11 julho 2015

DO IMPASSE POLÍTICO DO MARCELISMO PARA O DA EUROPA DA ACTUALIDADE

A União Europeia vive um momento de impasse político a fazer lembrar o ambiente que se vivia em Portugal no Outono de 1973, quando das últimas eleições legislativas do Estado Novo, a que a Acção Nacional Popular (ANP) acabou por concorrer sozinha.

- Ocupando a totalidade dos lugares da Assembleia Nacional, hegemonizando-a, a ANP era um conglomerado de facções que não divergiam quanto ao essencial – o problema colonial – assim como agora não parecem existir divergências substantivas quanto ao essencial da política europeia entre os três maiores agrupamentos do Parlamento Europeu: os populares de Juncker, os socialistas de Schulz e os liberais de Verhofstadt. Entre os eurodeputados portugueses há uma certa dúvida sobre qual deles será mais federalista: Paulo Rangel ou Francisco Assis?

- Os antigos membros da Ala Liberal haviam desistido de reformar o regime por dentro e a grande maioria não se havia reapresentado às eleições de 1973. Também agora, com algumas ínfimas excepções, não se dá pelas direitas nacionalistas moderadas no Parlamento Europeu. Já nem se espera que elas sejam eurocépticas, espera-se que não sejam pelo menos euroincondicionais.

- As figuras socialistas que se haviam apresentado em 1969 pela CEUD estavam no exílio. O Partido Socialista fora fundado em Abril de 1973 na Alemanha mas não existia em Portugal. As figuras de proa socialistas actuais em termos europeus são do calibre de Martin Schulz e Francisco Assis. Este último representa a Europa em Portugal embora eu estivesse convencido que ele tinha sido eleito para desempenhar a função inversa...

- O Partido Comunista continuava a operar na clandestinidade, ressuscitando através da sua face legal, a CDE. Em 1973 apresentou-se às eleições para ter oportunidade de fazer campanha mas para não se apresentar às urnas. No Parlamento Europeu actual o manobrismo dos comunistas – veja-se o comportamento recente do KKE grego – tornou-os mais marginais que nunca.

- Quem possuía visibilidade na oposição ao regime eram organizações como o MRPP que pintava paredes e convocava manifestações proibidas (onde se sabia que ia haver confusão de antemão) ou então a LUAR ou o PRP que punham bombas e assaltavam bancos. Ontem como hoje e numa situação de impasse político a nossa atenção acaba por ser desviada pelas manifestações mais exuberantes de resistência, como parece ser o caso do Syriza.

- Para que a analogia seja completa só fica a faltar mesmo uma crise económica/financeira à escala mundial como a provocada pelo choque petrolífero a partir do Outono de 1973. Aí é que o marcelismo começou a colapsar. Para a Europa é improvável que o desfecho seja, como em Portugal, um golpe militar como o do 25 de Abril. Mas o prolongamento do impasse parece assegurar que a ruptura para o ultrapassar vai ter de ser violenta, uma probabilidade que apenas aumenta á medida que o tempo se esgota.

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