25 dezembro 2014

A PROPÓSITO DO NATAL DE HÁ CEM ANOS NAS TRINCHEIRAS

O Natal de 1914 foi vivido nas trincheiras da Frente Ocidental¹ pelos soldados alemães, franceses e britânicos com o espírito de improvisada resignação que a foto acima documenta para o primeiro caso. Há um episódio associado a umas Tréguas de Natal celebradas tácita e explicitamente pelos antagonistas nessa quadra que foi originalmente um episódio menor que o tempo tem vindo a ampliar despropositadamente o significado. Ficará para outro dia explicar e fundamentar porque assim o penso. Para hoje queria, com o pretexto da data, recuperar o significado da solidariedade que há que prestar nestes dias para com os militares quando nestas circunstâncias e evocar os Natais que muitos veteranos portugueses passaram há mais de 40 anos em locais remotos de África e que provavelmente nunca mais esquecerão. Recorde-se quanto, nesses dias, era quase imperioso - e muito mal visto se assim não fosse porque os exemplos têm de vir de cima - que os comandantes-chefe visitassem o maior número possível de unidades durante a quadra e dessem mesmo o exemplo de passar a noite da consoada numa delas. Quando hoje vejo as organizações de caridade a realizarem ceias de natal com mais de uma semana de antecedência em relação à consoada e escolhendo datas que sejam o menos incómodas possíveis para a agenda dos benemerentes, pergunto-me por onde anda a parte do espírito de sacrifício que torna verdadeiramente genuína a vivência cristã da quadra que apregoam?


¹ Na Frente Oriental, por causa da diferença do calendário litúrgico dos Ortodoxos, os russos celebravam o Natal em data distinta da dos seus inimigos alemães e austro-húngaros.

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