24 agosto 2014

AS GUERRAS QUE NÃO PRODUZEM ESTROPIADOS

aqui o registei mas nunca é de mais insistir o quanto os esforços militares de Portugal e de Cuba em Angola se equivaleram em recursos humanos engajados. Os portugueses de 1961 a 1974 (13 anos), tendo atingido um máximo de 65.000 efectivos em 1973; os cubanos de 1975 a 1989 (14 anos) e um máximo de 55.000 efectivos em 1988. Os portugueses sofreram 3.250 mortos; os cubanos 2.289 mortos (as duas cifras são oficiais). Segundo dados estimados da própria Associação dos Deficientes das Forças Armadas (ADFA) em Portugal, a acrescer haverá cerca de 1.500 veteranos que terão ficado estropiados em consequência das operações em Angola, uma permanente recordação das sequelas dessa guerra, um incentivo para a continuidade da sua discussão em Portugal até à actualidade.
Em Cuba não há nada disso. Não há muitas fotografias (esta acima é praticamente clandestina), não havendo fotografias de estropiados não há estropiados, e não haver estropiados simplifica qualquer discussão sobre o impacto da guerra internacionalista de Angola nos veteranos que a viveram. Isto parece ser uma daquelas vantagens concretas que os comunistas portugueses costumam apontar às sociedades socialistas cientificamente organizadas de que Cuba é uma das últimas ainda subsistentes. Ironicamente essa vantagem evidencia-se pelo contraste quando na própria Angola, num retrocesso capitalista lamentável, se procura chamar a atenção para as vítimas civis que ainda nos dias que correm são estropiadas pelo rebentamento de minas deixadas esquecidas no terreno em consequência da guerra.
Uma ironia colateral a esta história acaba por ser também a forma como a ADFA acabou por ficar conotada – pelo menos durante os tempos do PREC e os anos que se seguiram – com os comunistas por causa da forma como aqueles a manipularam como instrumento de pressão política na satisfação de algumas das suas justas reivindicações. Abaixo uma recordação dessa instrumentalização, uma reportagem da RTP realizada na época, em Setembro de 1975, apresentada mais recentemente no quadro das reconstituições da série televisiva Depois do Adeus (2012).

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