14 junho 2014

O PAPEL DAS ELITES

O Raid de Dieppe foi uma das mais inexplicavelmente desastradas operações anfíbias promovidas pelos Aliados durante a Segunda Guerra Mundial. Num só dia de combates (19 de Agosto de 1942) eles sofreram mais de um milhar de mortos e os alemães fizeram cerca de dois mil prisioneiros¹, embora houvesse que criar depois alguns heróis a justificar a operação. O (então) tenente-coronel Dollard Ménard de 29 anos (acima) era um oficial canadiano que comandava o batalhão de fuzileiros Mont-Royal, unidade franco-canadiana como o seu comandante. Mal chegou a terra Ménard foi logo ferido e por duas vezes, no rosto e no ombro direito, mas continuou a encaminhar as suas tropas que desembarcavam para o fortim litoral que era o objectivo do seu batalhão. No meio do tiroteio que pairava sobre a praia, Ménard foi ferido mais três vezes, no punho, na perna e no tornozelo e foi desmaiado e esvaindo-se em sangue, sob o contínuo fogo inimigo que os seus homens o reembarcaram numa das lanchas, onde, pela conduta e pelos cinco ferimentos, veio posteriormente a ser condecorado com a Ordem dos Serviços Distintos (abaixo).
Uma visão distanciada do episódio far-nos-ia dizer que o tenente-coronel Ménard adoptou debaixo de fogo aquela atitude ética que se esperaria de um membro das elites naturalmente vocacionadas para liderar os seus homens pelo exemplo nem que esse exemplo fosse – e aí aparece a visão cínica do mesmo episódio – naquelas circunstâncias praticamente equivalente ao de um boneco-alvo numa barraca de tiro de uma feira. O exemplo será menor e os instintos associados poderão ser até primários, mas a lei é universal, a que estabelece que, se as elites pretenderem manter-se respeitadas, não se podem esconder em momentos de aflição. É nisto que eu creio que as artes militares não se distinguirão das da finança (por muito alta que esta seja...), quando se assiste ao comportamento de Ricardo Salgado e dos primos Espirito Santo em geral, escondendo-se atrás de um contabilista na assunção das responsabilidades da crise que afecta o banco com o seu nome. Tão mau quanto os problemas financeiros, o mérito intrínseco que se reconhecia à família como proprietária natural do BES parece agora posto completamente em causa com esta atitude envergonhada.
¹ O conjunto de mortos e prisioneiros representou mais de metade das forças Aliadas que participaram no Raid.

Sem comentários:

Enviar um comentário

Nota: só um membro deste blogue pode publicar um comentário.