30 julho 2015

O ENSAIO NUCLEAR DO AIR-2 GENIE


O Air-2 Genie foi um míssil ar-ar norte-americano concebido na década de 1950, notável por possuir uma ogiva nuclear de pequena potência: a capacidade explosiva equivalente a 1.700 toneladas (1,7 kton.) de TNT, o que representava 10 a 15% da potência da bomba nuclear que fora lançada em 1945 sobre Hiroxima. Mas a ogiva W-25 fora concebida com uma finalidade totalmente distinta da dessa sua longínqua antecessora. Tinha uma função táctica, a de, na eventualidade de uma Terceira Guerra Mundial e de um ataque nuclear da União Soviética, interceptar os bombardeiros soviéticos antes de eles atingirem os Estados Unidos. E, mais do que uma arma de precisão, era uma arma concebida para interditar toda uma zona aérea, não apenas por causa da explosão em altitude, como sobretudo por causa do efeito associado da pulsão electromagnética destruir os sistemas eléctricos e electrónicos do bombardeiro intruso. Era para evitar que o avião que lançava o Air-2 (que tinha um alcance inferior a 10 km) viesse a ser vítima da própria arma que transportava, que havia uma manobra de ataque muito específica para o seu emprego, conforme se pode apreciar na figura abaixo.
Ironias em que a Guerra-Fria foi fértil, o ano em que o Air-2 Genie foi considerado operacional (1957) foi o mesmo ano em que a União Soviética mostrou passar a dispor de misseis balísticos intercontinentais (ICBM) capazes de alcançar os Estados Unidos, quando do lançamento do primeiro satélite artificial (Sputnik-1). Acabado de entrar ao serviço, o Air-2 Genie ir-se-ia tornar rapidamente obsoleto por não poder desactivar um bombardeamento de ICBM soviéticos que, à reentrada na atmosfera em direcção aos alvos, estariam a percorrer uma trajectória balística, independente de sistemas electrónicos de orientação. Para isso seria precisa toda uma outra tecnologia, ainda hoje não aprimorada na Iniciativa de Defesa Estratégica. Mas o retoque desta história é o único ensaio do míssil que teve lugar em 19 de Julho de 1957. Sinal dos tempos, ainda se tentava cultivar uma imagem de convívio com o nuclear. Para isso, cinco oficiais da USAF em farda de verão mais a equipa de reportagem foram filmados na vertical do local previsto para a explosão, a 18.000 pés acima deles. A punch-line era explicar que qualquer deles seria exposto a 1/100 da radiação que se recebe com uma vulgar radiografia. Mas a atitude dos figurantes é de uma falsa descontracção e a linguagem corporal do grupo acaba por não nos enganar: quando da explosão, há dois oficiais que instintivamente se agacham, outros dois protegem os olhos com a mão em pala, só um deles - o que trouxe os óculos escuros... - olha para cima, cumprindo o script.

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