30 janeiro 2015

A BOLA, UM FORMATO JORNALÍSTICO TÃO PORTUGUÊS QUANTO O PASTEL DE NATA

Já aqui elogiei a capacidade como o fotógrafo Neal Slavin captou a nossa paisagem urbana única. Nesta outra foto, elogio-o pela forma como consegue captar a nossa alma através do olhar compenetrado dos dois leitores de A Bola a lerem-na num café. Com quase 50 anos (ainda A Bola era um trissemanário), a foto mostra-nos como somos, naquilo a que dedicamos atenção (não encontraríamos num café leitores de um Diário de Notícias tão concentrados quanto estes) e também nas nossas condescendentes hipocrisias: proclamando-se um jornal de todos os desportos, A Bola raramente dá destaque a outros desportos que não o futebol e nesse campo, embora nunca o assumindo expressamente, sempre foi um jornal conhecido por ser tendenciosamente benfiquista, do género de imparcialidade facciosa que todos os portugueses apreciam – se não fosse assim não se discutiria tanto a arbitragem em vez do jogo. Uma leitura atenta dos títulos permite datar a foto: Segunda-Feira, 5 de Fevereiro de 1968, 14ª e primeira jornada da segunda volta da época de 1967-68; o Sporting conseguira superiorizar-se à tangente ao Leixões em Alvalade por 3-2 e o Porto vencera claramente o Belenenses nas Antas por 4-0. Dali por seis meses o presidente do conselho cairia acidentalmente de uma cadeira de lona batendo com a cabeça mas isso serão assuntos que, suspeito, não virão a despertar uma atenção assim tão atenta daquela dupla de leitores. Antes disso, em Maio, o Benfica ganhara o campeonato.

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