhas eleitorais, mas de que gosto muito...

«MERRY NEW YEAR!»


Um compacto de Merry Christmas e Happy New Year!

27 dezembro 2015

UM MOMENTO PROFUNDAMENTE «ESPIRITUAL» DO PONTIFICADO DE JOÃO PAULO II

Esta fotografia foi tirada quando da visita de João Paulo II à Nicarágua em Março de 1983, onde, na época, estava no poder um governo da esquerda revolucionária que derrubara violentamente em 1979 uma ditadura militar ao arrepio do status quo estabelecido pelos norte-americanos para a região. A hostilidade era portanto recíproca entre visitante e anfitriões. E, quando dos cumprimentos de boas-vindas, ainda na placa do aeroporto, João Paulo II teve oportunidade de marcar a sua posição diante do ministro da Cultura do regime sandinista, o padre Ernesto Cardenal que foi visivelmente admoestado quando, de joelhos, o cumprimentava. Conforme as partes, são várias as versões sobre aquilo que o papa terá dito ao sacerdote a acompanhar aquele dedo em riste mas algum consenso se gerou em volta de: Usted tiene que arreglar sus asuntos com la Iglesia. A hierarquia católica (no topo da qual se encontrava João Paulo II) havia exercido pressão sobre Ernesto Cardenal (e não só, Miguel d'Escoto, o ministro dos Estrangeiros também era sacerdote) para que abandonasse(m) o governo sandinista. Eles recusaram-se. Quase um ano depois da fotografia acima, em Fevereiro de 1984 e perante o impasse, eles e mais dois sacerdotes que desempenhavam funções governamentais (um dos quais era o irmão mais novo de Cardenal, Fernando) foram suspensos ad divinis. Antes de prosseguir, deixem-me deixar bem claro que, mesmo parecendo o mau desta história, considero que a razão nesta disputa pertence inteiramente a João Paulo II. Por detrás dos padres suspensos formara-se um bloco e uma aparência de facção teológica denominada Teologia da Libertação. Ora a Igreja Católica sempre foi uma organização fortemente hierarquizada e não é aceitável que alguém queira fazer parte do seu clero ao mesmo tempo que se quer furtar a essa contingência. Coisa outra porém é a coerência da conduta das hierarquias católicas quanto ao engajamento dos seus sacerdotes em causas políticas. Há as que não são aceitáveis, caso dos sandinistas com Cardenal, e depois há as outras, em que o que é de César e o que é de Deus se mistura galhardamente, de que um dos exemplos mais excessivos (já aqui o recordei num poste) terá sido o de Jozef Tiso, que se tornou no presidente e, mais do que isso, foi a personificação da Eslováquia independente durante os anos de 1939-45 em que o país teve esse estatuto devido ao beneplácito alemão. Apesar de executado em 1947 por colaboracionismo pelas autoridades checoslovacas, quanto ao magistério sacerdotal de Jozef Tiso não terá havido recriminações públicas (de Pio XII) nem suspensões ad divinis...
Trata-se de um preâmbulo explicativo da razão porque tal episódio e tal fotografia me ocorreram, quando me depararei há umas semanas com o artigo de opinião com a apresentação acima, publicado no (entretanto encerrado) jornal i. O título pode ser lido como um apelo ao papa Francisco mas o subtítulo acaba por se tornar uma censura à sua conduta e a continuação do artigo - que recomendo a leitura - ainda é menos equívoco nas críticas, ao enunciar nomeadamente aqueles que foram os bons pontífices, antecessores do actual: Ninguém nega a importância de Eisenhower e Pio XII, ou Reagan e João Paulo II, no combate ao comunismo enquanto ameaça ao Cristianismo e ao mundo Livre. Em contrapartida, o texto é omisso quanto à importância de João XXIII ou de Paulo VI; quiçá andavam entretidos, em vez do combate ao comunismo, com as minudências do Concílio Vaticano II. A autora de tal prosa chama-se Graça Canto Moniz, descobri ser uma jovem mestre em Direito de 26 anos, aplicada (até leu a encíclica Laudato Si...) e que ali se mostra segura de nos conseguir fazer distinguir aquilo que é de índole espiritual do que é de índole política. Assim, combater o comunismo inserir-se-á no primeiro caso, enquanto enaltecer virtudes como a humildade e, sobretudo, a pobreza, serão gestos de um cunho político vincado, subversivas mesmo. Cheguei a mencionar que a Graça é, desde 2013, militante do CDS-PP?... Mas deixem-me confessar-vos o que mais me intriga neste disparatado artigo de opinião, para além de ser indisputavelmente provocador. Foi o critério editorial que levou a promover uma aleivosia daquelas. Se fosse amigo de teses conspirativas poderia imaginar que o mérito das opiniões da Graça, confessando-se católica, seria o de estar protegida pelo braço comprido de organizações católicas ultra-conservadoras de que a Opus Dei é apenas o exemplo mais conhecido. Para algumas dessas organizações, pelo seu silêncio ensurdecedor, já se percebeu que a eleição do papa argentino no mesmo ano em que a Graça se filiou no PP foi, apesar da iluminação do Espírito Santo, um terrível erro de casting. Nomeadamente por causa de alguns das suas decisões mais políticas, como aquela que, em Agosto de 2014, derrogou a sanção que João Paulo II havia imposto espiritualmente 30 anos antes aos quatro padres nicaraguenses, incluindo Cardenal, tão severamente admoestado na fotografia inicial.

24 dezembro 2015

OS MÉRITOS DOS MERETÍSSIMOS

Numa distribuição de classificações há aquela que se esperaria que as notas assumissem (1) e depois há a distorção que é provocada pela excelência da magistratura portuguesa (2), como dá conta a notícia do Expresso. Porque se há algo de que os portugueses têm tido que se orgulhar (em consonância com a opinião do Conselho Superior da Magistratura) é da eficácia do seu sistema de justiça e da craveira dos seus agentes. E isso, obviamente, tem que se reflectir na forma como eles são avaliados.

O CASO TORNESOL (O adesivo do Capitão Haddock)

Em jeito de prenda de Natal para os leitores apreciadores de BD a versão compactada de uma das cenas recorrentes (extende-se por quatro pranchas, da 45 à 49) mais cómicas das Aventuras de Tintin: o adesivo do Capitão Haddock (carregue-se em cima da imagem para a ampliar).

23 dezembro 2015

AVISO À NAVEGAÇÃO!

Segundo se pode ler no The Telegraph britânico, esta semana o sistema de estacionamento de um dos maiores mega centros comerciais do país (foto acima) acabou por colapsar. A partir das 16H00, gerou-se o engarrafamento total nos acessos aos parques de estacionamento. Os utentes tiveram que esperar pelos menos umas três a quatro horas até conseguirem sair dos subterrâneos (foto abaixo). A situação, originalmente causada por uma viatura que se avariara numa das saídas, só foi dada como regularizada pelas 22H00 e a notícia do Telegraph é ilustrada por tweets desesperados de quem vivia a situação e por imagens de condutores chorando de frustração. Bem se sabe que Portugal não atravessa o surto de prosperidade da Inglaterra (é o mínimo que se pode dizer...), mas que este evento sirva de aviso a quem se pretender deslocar por estes dias a centros comerciais com acessos de estacionamento mal configurados, como é o caso do El Corte Inglês lisboeta.

22 dezembro 2015

«IMAGENS HISTÓRICAS» - Ainda o «ENTÃO, PARABÉNS!»


Aquilo que qualifica como históricas imagens como a do vídeo acima (já com oito anos!) é a sua capacidade de poderem ser vistas e revistas, e de cada vez olhamo-las de forma diferente. Aqui há um ano era José Sócrates um dos cumprimentadores iniciais que estava preso e em que se contavam os amigos que ali se enlaçavam que o iam visitar ao seu novo estabelecimento. Agora é Luís Amado, o outro cumprimentador que, presidindo ao conselho de administração do BANIF, terá desaparecido subitamente do radar da comunicação social, apesar da importância do escândalo que envolve o banco. Quando mais o tempo passa, mais se consolida a impressão que não há bons nem maus; é como diz o ditado popular: eles estarão todos bem uns para os outros. A propósito: quem é que se lembra que toda esta felicidade era provocada pela assinatura daquilo que veio a ser conhecido pelo Tratado de Lisboa?

«CLARA NOITE DE NATAL» dos MARANATA


A pretexto da quadra, ainda a televisão era a preto e branco e corriam os anos 70 quando o conjunto Maranata nos brindou com este canto de Natal, conferindo ao conjunto vídeo/canção um confortável retoque nostálgico, do tempo daqueles outros Natais mais veementemente vividos. De atentar no porte distintivo dos óculos escuros do António Sala e da colega do lado. Com mais ou menos pinta, um Feliz Natal para todos!

21 dezembro 2015

UMA CENA DE ASTÉRIX QUE ME OCORREU A PROPÓSITO

Eu adoro esta cena de Astérix e o Caldeirão. Começa por um daqueles equívocos típicos das peças do clássico Théâtre de Boulevard francês – em que sentido deve fluir o dinheiro, dos romanos para os gauleses ou vice-versa? Quem paga a quem? – mas rapidamente evolui para uma daquelas cenas de nonsense britânico clássico - o legionário que se pergunta se agora é preciso pagar para se ser legionário ou o que, conciliador, propõe a formação de uma comissão. Superior a qualquer dessas duas escolas de humor, Obélix atravessa a transição impoluto e igual a si mesmo. Como ele próprio esclarece: - Eu próprio não percebi lá muito bem, mas o Astérix explica-vos.
No fim, a cena conclui-se pela constatação da insatisfação recíproca: não há dinheiro para ninguém, gauleses ou romanos e a sentinela ao fim vai ser o último a descobrir isso mesmo. Mas é a propósito dessa falta de dinheiro, que me lembrei da cena mais a exposição do caso Banif (que se descobre muito maior do que se concebera até aqui), onde tenho escutado e lido inúmeros comentários a propósito. Nem todos são concordantes, mas não me parecem muito divergentes. Com as excepções expectáveis. Excepções que as circunstâncias dos acontecimentos fazem parecer da autoria de um Monty Phyton ou de um Groucho Marx, tanta é a falta de senso evidenciam.
Mas que mesmo assim parece imperativo aparecerem expressas, seja por necessidade de notoriedade, por estupidez e/ou por dever de ofício! Mas é numa resposta no mesmo sentido bufão – que é a única resposta que aquele tipo de opiniões merece - que me apetece bater-lhes, não a sério para que se aleijassem, mas no mesmo sentido figurado como Uderzo desenhava os romanos após passarem pelas mãos de Obélix (Paf!), desaparecidos pelo ar, fora de vista, com as sandálias desapertadas pelo chão e um par de molares a levitar no sítio onde estivera a boca... Bater a sério (se não for pedir muito...), só nos responsáveis que conduziram o(s) banco(s) à situação em que foram encontrados: BPP, BPN, BES....

ÁLVARO CUNHAL: Uma Biografia Política – 4

Sobre o quarto volume da biografia política de Álvaro Cunhal de José Pacheco Pereira, mantenho a opinião que já aqui expressara neste blogue há dez anos a respeito do volume anterior (é verdade: o 3º volume da obra já data de 2005!). É um livro que a quem compra importa mostrar que o fez, que quem lê o faz porque lhe interessa, de que nas opiniões qualificadas prevalecentes se reconhece a necessidade do trabalhado de investigação e de que o resultado seja publicado, mas que, como obra propriamente dita, não empolga. Por muito irónico que pareça o que me pareceu mais prometedor neste volume foi a forma como ele acaba: o período abrangido vai de 1960 até à entrada do Outono de 1968, a encaixar as sequelas da invasão da Checoslováquia e diante da expectativa do que seriam as consequências da chegada de Marcello Caetano ao poder. A última frase do livro (...os anos que vão de 1969 a 1974 não foram os melhores do PCP), promete para a saída do quinto e último volume da série de José Pacheco Pereira, conhecendo a forma como no PCP eles se comportam, aquilo que mais há de parecido com um reality-show mediático, só que para políticos e intelectuais. Com muitas vendas...

20 dezembro 2015

O (IR)RESPONSÁVEL

A fotografia é completamente despretensiosa e é até encimada por um educado pedido para que se feche o portão que, de tão apagado, quase passa desapercebido. Mas o que a torna portentosa, válida de aqui ser exibida é a proclamação eximindo-se de responsabilidades que ma tornou estranhamente familiar e oportuna, considerando o que por cá tem acontecido (depois do BPP, do BPN, do BES, agora é o BANIF...), as (in)consequências daquilo que por cá tem acontecido e, pelo erro gramatical incluso, o (na verdade, a falta de) rigor de como tudo isso tem sido apreciado...

O AUTOR DA «COISA»

Escreveu Pessoa que Deus quer, o Homem sonha e a Obra nasce. E pelo que se escreve no cabeçalho da primeira página de ontem do Expresso, quem sonhou com o Banco de Fomento teria sido Vítor Gaspar. Tenho uma opinião algo diferente e os arquivos mostram-nos uma história distinta desse Banco, com e sem Vítor Gaspar no Governo, para lá do seu sonho. Antes de Julho de 2013, data da saída de Gaspar do executivo (e da irrevogável remodelação governamental), podia-se encontrar a respeito da ideia da criação de uma tal instituição opiniões muito críticas como a de Celeste Cardona (Novembro de 2012), onde parecia eleger como alvo principal Álvaro Santos Pereira, o então ministro da Economia (que também seria depois remodelado), ou então a opinião do especialista em internacionalização Telmo Azevedo Fernandes (Março de 2013), que adoptava um título para o que escrevera (Banco de Fomento: das falhas do mercado às empresas do regime) bem revelador daquilo que criticava no projecto. Em paralelo e imune a essas preocupações político-ideológicas, a Luís Filipe Menezes (Março de 2013) só o parecia preocupar que a futura instituição viesse a ficar sedeada no Porto (como veio de facto a acontecer). Em Junho de 2013, a presença de Vítor Gaspar (e de Álvaro Santos Pereira) estava para terminar daí a dias quanto em Conselho de Ministros se decidiu finalmente a criação do Banco de Fomento (também designado por Instituição Financeira de Desenvolvimento). Os estudos técnicos – que deveriam ficar concluídos dali por 120 dias – seriam da responsabilidade dos secretários de Estado das Finanças, Manuel Rodrigues, do Desenvolvimento Regional, Castro Almeida, e do Empreendedorismo, Franquelim Alves.
Aqueles (e todos os outros) prazos não foram cumpridos mas a partir dessa época, António Pires de Lima, que assumira entretanto a pasta da Economia em Julho de 2013, torna-se a cara mediática do projecto do Banco de Fomento. É já ele que ilustra uma notícia de Novembro de 2013 que promete um Banco de Fomento operacional a partir do primeiro semestre de 2014. Só posso especular quanto ao que aconteceu à opinião de Celeste Cardona, porque deixei de a ver publicada... A expirar aquele primeiro semestre (Junho de 2014), o Banco ainda aguardava a licença bancária do Banco de Portugal mas o Diário Económico já conseguira saber que tinha onze administradores, dos quais cinco executivos. Em Julho de 2014, Pires de Lima dava a cara à notícia que o Banco ia avançar depois do Verão. Depois do Verão, em Outubro de 2014, o presidente da comissão instaladora do Banco anunciava querer abandonar a instituição, apesar do convite do ministro Pires de Lima. Nesse mesmo mês, o ministro prometia que o Banco poderia estar operacional no mês seguinte. Não estava. Já em Janeiro deste ano (2015), ainda e sempre Pires de Lima, preparava-se para anunciar na segunda-feira seguinte o primeiro instrumento para recapitalização das empresas... Em finais de Setembro de 2015, às vésperas das eleições, apareciam finalmente 300 milhões no Banco para o capital das empresas este ano. Enfim... dá perfeitamente para perceber que a criação do Banco de Fomento foi uma grande cagada da qual resultou um grande cagalhão. Eu percebo que, quando se vai por um jardim e se encontra uma coisa dessas no meio da relva, possa haver uma certa dificuldade em identificar o autor da proeza. Agora, quando as coisas se apresentam desta forma tão bem documentada é preciso muito mais do que incompetência jornalística para, como se faz no Expresso, tentar atribuir ao idealismo de Vítor Gaspar os méritos que, a nível ministerial, vão inteiros para a obra de António Pires de Lima...
Registe-se a ironia de um poste que, começado tão poético, acabou tão (merecidamente) escatológico.

19 dezembro 2015

TV NOSTALGIA 83 - Universidade na TV

Há 45 anos, 19 de Dezembro de 1970, era também um Sábado e a programação televisiva da tarde anunciava-se-me prometedora, com séries como a Pippi das Meias Altas à hora de almoço (13:15) e o Daktari um pouco mais tarde (15:30).

Suponho que seria o maestro José Atalaya que apresentava a educação musical da TV Educativa (15:00), onde apresentava os instrumentos musicais: nunca mais consegui ouvir um fagote sem me lembrar dele. Mas nenhuma dessas séries me transmitia a importância que uma rubrica intitulada...

...Universidade na TV (14:15) - estão-me a ver a mim a assistir a programas supostamente dirigidos a universitários? - mesmo que o documentário fosse dedicado a um Grande Sábio chamado Farlarini, que hoje não faço a mínima ideia de quem tivesse sido...

18 dezembro 2015

FIGURA DE URSO

João Bilhim. Uma reputada figura, distanciada da área do poder (apoiante público de Manuel Alegre nas eleições presidenciais de 2011), escolhido nesse ano para presidir à Comissão de Recrutamento e Selecção para a Administração Pública (CRESAP), cargo a que se atribuiu uma importância imensa (vencimento equiparado ao do primeiro-ministro) para que se acabasse com a percepção generalizada que o preenchimento dos cargos do Estado é feito por critérios outros que não o mérito de quem os preenchia. Um ano depois (Dezembro de 2012, completam-se agora três anos) podemos ler João Bilhim triunfante numa entrevista à Lusa: Acabaram-se os "jobs for the boys" na função pública. O presidente da CRESAP foi peremptório. Eu tenho uma história de vida que fala por mim (...) tenho 66 anos, não dependo disto, presido a um órgão que não pede nem recebe instruções do governo (...) não sou influenciável. É raro e ao alcance de poucos mas parecia que havia quem tivesse seguido as pisadas de César que veio, viu e venceu.
O tempo, que tudo esclarece e consolida as vitórias quando verdadeiras, mostrou-se porém madrasto e já este ano, aproximava-se o mandato deste governo do fim, governo esse de quem, recorde-se, João Bilhim não pedia nem recebia instruções, e vemo-lo confessar-se muito desconfortável e triste com o resultado de 14 nomeações de dirigentes de centros distritais da segurança social de que foram 11 para militantes do PSD e 3 para militantes do CDS. Não era propriamente uma novidade, o que tornava o caso informativamente interessante era que esta encomenda fora processada por atacado. Como consequência da sua actuação ficara um longo rasto de antecipáveis insatisfações de candidatos preteridos, mas com algumas de surpreendentes áreas onde até grassava a simpatia pelas hostes governamentais, além das hordas de militantes socialistas na oposição que, acreditando no honestidade do discurso de Bilhim, coleccionaram concursos onde eram seleccionados mas sempre preteridos na fase decisiva. Estas hordas de militantes do PS eram um péssimo augúrio para João Bilhim quando o poder mudasse de mãos. Como agora aconteceu. Adivinha-se uma vontade de lhe fazer a folha. E tenho quase a certeza que lha vão fazer, e ao projecto também, coitado, que esse não tem culpa que tenham lhe tenham posto uma pessoa como João Bilhim à sua frente, para poder ser devidamente sabotado. No princípio desta semana (a 14 de Dezembro) João Bilhim deu uma entrevista na RTP2. Foi uma daquelas entrevistas agressivas na sua cordialidade aparente: ou o entrevistado é estúpido ou está a tentar passar por estúpido (à Zeinal Bava) ou está a tentar tratar os espectadores que o vêm como estúpidos. Tentou a quadratura do círculo: fazer que sabia mas sem saber com que intuito os mecanismos de selecção eram utilizados para colocar no cargo quem se desejava à partida. Tivesse ele sido mais modesto no cantar de galo e dispensá-lo-ia a humilhação. Mas assim: que figura de urso andou ele por ali a fazer...

UMA PEQUENA HISTÓRIA QUE TAMBÉM ENVOLVE CORES DE BOINAS

Misturado no conjunto de factos (muito poucos), intenções (várias e não necessariamente todas concordantes) e sobretudo suposições, como se procura reconstruir histórias alternativas de como teria sido diferente o envolvimento dos Estados Unidos na Guerra do Vietname caso John F. Kennedy não tivesse sido assassinado em Novembro de 1963, existiu de concreto a preocupação do presidente para que as forças armadas se preparassem para um outro tipo de guerra, nova na sua intensidade mas antiga nas suas origens – expressa em guerrilhas, na subversão da ordem estabelecida, em assassinatos, uma guerra com emboscadas em vez de batalhas. E, como era costume na época, a Administração criou uma Comissão Especial para responder à preocupação do presidente onde, não surpreendendo quem conheça os hábitos da época, estava presente o seu irmão Robert. Mas, mais importante, a Comissão era presidida por Maxwell Taylor, um general prestigiadíssimo, veterano da Segunda Guerra Mundial e da Guerra da Coreia e que ainda viria a presidir ao JCS (Estado-Maior interarmas das Forças Armadas norte-americanas) e a ser o embaixador dos Estados Unidos em Saigão no Vietname do Sul. Mas, mesmo tendo sido um dos protagonistas passados da revolução das operações aerotransportadas no passado, o desafio de imaginar como seria o próximo conflito dos Estados Unidos estava para além da imaginação de Taylor (e dos restantes profissionais da Comissão) que apontavam para uma resposta convencional, uma preparação específica para guerras de baixa intensidade, é certo, mas entre exércitos considerados convencionais. A este respeito, diga-se que já a Guerra do Vietname atingia o clímax (1968), e os comunicados dos norte-americanos sobre o decorrer dela continuavam influenciados por essa fixação, mostrando aos media uma compreensão e explicação dos confrontos quanto eles eram travados contra o exército convencional norte-vietnamita (em Khe Sahn, por exemplo, que eles podiam designar por batalhas) que não tinham correspondente quando os confrontos eram de menor escala e se travavam com os guerrilheiros irregulares do vietcong, agrupados em unidades menores que normalmente se esfarelavam imediatamente depois do combate.
O resultado da preparação do exército norte-americano a esse novo tipo de guerra foi exibido ao presidente por ocasião de uma visita que ele fez a Fort Bragg, na Carolina do Norte em 1961 (fotografia inicial). Foi a ocasião para que as Forças Especiais do exército (Army Special Forces) se apresentassem com as suas novas boinas verdes, iniciando uma moda de boinas e outras coberturas identificativas que fora até aí um pouco alheia à tradicional estandartização do US Army, onde tudo costuma ser igual para toda a gente (alegadamente, o verde era a cor das boinas dos Comandos britânicos com quem os Rangers iniciais se haviam formado em 1942). A cerimónia terá sido memorável, tanto que, como se vê acima, ainda hoje servirá de referência ao espírito de corpo da unidade. Mas observadores menos engajados comparam o exercício que foi feito em benefício do presidente a um espectáculo ao jeito dos do Cecil B. De Mille. Além de algumas proezas físicas de carácter circense, houve, por exemplo, demonstrações da extraordinária pontaria dos franco-atiradores, camuflados no terreno para além de qualquer possibilidade de reconhecimento. A questão que era ali iludida é que, esses e outros feitos bélicos, são actividades que costumam ser mais associáveis à implementação de uma guerra subversiva do que à actividade de se lhes opor: a contra-subversão. E sobre contra-subversão os boinas verdes não tinham propriamente grande coisa a mostrar a John F. Kennedy. Havia doutrina, muita dela produzida por franceses, experimentados das suas guerras na Indochina e na Argélia, mas, daquele lado do Atlântico, nada saíra do papel. A questão fulcral é que essa (a contra-subversão) seria a missão com que se confrontariam os norte-americanos no caso de se engajarem no problema vietnamita como, de facto, veio a acontecer. E sobre isso em concreto, o pensamento em vigor era que o treino, a doutrina e a organização tradicional que o exército sempre tivera em vigor seria suficiente e adequado para a missão. Ou, como sintetizava o general George Decker, o Chefe de Estado-Maior do exército americano entre 1960 e 1962, qualquer soldado bem preparado consegue lidar com guerrilhas.
A História encarregou-se de demonstrar que não é bem assim. Em 1961, Portugal deparava-se com um problema algo semelhante ao dos norte-americanos. Também tinha uma boina nova, castanha, identificativa dos membros das unidades de caçadores especiais (que só depois se tornou extensível a todo o exército). Havia contudo uma diferença substancial no problema: o envolvimento dos Estados Unidos no Vietname era opcional; o de Portugal naquilo que ele considerava as suas províncias ultramarinas era obrigatório. No caso, a boina portuguesa mostrava um certo adiantamento em relação à norte-americana: a experiência francesa fora apreendida e concretizada na constituição de unidades de combate mais ligeiras (batalhões de 640 homens) onde se dispensava os complementos de armamento mais pesado, desnecessário num conflito do cariz que se antevia. O mérito desta decisão presciente pode ser diminuído se nos apercebermos que, com esta decisão, os custos de mobilização reduziam-se substancialmente num Portugal sempre parco em recursos. De toda a forma, muitos, senão quase todos os chefes militares portugueses da época fariam suas as palavras acima do general Decker, que um bom soldado está preparado para enfrentar qualquer guerrilheiro. A questão que os anos seguintes vieram provar à saciedade é que o problema não se esgota aí. Mesmo que as guerras de subversão acabem por tacticamente não se distinguirem muito das operações de baixa intensidade envolvendo sobretudo pequenas unidades de infantaria¹, ao nível estratégico tudo difere. Porque é a população que se torna o cerne da disputa. O seu policiamento e controle torna-se uma actividade primordial. Poder de fogo aplicado em excesso ou qualquer outro processo que cause baixas excessivas entre a população civil², tende a tornar-se contraproducente porque induz essa população a simpatizar com o outro lado. São processos contra-intuitivos que algumas forças armadas têm andado a aprender nos últimos decénios, especialmente depois do fim da Guerra Fria. As guerras têm evoluído. Algumas guerras modernas podem ser para não se travar, mas é preciso que conste que os (quase) beligerantes estão muito zangados um com o outro. É por isso que adiciono aqui a terceira boina da série, a azul-clara das forças de interposição da ONU. Têm-se popularizado tanto e há alguns países com tanto jeito para se interporem que fico em crer que se devia criar um ramo ou uma arma (a par da infantaria, da cavalaria, etc.) específica só para o efeito.
¹ Como por exemplo, um raid à trincheira adversária para capturar prisioneiros como acontecia durante a Primeira Guerra Mundial. ² Como já aqui escrevi, os paraquedistas franceses acabaram com a campanha bombista da FLN e da OAS em Argel mas, para o conseguirem, mataram mais pessoas do que aquelas que haviam sido mortas pelas campanhas bombistas a que puseram termo.

17 dezembro 2015

A «AVÓ» DA SARA SAMPAIO

Embora a Sara Sampaio possa ter idade para ser neta da Angie que terá inspirado os Rolling Stones na sua emblemática canção (abaixo), o sentido lírico da canção permanece vivo e perfeitamente aplicável a musicar a beleza da sua neta, mesmo ao fim destes 42 anos.

OS SUMOS PONTÍFICES - por ocasião do aniversário do Papa Francisco

Alguém se deu a bom trabalho de pesquisa para encontrar e justapor estas duas fotografias. O local é o mesmo, como se percebe pela profusa decoração da parede por detrás dos dois papas. Mas tudo o resto difere, a magnificência da cadeira, a sumptuosidade dos paramentos, até a altura do próprio estrado, e é pertinente perguntarmo-nos se tudo isso que as distingue não será uma boa síntese das diferenças de personalidade dos dois últimos papas e do seu estilo pontifical. Pelos olhares exigentes (mas muitas vezes ignorantes) da opinião pública mundial, Bento XVI acaba por sair trucidado de comparações como esta, quando o alemão se limitou, na esmagadora maioria do que observamos, a preservar tradições de fausto que já eram multiseculares quando da sua eleição. Mas Francisco I é outra coisa. Criou uma imagem carismática com a sua sobriedade que quase dispensa que a máquina promocional que o acompanha precise de repetir esse facto à saciedade (como acontecia com o carisma de João Paulo II). Apreciando o fenómeno de fora e a forma como o papa argentino a tem tentado dirigir, tenho fundadas dúvidas que ele consiga rectificar a Igreja Católica a fundo nos anos que lhe restam de pontificado (completa hoje 79 anos), apesar de reconhecer à instituição depois da sua entronização (2013), uma outra coragem e humildade em reconhecer os seus erros. Mas aquilo que creio que a Igreja Católica mais lhe vai ficar a dever (a Francisco), é o reconhecimento pela Civilização Ocidental (que se tornou tanto cristã, quanto ateia, quanto agnóstica, quanto judaica, quanto...) de que após séculos de Cismas e Reformas a Igreja Católica (que foi o alvo desses Cismas e Reformas) consegue eleger finalmente para a sua cúpula um homem que nos aparece como vulgar, despojado, simples e bom. E melhor: com o aparecimento das redes sociais, nem é preciso o recurso à máquina de propaganda tradicional para nos convencer de todos esses predicados. A isso chama-se Superioridade Moral, algo que é intangível. É intangível e por isso difícil de mensurar mas percebe-se que existe quando, por exemplo, se pergunta a opinião sobre Francisco a pessoas muito distanciadas ideologicamente dele (da esquerda e/ou extrema esquerda) e estas, não o elogiando, também não o hostilizam. Embora já tenha encontrado uma ou outra surpresa até do outro lado do espectro (mas do género é carnaval, ninguém leva a mal).

16 dezembro 2015

SERÁ QUE SUFICIENTES EXEMPLOS COMO ESTE CONSEGUIRÃO PÔR FIM À CONVERSA DO COSTUME?

Durante mais de quatro anos as notícias deste género repetiram-se na comunicação social portuguesa insistindo na indução de que seria a existência de um governo daqueles que os mercados gostam o responsável pelos sucessos das operações de financiamento da nossa dívida pública. Espero que, a partir de agora e porque o governo passou a ser outro, as notícias do mesmo cariz atribuam as causas dos sucessos a questões circunstanciais (políticas de estímulo do BCE, explica o Observador acima), como aconteceu com esta de hoje, e não se sugiram mais essas tradicionais mentiras do foro político interno. A esses que o faziam e o fizeram durante anos, já a História tratou deles com a sua ironia cruel dos factos: nunca as yields da dívida portuguesa foram tão elevadas (18% nos títulos a 10 anos!) quanto em finais de Janeiro de 2012 (mapa abaixo), altura em Pedro Passos Coelho (e Vítor Gaspar) já estavam no poder há sete meses a executar (mais do que) o programa da troika!

15 dezembro 2015

BUM BADABUM

Vivem-se tempos tensos, estes, em que não sei se esta fotografia recolhida num corriqueiro autocarro israelita (veja-se o chapéu típico do passageiro à esquerda) consegue recolher os sorrisos que a ironia dos dizeres do saco de plástico merecem. Suspeito que nem mesmo o provocadoramente iconoclasta Serge Gainsbourg (1928-1991), estando vivo, se atreveria a compor agora uma outra canção de conteúdo igualmente explosivo como este Boum, Badaboum (1967), interpretado por Minouche Barelli (1947-2004), onde a sua mini saia é, só por si, uma declaração anti-islâmica.

14 dezembro 2015

...DO VALOR, LEALDADE E MÉRITO

A ser verdade a notícia de que o presidente Cavaco Silva irá condecorar aquele que foi durante oito anos o seu chanceler do conselho das antigas Ordens Militares, o general Rocha Vieira, com uma condecoração da Ordem da Torre e Espada, de Valor, Lealdade e Mérito, lá se me pareceu explicar a oportunidade e utilidade de uma outra Torre e Espada, que muito recentemente (Outubro) foi concedida por Cavaco Silva ao coronel Folques a pretexto dos seus distintos feitos militares em combate e apesar dos 40 anos que já decorreram depois do fim das guerras em África. A verdade é que, como se descobre, os princípios são sempre para se cumprir e não se devem abrir excepções, nem mesmo para os gajos porreiros. É razoável que haja um ciclo de dez anos depois das guerras acabarem para atribuição das medalhas verdadeiramente militares. Depois disso as condecorações tendem a tornar-se políticas¹. Se não se respeitarem essas regras, é o que se vê.
Porque estas coisas nunca são coincidências, nem acontecem por acaso... E ouve-se, a quem conhece bem Rocha Vieira (e que não gosta mesmo nada dele), que aquela campanha (velha de 15 anos!) que recorrentemente ressurge para que Ramalho Eanes seja promovido a marechal - e que o visado sempre veemente e repetidamente descartou - tinha como objectivo que no fim do processo houvesse não apenas um, mas dois marechais... Agora adivinhem quem?... E quem já conhece essa história está a ver aqui algo de muito semelhante, com o mesmo truque do precedente: a saída de Macau já ocorreu há 16 anos, mas quando se acabou de condecorar alguém com outra Torre e Espada por feitos ocorridos há mais de 40... Mas a palavra final disto tudo, não pode ser para as manigâncias de Rocha Vieira, tem de ir para Cavaco Silva: e o que se pode dizer mais dele?...

¹ Vale a pena contar aqui sumariamente e em rodapé, a história da Ordem Soviética da Vitória, uma condecoração em diamantes muito exclusiva outorgada apenas a 16 recipientes entre 1944 e 1945. A Vitória era, evidentemente, a da Segunda Guerra Mundial. Depois, em 1978 (ou seja 33 anos passados depois do fim da guerra), Leonid Brejnev (que adorava condecorações!) foi o 17º recipiente dessa condecoração exclusiva atribuída a marechais soviéticos ou por cortesia a homólogos aliados como Eisenhower e Montgomery, ou mesmo Tito. Acrescente-se que, o ridículo era tal que essa última condecoração a destempo foi oficialmente revogada ainda no período soviético por Gorbachev (1989).

A RAMPA

Episódios como o fotografado acima deixam-me dividido entre a severidade excessiva da sanção a quem prevaricou e o indiscutível, por inesquecível, efeito pedagógico e dissuasório que a mesma sanção contém quanto à repetição futura do mesmo episódio...

13 dezembro 2015

«(I CAN'T GET NO) SATISFACTION»

A capa da edição da revista LIFE de 13 de Janeiro de 1967 procurava dar aos norte-americanos uma ideia ainda mais alargada do conflito vietnamita, o conflito no amplo delta do rio Mekong onde eles se haviam instalado com as pequenas embarcações armadas do que costumam designar pela marinha de águas castanhas. A intenção era impedir o fluxo de reabastecimentos que chegavam ao vietcong por essa via fluvial. O instantâneo não escapa, porém, a que se possa tirar dele uma interpretação tão lúdica quanto militar, intenção essa que se pode reapreciar uma dúzia de anos depois, numa das cenas paródicas de Apocalypse Now, o filme de Francis Ford Coppola.

«ACABARAM DE GAMAR UM BOEING QUE ESTAVA ESTACIONADO NA PLACA DO AEROPORTO!»

Apareceu recentemente a notícia da busca do proprietário de três Boeings 747 que pareciam ter sido esquecidos na placa do aeroporto de Kuala Lumpur na Malásia. Parece que o dito já apareceu para recuperar os pertences tendo, para que o possa fazer, que pagar as taxas aeroportuárias que entretanto se foram acumulando nos últimos meses e que montarão nesta altura, decerto, a alguns milhões. Mas, e se os proprietários quisessem recuperar os seus aviões sem pagar as dívidas? Deve ter sido qualquer coisa do género que os proprietários de um Boeing-727 (matricula N844AA) se lembraram de fazer em 2003. Durante quase 25 anos o aparelho pertencera à respeitável frota da American Airlines. Depois fora repintado e revendido a uma operadora que operava fretes aéreos em África, em pistas remotas em que só a proverbial potência e solidez de construção dos Boeings-727 tornava possíveis operar. Era num aeroporto africano (embora dos mais sofisticados), o Quatro de Fevereiro em Luanda (abaixo), que o avião aguardava há 14 meses que alguém avançasse...
...com os quase 4 milhões de dólares necessários para o libertar quando aconteceu o episódio que aqui se conta, em 25 de Maio de 2003. Angola, o país onde marketing directo pode ter um outros significado, é um local cheio de possibilidades impossíveis no resto do Mundo: ao anoitecer um grupo de pessoas – de que se identificaram apenas duas pessoas: um engenheiro de voo com brevet de piloto particular de nacionalidade norte-americana e um mecânico congolês – puseram-se ao comando do Boeing-727 – que estivera a ser recuperado nos dias anteriores em plena placa perante o desinteresse dos responsáveis do aeroporto – e, com as luzes apagadas, com o transponder desligado e, sem contactar a torre de controlo, nem sequer respondendo às chamadas, entraram na pista principal e descolaram, assumindo uma rota em direcção a sudoeste quando no ar. Desnecessário será dizer que nunca mais houve notícias do avião e dos tripulantes identificados, mas o mistério que subsiste não parece incomodar especialmente as autoridades angolanas, afinal as mais lesadas por ele.

12 dezembro 2015

TSINGTAO: DA DESIGNAÇÃO DA MAIS CONHECIDA CERVEJA CHINESA PARA A DA MAIS IMPORTANTE POSSESSÃO ALEMÃ NA CHINA

A cerveja mais vendida na China é uma conhecida pela designação comercial de Snow, mas se pedirmos uma cerveja de origem para acompanharmos a comida no restaurante chinês o mais provável é que nos sirvam uma Tsingtao. A Tsingtao deve-se a cervejeiros alemães que em 1903 fundaram na cidade homónima do Norte da China (província de Shandong) uma das primeiras instalações industriais para o efeito. Refira-se que Tsingtao, assim como a área circundante da baía de Kiauchau (552 km²) eram administradas directamente pela Alemanha como se de uma colónia se tratasse. Esse modelo de ocupação pelas grandes potências da época era, aliás, um figurino comum ao longo das costas da China: ao Sul os britânicos ocupavam Hong-Kong (1.031 km²) e os franceses Kouang-Tchéou-Wan (1.295 km²) – além dos portugueses e a sua histórica possessão de Macau (16 km²) que já existia desde o Século XVI;
a Norte, mais próximos da capital Pequim e dos teóricos centros de poder de um Império da China cada vez mais vacilante, conforme se pode ver no mapa, os alemães de Tsingtao vigiavam-se aos russos sediados em Porto Arthur (512 km²), aos britânicos em Weihawei (750 km²) e mesmo aos japoneses que, já senhores da península da Coreia, lançavam os seus olhares ambiciosos a partir de Seul para a China propriamente dita. O interesse em ocupar todas aquelas posições portuárias, judiciosamente localizadas, era, obviamente, o de controlar o comércio da China com o exterior.
Tsingtao, com a baía envolvente, um dos melhores portos da China, era a base da Esquadra naval alemã da Ásia Oriental e as infra-estruturas necessárias para o acomodar foram construídas durante os 16 anos de ocupação alemã (1898-1914). O período foi de rivalidade tão intensa quanto a prosperidade económica que terá gerado, mas a multipolaridade do conflito foi de curta duração: em 1905, os japoneses expulsaram os russos de Porto Arthur e em 1914 fizeram o mesmo aos alemães de Tsingtao, aproveitando a eclosão da Primeira Guerra Mundial. Os nipónicos ficaram por lá nos oito anos seguintes (1914-1922).
Data dessa época a criação de relações suficientemente próximas com a Coreia (então colónia japonesa) para fazerem com que Tsingtao (que passou a ser conhecida por Quingdao) seja, de entre as cidades da China, aquela onde reside a segunda maior comunidade coreana (a seguir à da capital Pequim) com cerca de 100.000 pessoas. Permanecendo cosmopolita, a cidade voltou a ser ocupada pelos japoneses em 1938, agora por ocasião da Segunda Guerra Sino-japonesa (1937-1945), e novamente aproveitada como base naval pela marinha imperial japonesa. A foto aérea acima, de 1944, mostra-nos essa mesma base naval como alvo dos bombardeiros norte-americanos. Num remate irónico, em que já se viu que a história de Quingdao é fértil, foram esses mesmos norte-americanos que vieram ocupar por sua vez a base para servir de Quartel-General à sua VII Esquadra (1945-1948).
Numa fotografia de Quingdao desse período pode apreciar-se um out-door de promoção ao novo Ford Mercury de 1949, numa indicação daquela prosperidade que costumava subsistir à volta dos estabelecimentos militares norte-americanos no estrangeiro e que se adivinha com os dias contados, com o estabelecimento próximo do regime comunista da República Popular da China. Mesmo assim, e apesar da brevidade da presença alemã, não deixa de ser curioso de como a parte antiga da cidade manteve a traça europeia. Nesta última fotografia do centro da cidade, onde não aparecem pessoas e com a Catedral Católica de São Miguel ao fundo da rua, até se podia imaginar que se estava numa cidade da Europa central.

11 dezembro 2015

«MADE IN PORTUGAL»

A confirmarem-se as notícias da detenção do dono do conglomerado chinês Fosun por motivos de que apenas se pode por agora especular, o que se pode desde já adiantar é que este episódio provocará decerto uma melhoria da nossa avaliação colectiva sobre a pessoa de Ricardo Salgado. Entre uns e outros indícios de escroqueria, parecer-nos-á límpido que será dispensável andar a importá-los aos ditos (...protagonistas) da China, ainda por cima a pretexto de privatizações que, a prazo, se arriscam a revelar-se, para além de um encaixe financeiro e de uma proclamação ideológica, também um tremendo embaraço político para o PàF... Adenda, mesmo a propósito: a Moody's altera o rating da Fosun para negativo...

A ARITMÉTICA, A POLÍTICA E DE COMO UM ANO É MUITO MAIS DO QUE O NATAL

Aprecie-se como em política até a lógica aritmética pode desaparecer. Constatara o INE em finais de Setembro último - e a comunicação social estava talvez demasiado entretida com a campanha eleitoral para lhe prestar a devida atenção - que no final do primeiro semestre de 2015 o défice orçamental atingira os 4,7% do PIB. O que obrigava, para se atingirem os objectivos propostos de um défice de 2,7% no final do ano e simplificando cálculos, a que as contas do Estado decorressem fenomenalmente bem no segundo semestre de 2015: o défice não poderia ser superior a 0,7% do PIB neste semestre que ainda decorre*. Não decorreu fenomenalmente bem e é a Mário Centeno, que herdou a execução no último mês do ano, que se quer que precise agora de um pequeno milagre de Natal (como se escreve no i abaixo). Eu, por mim, sou mais de pedir responsabilidades à senhora acima e, em vez de milagres de Natal e de músicas com sinos apropriadas à época, lembrar um sucesso de um conjunto denominado Fúria do Açúcar de há muitos anos que falava das quatro estações do ano e se intitulava: Eu gosto é do Verão...
* 4,7% + 0,7% = 5,4% do PIB semestral, equivalente a 2,7% (5,4%: 2) do PIB anual.