02 maio 2013

ARITMÉTICA (IR)RACIONAL

Segundo os últimos censos (2011) Portugal tinha 10,6 milhões de habitantes e a Grécia 10,8 milhões, portanto será razoável admitir, ceteris paribus, que a dimensão do funcionalismo público não deverá ser muito diferente nos dois países. Segundo se lê numa notícia do Público, o parlamento grego aprovou no domingo passado uma lei que prevê o despedimento de 15 mil funcionários públicos até 2014, uma exigência da troika como contrapartida do financiamento externo. Segundo se lê mais adiante nessa mesma notícia, a administração pública grega contará actualmente com cerca de 700 mil trabalhadores.
Acontece que, consultando uma outra notícia mais antiga, publicada a 15 de Fevereiro nesse mesmo Público a respeito do mesmo assunto e para comparação, é-nos dado saber que o estado português perdera 28 mil funcionários ao longo de 2012, terminando o ano com 584 mil – ou seja, tratou-se de uma diminuição que é quase o dobro num ano daquilo a que a Grécia se comprometerá a fazer agora em quase dois. Conclui-se ainda da notícia que Portugal tem um contingente de funcionários que é inferior em cerca de 100 mil ao dos gregos, o que à luz das políticas de austeridade não poderia ser senão uma grande vantagem...
Considerada a insistência com que ouvimos que estes programas das troikas são muito técnicos e obtusos às realidades sociais, não pareceria proporcionado que as tais folhas de excel, impermeáveis às tragédias humanas, obrigassem os gregos a assumir um programa para o despedimento de, pelo menos, uns 100 mil funcionários públicos, para só assim receberem a próxima tranche de financiamento externo? Ou afinal, os tais programas tão rigorosos são afinal tão políticos (como sempre se suspeitou) que se dançam ao ritmo das resistências dos governos dos países intervencionados? É que aí estamos cá com um azar...

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