10 setembro 2013

O PREC DA DIREITA - 1

Há estilos e estilos de argumentar. Quando se argumenta progressivamente é-se mais subtil e as técnicas podem ser mais variadas e desses estilos falaremos noutra ocasião. E há o estilo de choque, quando o argumento(?) principal é lançado de supetão, método mais adequado para épocas de confrontação ideológica aberta, como foi o PREC, onde, por exemplo, o programa de rádio de esclarecimento político da Comissão Dinamizadora Central da Quinta Divisão do EMGFA não perdia sequer meio minuto do início para justificar porque é que o Portugal saído do 25 de Abril não poderia ambicionar ser outra coisa senão uma sociedade socialista sem classes… Houve quem tivesse baptizado os tempos correntes de PREC da Direita (liberal). E inícios de artigo como o que vou comentar abaixo, hoje aparecido no Diário Económico, levam-me a concordar totalmente com a expressão:

Para muita gente, nomeadamente de esquerda, os correios são um serviço público que apenas deve ser fornecido pelo Estado ou por uma empresa pública. Isto é preconceito ideológico. Não é verdade.

O texto pretender-se-á pedagógico, ostentando o título de Cuidados com a Privatização dos CTT, mas, como acontecia outrora com os textos radiofónicos da organização dirigida pelo Comandante Ramiro Correia, doutrina, não explica.

O Estado pode muito bem concessionar o serviço a privados. O Estado deve ter duas garantias. Primeiro, que não há perdas na qualidade do serviço. Segundo, que é um bom negócio para os contribuintes. Ou seja, que há uma boa receita com a concessão.

O problema é que, tal como o socialismo elogiado outrora pelos dinamizadores culturais do MFA, também esta privatização dos serviços postais não se pode só cingir à generalidade vaga dos princípios e das intenções. Havia o socialismo real dos soviéticos e países satélites e as filas para comprar papel higiénico. E há as entidades que se mostraram até agora interessados na privatização: os Correios colombianos e os Correios brasileiros (logotipo mais abaixo).

Assim, as questões essenciais na privatização dos CTT passam por garantir que o comprador é capaz de manter o serviço e maximizar a receita para os cofres do Estado.

Para este jornalista do Diário Económico parece não ser uma questão essencial o da identidade do vencedor do concurso, mas o que eu gostaria mesmo que ele me esclarecesse é qual o sentido de retirar uma actividade da exploração por uma entidade de capitais públicos portugueses para a concessionar a uma outra empresa que é controlada por outros capitais públicos só que de um outro país?...

Suspeito qual será o teor da resposta (nós procedemos bem, eles é que virão a aprender que estão errados) porque, como acontecia outrora com os alferes milicianos do MFA pós 25 de Abril, também esta geração de jornalistas e políticos deve estar convicta da superioridade moral da ideologia que abraçaram. Convirá contudo que compreendam desde já aquilo que é verdadeiramente essencial: que as ideologias se vão mas que os interesses nacionais permanecem.

2 comentários:

  1. O resguardo da direita ficou marcado na história, ao catalogarmos como extrema-direita os nazis e fascistas. Tudo o que não o seja é considerado moderado. Ao invés, na esquerda quem ouse ultrapassar a linha do centro tem como consequência ser marcado como extremista. Havendo uma revisão destes "estatutos" podemos chegar à conclusão que hoje somos governados pela extrema-direita.

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  2. O mapa que cruza esquerdas e direitas, moderações e extremismos parece-me consensualmente claro: há a direita democrática e a direita não democrática; há a esquerda democrática e a esquerda não democrática.

    A direita assumidamente não democrática não tem tido representação parlamentar em Portugal ao contrário da esquerda assumidamente não democrática que a tem tido através dos comunistas e agora através também dos bloquistas.

    Nos casos deste poste, mais do que a questão de posicionamento ideológico haverá uma questão de estilo, radical, sem atender às circunstâncias, assim como um pacifista que preconiza o desarmamento sem atender se o inimigo procede do mesmo modo.

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