20 junho 2015

AS LEITURAS DE CADA UM(A)

O pretexto próximo para este poste em jeito de reflexão foi uma passagem significativa de um debate ocorrido há duas semanas entre Michel Onfray e Éric Zemmour. Por durar mais de uma hora e por decorrer em francês considero pretensioso inseri-lo aqui como sugestão ao leitor. Para quem tiver curiosidade e o quiser ver pode utilizar esta ligação. Gostei francamente do debate. Michel Onfray é um filósofo e Éric Zemmour será aquilo que em Portugal se designaria por politólogo, ambos cuidadosos na projecção da sua imagem mediática, imagens que se reflectem nos sucessos editoriais das obras que escrevem. Mas a passagem que me marcou nada teve a ver com o que escreveram, mas com aquilo que leram pois, por duas vezes durante o debate, ambos se sentiram na obrigação de vincar enfaticamente que haviam lido as obras sobre as quais elaboravam, respectivamente o Alcorão e A Minha Luta. E aquilo que qualquer um deles dizia, apesar das suas discordâncias recíprocas, mostrava que o haviam feito. É evidente que, em abstracto, não serão as leituras que os qualificarão com a autoridade para irem para ali discorrer, mas considero significativo que tenham sentido a necessidade de o acentuar, num reconhecimento do que pode ser a comunicação mediática da actualidade, onde se aceita que uns convidados em estúdio possam discorrer sobre o Islão ou o nazismo sem terem lido sequer os livros fundamentais das ideologias sobre as quais foram convidados a pronunciar-se.

Serve para exemplo concreto de um programa típico do género acima descrito aquele que teve o recente episódio da saída intempestiva de Manuela Moura Guedes. Não foi apenas a impertinência da pergunta (esclarecível por um qualquer livro de macroeconomia nos capítulos em que aborde o keynesianismo), foi a incapacidade de, entre as restantes, alguém lhe poder dar uma resposta fundamentada ainda que desdenhosa.

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