19 outubro 2014

SONDAGENS «IN BEING»

Foram os estrategistas navais que inventaram o conceito das frotas de dissuasão (a expressão mais comum para as designar é a inglesa fleet in being). De que se trata? De uma força naval que, pela sua capacidade de fogo potencial, exerce uma influência significativa num Teatro de Operações naval sem necessidade de sair dos portos onde se alberga. Se o fizesse, a frota poderia perder a(s) batalha(s) que travasse e perder com a(s) derrota(s) a capacidade de condicionar a acção do inimigo. Mas, mantendo-se a recato, obrigará o inimigo a alocar uma frota com uma capacidade de fogo superior, para a eventualidade de ter de a defrontar. O exemplo canónico deste princípio aplicado na prática na História recente foi o da Hochseeflotte e depois o da Kriegsmarine alemãs nas duas guerras mundiais. Toda esta compactada explicação estratégica servir-me-á para enquadrar aquilo que penso se passará com sondagens como a que este fim-de-semana a CESOP publicou, onde se nota um crescimento abrupto das simpatias pelo PS e por António Costa. Politólogos pró-PSD foram convocados para dizer banalidades (Escreve-se num dos títulos: Barómetro foi contagiado pela conjuntura actual? E os barómetros costumam ser contagiados por que outros fenómenos que não as conjunturas? E, não sendo dos actuais, de há quanto tempo?...).
Do outro lado, jornalistas puseram-se a fazer contas absurdas (Aquele exercício sublinhado abaixo de adicionar as popularidades de Passos Coelho com a de Portas para a comparar a soma com a de António Costa é mesmo de quem não percebe nada do que está a fazer...). Porém, para lá das inanidades, as eleições só virão a ter lugar dentro de um ano. O que apenas mudou foi a situação estratégica. Como uma fleet in being, que ameaça sem que haja verdadeira confrontação, a publicitação encadeada de sondagens com resultados em que o PSD é derrotado fragorosamente são o fim do período onde as vantagens marginais alcançadas nas sondagens pelo PS de António José Seguro não eram de molde a assustar as bases que apoiam o governo. Pode-se querer transmitir de Pedro Passos Coelho uma imagem de teimosia e de persistência mas, ao contrário de Salazar, nunca o veríamos a escrever convincentemente que sabe muito bem o que quer e para onde vai. Por um lado, porque mesmo se soubesse, o PSD ainda é uma democracia - formada por militantes respeitosos mas, mesmo assim, é uma democracia onde não se gosta de perder eleições. E por outro lado, porque cada vez se percebe melhor como o núcleo ideológico que inspirava o Primeiro-Ministro se está a despovoar e ele já não saberá mesmo o que quer, muito menos para onde vai.

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