09 maio 2014

AS CARAS QUE DEVIAM ENFEITAR A NOTÍCIA

O que verdadeiramente mais me aborrece na notícia posta a correr oriunda da Câmara de Rui Moreira a respeito da Casa Manoel de Oliveira (que afinal se descobre nada ter a ver com aquele que lhe empresta o nome) nem é o desperdício de recursos. É a forma anódina como a notícia é enfeitada, ora com uma fotografia da casa propriamente dita, ora com uma do realizador propriamente dito. As asneiras têm responsáveis e isso afigura-se-me mais importante do que a apreciação de mais um trabalho incriticável do arquitecto Souto Moura. As asneiras deste calibre têm até uma cronologia, que começa com o início do projecto em 1998, quando a Câmara do Porto estava sob a presidência de Fernando Gomes (abaixo, à esquerda), e vai até à cerimónia do início da sua construção em Dezembro de 2001, por ocasião do 93º aniversário do cineasta e a cinco dias antes das eleições autárquicas, pelo seu substituto Nuno Cardoso (à direita). Assegurando a continuidade do projecto, a vereadora da Cultura de então, Manuela Melo (ao centro), teve até o cuidado de explicar aos jornalistas que a ausência do realizador na cerimónia acima referida se devia a uma constipação. Pelos vistos, e apesar da idade, os problemas de saúde de Oliveira (que já conta 105 anos!), lá se foram resolvendo, os outros, que afinal não eram dele mas de todos os munícipes do Porto, é que nem por isso…
Os problemas da responsabilização política não se esgotam só porque os protagonistas se cansam e resolvem desistir da liça, como parece ser o caso dos três cromos da fotografia acima. A actividade política não é um jogo da apanhada infantil onde há um coito onde quem desempenhou cargos políticos se pode depois refugiar das críticas e da censura social a partir do momento em que abdicou das suas ambições. Mas, porque é um vício do jornalismo, a generalidade da comunicação social parece não conseguir compreender isso. É aliás com base nessa lógica que se percebe que o único alvo interessante de toda esta história será mesmo Rui Rio. Excluindo-o, não haverá qualquer interesse dar nomes aos bois. Ele é o único interveniente em que ainda há quem possa estar interessado em abater politicamente. E, por ter deixado passar uma década (uma década de impasse) sem ter resolvido o problema que herdara daqueles outros acima, não me surpreenderia de proximamente ver a cara de Rui Rio a enfeitar uma qualquer outra notícia sobre a Casa Manoel* de Oliveira

* Manoel com o, não conforme qualquer dos acordos ortográficos, o clássico ou o controverso, simplesmente de um arcaico posado.

1 comentário:

  1. A habitual impunidade no desperdício de recursos que não os dos próprios. Refira-se que o senhor à direita concorreu à CM do Porto, nas últimas autárquicas, como se tivesse tido uma passagem fabulosa e impoluta quando o acaso o atirou para a cadeira da presidência. Os resultados foram na exacta proporção do seu peso político.
    quanto à casa em si, vi-a no outro dia pela primeira vez, e fiquei pouco impressionado. Tem a sua graça, mas desilude por comparação às fotografias (o facto de ficar entre prédios mais ou menos alto não ajuda).

    ResponderEliminar