31 maio 2013

A EMANCIPAÇÃO DA ÍNDIA


O filme Gandhi inclui a cena marcante acima em que o protagonista é despejado sem qualquer dignidade de um comboio por insistir em viajar na 1º classe para a qual comprara o respectivo bilhete. A cena passar-se-á em 1893 na África do Sul e está cheio daquelas simplificações que ajudam a narrativa cinematográfica, incluindo o empregado negro admirado com a ousadia de Gandhi, o revisor bóer impermeável à argumentação, o passageiro snob ultrajado por aquela companhia. Na realidade, Gandhi ainda não estava autorizado a praticar advocacia na África do Sul (isso só viria a acontecer um ano depois), não há a certeza que Gandhi tenha sido atirado violentamente para o cais e, mais importante, quando reclamou, a companhia indemnizou-o com um bilhete para prosseguir a viagem no comboio seguinte… em 1ª classe.
Mas aquilo que não é óbvio no episódio e apenas se deduz dele, nomeadamente quando Gandhi reclama dizendo que viaja sempre em 1ª classe, é que aparentemente ele não se mostrará contrário a que haja uma estratificação social (não fossem as castas uma das marcas identificativas da sociedade indiana…), a injustiça que verdadeiramente o ferirá é a impossibilidade de lhe reconhecerem estatuto para exibir a sua distinção (apesar do seu fato ocidental…) e isso acontece apenas por uma questão de discriminação racial. Ora é esta combinação entre o entusiasmo pela cultura britânica e a ingenuidade perante os valores profundos dessa mesma cultura que melhor servirá de metáfora sobre o que considero ter sido o comportamento político adoptado pelas elites indianas antes e durante a Primeira Guerra Mundial.
Embora se pudessem identificar pelo menos duas facções entre os dirigentes do Congresso Nacional Indiano, com Gokhale a encabeçar a mais moderada e Tilak a mais radical, a mediana das atitudes do conjunto investiu no apoio a uma colaboração sem reservas com o Império durante a Primeira Guerra Mundial na espectativa de uma retribuição no fim: a autonomia, conhecida por Home Rule no idioma dos governantes, Swaraj no hindi dos governados. A espectativa não parecia descabida. Várias outras colónias britânicas haviam alcançado já esse estatuto, e eram agora conhecidos por Domínios. O Canadá em 1867, a Austrália em 1900, a Nova Zelândia e a Terranova em 1907, a África do Sul em 1910. Também a Irlanda se batia por ela e vi-la-ia a alcançar em 1922, embora por meios menos pacíficos…

As propostas de reforma apresentadas pelos britânicos em 1919, embora contivessem elementos de representação democrática, concedendo, por exemplo, o direito de voto a seis milhões e meio de indianos, o que equivaleria a cerca de 10% da população adulta masculina indiana à época, continuavam porém a concentrar o poder executivo nas mãos de um aparelho de funcionários que gravitava à volta dos Vice-reis britânicos que continuavam a ser nomeados por Londres – abaixo, dois deles, Lorde Reading (1921-26), à esquerda, e Lorde Willingdon (1931-36). Os indianos sentiram-se (creio eu que justamente) defraudados: não se tratava de um problema de direito de voto – na África do Sul só a minoria branca o tinha – era sobretudo uma questão de posse e exercício do poder – o 1º ministro sul-africano era Jan Smuts, um bóer não britânico...
A insatisfação indiana chocou-se com a intransigência britânica. As propostas que os segundos foram apresentando nos vinte anos seguintes apareciam desactualizadas pela radicalização das posições. Em 1937 o eleitorado indiano já contemplava trinta milhões de pessoas com direito a voto mas, em contraste, em 1939 o Vice-rei fez a Índia declarar guerra à Alemanha sem sequer ter consultado os dirigentes políticos indianos. Foi uma época em que, copiando Gandhi, os dirigentes já não se vestiam à ocidental (com excepções, como Mohammad Ali Jinnah). Os britânicos, para enfraquecer a oposição com que se defrontavam tentaram (e conseguiram) cindir o bloco nacionalista que os defrontava em linhas religiosas. O processo que conduziria à dolorosa independência da Índia (e do Paquistão) em 1947 estava lançado...

30 maio 2013

A «COMMONWEALTH» NOS DOIS APÓS-GUERRAS

Considerar o Império Britânico como uma unidade política ajudava a que, no final da Primeira Guerra Mundial, a contabilização do esforço do Reino Unido pudesse ser considerado como superior ao de qualquer das grandes potências vencedoras, tendo mobilizado cerca de 9,5 milhões de soldados, contra os 8,4 da França, os 5,6 de Itália ou os 4,7 dos Estados Unidos. Claro que para alcançar esse total havia que contar com as contribuições vindas de todo os domínios e colónias espalhados pelo mundo, como se pode ver pelo mapa acima e também pelos cartazes apelando aos voluntários abaixo: na Austrália, no Canadá, na Escócia ou na Irlanda.



Comparando o mapa inicial com outro semelhante mas agora a respeito dos esforços dispendidos durante a Segunda Guerra Mundial, mostrar-se-á que o engajamento do Império foi até superior ao do conflito precedente.
Porém, neste caso, tem de se comparar os mais de 11 milhões de mobilizados pelo Império Britânico com os mais de 12 milhões que foram mobilizados pelos soviéticos assim como outros tantos que o foram pelos norte-americanos. À luz desta contabilidade, o Reino Unido tinha agora uma posição equiparada no quadro das grandes potências vencedoras do conflito. Além disso, fragilizando-a, a fantasia da unidade política dos membros do Império dissipara-se quando Austrália, Índia ou Nova Zelândia se haviam visto alvo de ameaça de invasão japonesa, quando o assunto não era prioridade para a metrópole. Abaixo, numa fotografia de conjunto que, cada vez mais, não passava disso mesmo, uma fotografia de conjunto, e da esquerda para a direita, vêem-se os primeiros-ministros do Canadá, da África do Sul, do Reino Unido, da Nova Zelândia e da Austrália em Londres em Maio de 1944.

RIHANNA & ROBIN

Não há dúvida que a estética evolui com as gerações. É assim que Robin, que foi na década de 1960 o discípulo de Batman, o Homem Morcego, o super-herói gótico que evoluía pelas noites tétricas de Gotham City combatendo o crime, bem poderia, com a indumentária e a pose acima, ter complementado José Castelo Branco como figurante do espectáculo dado recentemente por Rihanna em Lisboa. Mais a sério: qualquer público que tolera um atraso de três horas sem depois manifestar o seu desagrado merece tudo, até mesmo que o Vítor Gaspar lá aparecesse para os qualificar de melhor público do mundo

29 maio 2013

PREVISÕES, COMPROMISSOS E PROMESSAS


É mais mester dos blogues especializados em traulitada política (o 31 da Armada ou a Câmara Corporativa, por exemplo) destacar as promessas passadas e incumpridas dos seus oponentes, mas vou aqui abrir uma excepção quando soube que, quando apertado em comissão parlamentar e ao fim de quase dois anos de governo, Vítor Gaspar veio responsabilizar o governo socialista anterior por se ter colocado numa má posição negocial para o pedido de resgate que teve de efectuar em 2011. Provavelmente será verdade e também seria deselegante Vítor Gaspar dizê-lo quando tomou posse, mas agora torna-se despropositado dizê-lo, quando já será a responsabilidade do sucesso da condução da política financeira do próprio Gaspar durante os dois últimos anos a poder ter-lhe dado a margem de manobra para rever o que ele julga ter sido mal acordado inicialmente. Aliás, se vale a pena recapitular o que de mal se percebe hoje sobre o que se fazia e dizia por essa mesma época, recorde-se a respeito da gestão financeira deste governo que…
…o próprio Vítor Gaspar previa que a economia portuguesa estivesse a recuperar de uma forma expressiva em 2013,…
…Passos Coelho comprometia-se totalmente com os objectivos do memorando que se descobre agora tão mal negociado…
…e Carlos Moedas não tinha dúvidas que as notas do rating das agências de notação financeira iriam voltar a subir por causa do sucesso das reformas do PSD.
Digam lá, ainda a pretexto de notas, se o que falta aqui nesta última fotografia não serão mesmo as orelhas de burro?...

28 maio 2013

OS DOIS MARECHAIS E A CAMPANHA DA NORMANDIA

Nesta fotografia, descaradamente posada para fins de propaganda, juntam-se dois dos mais proeminentes Marechais-de-Campo alemães da Segunda Guerra Mundial, Gerd von Rundstedt (1875-1953), à esquerda, em representação dos seniores, e Erwin Rommel (1891-1944), em representação dos juniores. Há 16 anos a separá-los, assim como um desdém recíproco que é mais conhecido da parte de Rundstedt que junto dos homens do seu “staff” não se inibia de tratar o seu camarada desdenhosamente por bubi marschall (marechal bebé), por causa da sua ascensão fulgurante. Mais discreto, o desdém de Rommel exprime-se e esconde-se numa condecoração que ele usa por detrás das Cruzes de Ferro que ambos envergam: a Pour Le Mérite, a condecoração mais prestigiada da Alemanha imperial, conferida por excepcionais feitos de bravura em combate, e a que Rundstedt nunca poderia aspirar por ter passado a Primeira Guerra Mundial principalmente nos papéis, em funções de estado-maior. 

Mas, mais do que diferentes concepções de prestígio – aquilo que o primeiro consideraria arrivismo e o outro meritocracia – são as concepções tácticas que os separam em Dezembro de 1943, data da fotografia: como reagir ao mais do que provável desembarque dos Aliados que se espera na Frente Ocidental nos próximos meses (terá lugar a 6 de Junho de 1944). Rommel quererá travar os invasores ainda nas praias, antes que eles se consigam organizar; Rundstedt considera que o momento crucial será outro e é para esse que é preciso estar preparado: quando das ofensivas que os Aliados serão forçados a desencadear após os desembarques. Para o desenrolar da Campanha da Normandia terá prevalecido a concepção de Rundstedt, mas o desfecho não teria sido muito diferente nem muito menos sangrento da forma preferida por Rommel. Que se tome isso como uma lição para quem espera uma inflexão política significativa na Alemanha depois das próximas eleições deste próximo Outono…

SE CAVACO TIVESSE PERDIDO A ELEIÇÃO «POR UM FIO», ENTÃO TÊ-LA-IA PERDIDO PARA QUEM?

Acima vê-se o início da crónica do Vasco do passado Domingo no Público zupando (adivinhem lá...)em Cavaco Silva. Atente-se à passagem sublinhada, e reflicta-se sobre o que poderá o Vasco querer dizer – se alguma coisa válida… – com aquela referência a uma eleição que Cavaco não perdeu por um fio. Suponho que Vasco se estará a referir às últimas eleições presidenciais, onde Cavaco recebeu apenas 2.232.000 votos, que foram, mesmo assim, mais 1.400.000 votos do que o candidato que ficou colocado em segundo lugar, Manuel Alegre. Onde para que este último ganhasse uma hipotética segunda volta, teria que praticamente triplicar os 833.000 votos que rebera no sufrágio inicial. É caso para questionar pertinentemente, na onda de mais este delírio do Vasco: se Cavaco perderia por um fio, perderia para que vencedor? É uma chatice quando estas realidades perturbam as análises do Vasco, mas reconheça-se que a culpa nem é exclusiva dele, antes da legião intelectual-urbana dos seus admiradores imbecis.

Sabe-se quanto Cavaco Silva é malquisto por aquela classe urbana que se considera a elite cá do sítio (onde também me insiro...) e como essa classe tem uma grande relutância em se assumir como co-responsável pela mediocridade em que o país se atascou. Mas, mesmo quem não aprecie Cavaco Silva (como eu), e no que diz respeito à expressão da vontade popular, tem de se reconhecer que, no seu historial político, de entre as seis eleições a que se apresentou (1985, 1987, 1991, 1996, 2006, 2011), Cavaco Silva venceu cinco, quatro delas com maiorias absolutas... Eu não tenho grande consideração por Cavaco, mas tenho que ter ainda menos consideração pelo Vasco que, perante factos, ainda me vem tentar impingir este tipo de argumentação onde parece querer fazer passar por whisky com soda o Alka-Szeltzer que tem de tomar para a azia...

27 maio 2013

O ESPERANTO E O VOLAPÜK

O esperanto e o volapuque são duas línguas artificiais, com gramáticas sem verbos irregulares nem casos especiais, inventadas nos finais do Século XIX por um médico polaco e um padre alemão, respectivamente. Não são aparentadas mas a ambição de quem as inventou e de quem depois apoiou a sua divulgação foi a mesma: que viessem a ser adoptadas, pela simplicidade e racionalidade da sua estrutura, como idioma universal. Mas a ambição provou-se excessiva. Mesmo que ao longo do Século XX o francês tenha sido progressivamente substituído pelo inglês como idioma predominante para a comunicação internacional, qualquer daqueles dois idiomas nunca teve qualquer hipótese de vingar. Na segunda metade do Século passado o domínio delas já se reduzira a uma curiosidade útil para quem se prontificava a exibir os seus dotes linguísticos (acima). Acessoriamente, as referências ao esperanto e ao volapuque passaram a servir como um exemplo erudito para desqualificar projectos de internacionalismo descabido, como o fez o General de Gaulle nesta passagem de uma das suas famosas conferências de imprensa, em 15 de Maio de 1962, a propósito da integração política europeia.

Não tivesse sido assim, Vítor Gaspar seria aquele género de pessoa que, quase apostaríamos, seria hoje empenhadamente fluente em volapük

A TEMPESTADE

Se observarmos a fotografia acima de Jacques Henry Lartigue (1894-1986), o que lhe dá força e nos prende a atenção é a reacção das pessoas à fúria dos elementos. Pode haver admiração pela força do vento que entorta as folhas da palmeira ou pela densidade do spray das ondas que se adivinha pairar no ar, mas isso torna-se secundário ao lado dos ares compostos dos traseuntes e à pergunta porque se passeará tanta gente (veja-se ao fundo) pela beira-mar com aquele tempo... As crises, tomadas como desastres provocados pelo homem e não pela natureza, também são para ser consideradas assim: não é possível fixar por muito tempo as atenções dos observadores nos seus fenómenos meteorológicos, o que tem interesse são as suas implicações humanas.

26 maio 2013

OBÉLIX E O URSO GRELHADO

A Grande Travessia é uma aventura de Astérix e Obélix onde os dois heróis gauleses chegam acidentalmente à América. Num dos episódios da aventura, que sempre considerei de pouca pertinência e de gosto duvidoso, Obélix encontra, caça e come um urso inteiro. O eventual efeito cómico que possa existir das estrelas à volta da cabeça do urso, sinal do atordoamento provocado pela potência do soco de Obélix, são desmentidos pelas imagens seguintes em que se percebe que o urso foi morto, esfolado, cozinhado e comido.
Mas a propósito desta disposição de Obélix por carnes exóticas e por novas experiências gastronómicas (é o próprio a reconhecer que não há ursos perto da sua aldeia), vale a pena ficar a saber que, para além da da América, tradições gastronómicas tão distintas quanto a finlandesa (acima) ou a japonesa (abaixo) incluem a carne de urso nos seus menus.

ROMA CRIMINAL


Apesar da aparente multiplicação da oferta televisiva gerada pela aparição da televisão por cabo, a acentuação simultânea da dependência das fontes de produção norte-americana faz com que séries de grande qualidade, como acontece com este excelente Romanzo Criminale, se possam tornar agora mais difíceis de encontrar do que, por exemplo, uma sua antecessora com a mesma origem italiana e de tema policial aparentado, intitulada La Piovra (O Polvo), que marcou a década de oitenta.         

25 maio 2013

O PAPEL DE RÓMMEL NA CAMPANHA DA POLÓNIA

O papel do famoso Erwin Rommel (1891-1944) durante a Campanha da Polónia que abriu a Segunda Guerra Mundial em Setembro de 1939 foi até bastante discreto: passou-a longe da frente, como comandante do batalhão de segurança de Adolf Hitler. Responsabilizando-se pela segurança da parada da vitória que teve lugar em Varsóvia a 5 de Outubro, os polacos ter-lhe-ão simplificado a vida, esvaziando as ruas de transeuntes (abaixo).
O Rommel que desempenhou um papel central durante aquela Campanha chamava-se Juliuz Rómmel (1881-1967) e combateu do outro lado. O Rómmel polaco assumiu inicialmente o comando do Exército de Łódź (os exércitos polacos recebiam a designação da cidade onde tinham o QG) e, depois do insucesso em deter a ofensiva alemã, o do Exército de Varsóvia, cuja capitulação, a 28 de Setembro de 1939, representou o fim da Campanha.

24 maio 2013

ISTO É QUE DEVE SER PROMOÇÃO DE IMAGEM!

Ao contrário da de um primeiro-ministro comum do poste anterior, veja-se o que é uma promoção profissional de um produto: há coisa de duas semanas a notícia da construção de uma arma construída a partir de peças criadas por uma impressora de 3 dimensões tornou-se notícia (acima), trazendo a tecnologia para a ribalta, envolta simultaneamente em notoriedade (o site por onde se copiavam as peças rebentou ao fim de 100.000 carregamentos) e controvérsia (as autoridades norte-americanas manifestaram a sua intenção de a proibir). Quem está interessado na promoção das vendas das impressoras com a tecnologia 3 D quer o sucesso das vendas mas sem controvérsias associadas e será por isso que as notícias sobre o assunto se devem deflectir para o seu lado benemerente como a notícia de hoje onde se anuncia como, através de uma prótese (abaixo), a Impressora 3D salvou a vida a bebé de dois meses

DE UM ANO PARA O OUTRO…

Por esta mesma altura do ano passado a notícia, a abrir telejornais (acima), era que Pedro Passos Coelho tinha sido vaiado quando decidira ir à Feira do Livro à civil. Se este ano ele decidir lá ir também, só a intenção será logo notícia… porque entretanto caiu a intenção (mas também a plausibilidade) de fazer passar o Pedro por um tipo normal, propenso a desabafos no facebook.  

23 maio 2013

UMA AUSÊNCIA FLAGRANTE

Domingo, 8 de Dezembro de 1918. Ainda não se passara um mês depois do Armistício que pusera fim à que então ficara conhecida por Grande Guerra. A cidade de Metz, capital da Lorena, que a França perdera em 1871 para a Alemanha, acabara de ser reocupada pelos franceses como o Le Petit Journal desse mesmo dia proclamava em toda a sua primeira página. E deliberadamente os franceses elegiam-na para local da cerimónia de entrega do bastão de Marechal de França àquele que fora um dos grandes vencedores do conflito: Philippe Pétain. Do lado direito da fotografia abaixo, vê-se o Presidente da República Raymond Poincaré que iria proceder à entrega do bastão, acompanhado ao seu lado direito pelo Presidente do Conselho e chefe do governo, Georges Clemenceau. São os dois únicos protagonistas civis da cerimónia. Ao centro está o homenageado envergando uma farda clara. Por detrás perfilam-se as altas patentes francesas e aliadas. Da esquerda para a direita, identifica-se o Marechal Joseph Joffre, o General Maxime Weygand, ligeiramente mais recuado que os restantes, e o Marechal Ferdinand Foch, todos franceses; seguem-se o Marechal Douglas Haig, britânico, o General John Pershing, norte-americano, o General Cyriaque Gillain, belga, ligeiramente encoberto, o General Alberico Albricci, italiano, e o General Józef Haller, polaco.
O que será significativo para nós, nesta fotografia em que estão representados ao mais alto nível todos os exércitos presentes na Frente Ocidental (até mesmo o recém-formado exército azul polaco), é a ausência na cerimónia de um oficial general português. Pesquisei, mas não consegui encontrar explicações para aquele lapso tão flagrante, mas sejam as explicações atribuíveis a uma ausência involuntária da parte portuguesa ou a uma descortesia voluntária da parte francesa, o pormenor não terá deixado de ter tido o seu significado e as suas repercussões. Note-se que na época Portugal era dirigido pelo Presidente Sidónio Pais, reputado interna e externamente pela sua germanofilia, que então procurava apanhar o comboio da vitória: uma semana antes, a 30 de Novembro, numa sua distribuição de honras nacionais também ele condecorara os Marechais Foch, Haig e Joffre com Grã-Cruzes das Ordens da Torre e Espada e de Santiago da Espada. Porém e por coincidência, registe-se que Sidónio Pais viria a morrer assassinado no Sábado seguinte, a 14 de Dezembro de 1918.