19 novembro 2014

AS PANTUFAS DE SANTOS E PECADORES

Convencionou-se que fotografar alguém de pantufas equivale a fotografá-lo na intimidade. Albert Einstein (1879-1955) disputará com não mais que uma meia dúzia de concorrentes representar a benignidade da primeira metade do Século XX, um brilhantismo intelectual acompanhado de uma irreverência que, na sua mais famosa fotografia, o chega a infantilizar. Em contraste, Adolf Eichmann (1906-1962) estará na outra short-list, a da malignidade desse mesmo período, distinção a que não é indiferente o facto de ser um dos raros casos em que a maldade foi judicialmente sancionada, como imporia a Moral, se vivêssemos num Mundo perfeito. Einstein olha francamente para a objectiva, sentado num alpendre num dia que até nem parece muito frio ao ponto de justificar as pantufas, com um sorriso que nada pode desarmar, nem sequer o aspecto ridículo, felpudo, das ditas que o fazem parecer ter as patas de um elefante. As pantufas mais convencionais, caseirinhas, de Eichmann porém, parecem existir para o ajudar a expiar os seus pecados quando da sua detenção em Israel (note-se o arame farpado). Imerso nos seus pensamentos, Eichmann nem olha para a câmara mas também não parece resignado ao seu previsível destino, simbolizado pela cadeira vazia em primeiro plano, que ele preferiu ignorar.

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