05 fevereiro 2013

AS ESCURIDÕES MAIS CLARAS

No Domingo passado, quando os Estados Unidos viviam um dos momentos altos da época desportiva-televisiva com a transmissão da final do campeonato de futebol americano assistida por dezenas de milhões, registou-se uma falha de electricidade que deixou o estádio às escuras. Ficou assim durante 34 minutos (acima) e não é difícil adivinhar o teor dos insultos que os milhões de espectadores endereçaram aos responsáveis da EDP local (chama-se Entergy) durante aquela meia hora. Nisso os comportamentos equivaler-se-ão de um e outro lado do Atlântico. Será assim com a genuína opinião pública, mas não é assim com a opinião publicada… Num país conhecido pela meticulosidade com que a sua comunicação social aproveita todos os fait-divers nestas ocasiões, que já foi capaz de trucidar Janet Jackson por causa da exposição de um mamilo (abaixo), a bronca de um episódio que conseguiu emerdar a arrumação das centenas de milhões de dólares de publicidade que valem um prime-time televisivo está a receber um tratamento estranhamente benigno. A ponto do comunicado da Entergy remeter a justificação do incidente para uma das partes do equipamento que registou uma anomalia no sistema (…) conduzindo a que o fornecimento de energia ao estádio fosse parcialmente cortado para que a anomalia fosse identificada. Em suma: não fazem a mínima ideia do que aconteceu… mas também não têm vergonha nenhuma disso. Também é provável que se safem melhor quanto à reputação do que Janet Jackson…
É por causa de tudo disto que António Mexia deve andar com pena que a sua EDP opere num país retrógrado como Portugal. Quando há cerca de duas semanas o mau tempo provocou interrupções no fornecimento de energia eléctrica em várias regiões do país, a EDP não teve mãos a medir. Mas quando António Mexia, passado três ou quatro dias, quis fazer um ponto de situação técnico (No primeiro dia ficaram repostos mais de 90% das pessoas que tinham sido afectadas, no segundo dia 97% e, hoje, estão repostas mais de 99%) naquele seu estilo dinâmico adequado à sua imagem pública, a coisa correu-lhe mal… Correu mal porque alguns autarcas (o de Pombal, o de Penacova) vieram colocar rostos aos menos de 1% de afectados que, mesmo assim, ainda eram vários milhares. Os autarcas tornaram-se naquele momento porta-vozes de uma mentalidade que ainda valoriza a componente social do fornecimento de serviços que em muitas habitações portuguesas só foram instalados nos últimos 50 anos: água, electricidade, gás, telefone. Apesar de todas as privatizações, por aquela lógica, uma falha de um deles não é pormenor de um serviço mal prestado, não se compara a uma carreira de autocarro que não apareceu. E não deixa de ser interessante perceber as razões ideológicas porque se evita que isso seja compreendido assim nos Estados Unidos. Basta comparar-se com o que seriam os comentários e as culpas caso o episódio da falta de energia tivesse ocorrido no estádio onde se disputará a final do campeonato das nações africanas de futebol na África do Sul…

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