03 junho 2014

TELANGANA

Ontem, com a maior das discrições noticiosas, surgiu o 29º estado da União Indiana. Após as grandes cerimónias de independências do Século XX, estas reconfigurações das fronteiras internas dos grandes países são o que se lhes mais assemelha na grandiosidade da afirmação política de uma identidade cultural: o novo estado de Telangana tem 115.000 km² e mais de 35 milhões de habitantes – o equivalente à população da Polónia – ¾ dos quais falantes de telugu. Mas, apesar destas reconfigurações das fronteiras internas que se têm vindo a realizar na Índia privilegiarem a identificação linguística, o multilinguismo continua a ser uma constante política, como se percebe acima ao ver o selo do novo estado escrito em inglês, hindi, telugu e urdu.
Tem sido tão discreta quanto reflectida (e aparentemente bem sucedida!) a reconfiguração das fronteiras internas que se tem vindo a realizar na Índia desde a sua independência em 1947 (acima, a divisão administrativa em 1951). Tem sido um processo democrático e simultaneamente cauteloso. Os últimos casos de criação de novos estados haviam tido lugar em 2000: Chhattisgarh (135.000 km² e 25,5 milhões de habitantes), Uttarakhand (53.500 km² e 10 milhões de habitantes) e Jharkand (80.000 km² e 33 milhões de habitantes). Antes disso, acontecera em 1987, mas abrangera dessa vez pequenos estados com identidades culturais muito marcadas, caso da antiga colónia portuguesa de Goa (3.700 km² e 1,5 milhões de habitantes).
E, como se percebe pelo mapa acima, há mais hipóteses de estados em estudo. Mas o que é interessante em todo este processo é a forma compassada como ele tem decorrido. O processo de redesenhar fronteiras que esteve associado à independência indiana terá tido uma influência traumática e provocará a abordagem cautelosa que os políticos indianos têm dado mostras. Como se fosse importante preservar o ritmo a que procedem as transformações, para evitar traumatismos. Uma interessante reflexão para perceber porque a União Europeia chegou ao impasse onde se encontra, quando se compara o ritmo da sua evolução nos seus primeiros 35 anos de existência, desde o Tratado de Roma (1957) ao de Maastricht (1992) e depois disso

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