19 dezembro 2014

OS TRÊS ÚLTIMOS HOHENZOLLERN

Hohenzollern era o nome de família dos reis da Prússia (1701-1918), depois imperadores da Alemanha (1871-1918). Guilherme II (1859-1941), o último a ostentar esses dois títulos (1888-1918) aparece ao centro da fotografia acompanhado do seu filho primogénito Guilherme (1882-1951) e do seu neto, primogénito do anterior, e também chamado Guilherme (1906-1940). A fotografia foi tirada nos Países Baixos em 1927, onde Guilherme II havia tido que se exilar depois do derrube da monarquia no final da Primeira Guerra Mundial. Há na fotografia um contraste interessante entre as semelhanças da hereditariedade (notória) e as diferenças de atitude de cada uma das gerações. Há o formalismo traquejado do avô Guilherme, encarnando a tradição, habituado a predominar em cena e que assume a pose para a fotografia cruzando os braços atrás das costas para esconder uma, mais do que conhecida, deformidade do seu braço esquerdo. O contraste é grande com a atitude de seu filho, uma mão casualmente apoiada nas costas, retirando implicitamente a dignitas que o progenitor quereria conferir à ocasião. A partir da pose é tentadora a especulação que, a pensar numa restauração, ele acharia que ela teria de ter lugar num figurino modernizado. As aproximações que tentou fazer a Adolf Hitler e os aproveitamentos que este último tentou fazer da sua pessoa vieram a demonstrar que seria demasiado ingénuo para a missão. O que nos leva ao ar compenetrado da geração mais nova, aquela que já não havia vivido as responsabilidades da representação e que tenderia a ver o destino dos Hohenzollern de uma forma mais abstracta. Com a mesma expressão séria do avô, ao contrário deste que olha altivo por cima, Guilherme fixa a câmara, como se o preocupasse ser, não parecer. O resto da sua vida comprová-lo-á. Casou com a mulher que gostava, morganaticamente, o que o fez ser excluído da sucessão. Veio a morrer por ferimentos recebidos em combate quando da campanha de França em Maio de 1940. Por uma vez, os feitos de um Hohenzollern incomodaram Adolf Hitler à conta do capital de simpatia pró-monárquico que o seu sacrifício provocara na opinião pública alemã. Na sequência e por decreto especial, todos os membros das dinastias das antigas monarquias alemãs foram proibidos de servir em unidades combatentes da Wehrmacht. Depois disso e depois de a Alemanha ter sido reduzida a ruínas em 1945, Hohenzollern tornou-se um apelido como outro qualquer.

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