27 janeiro 2013

A DIMENSÃO DAS NAÇÕES

Publicado em finais de 2003 e então recomendado pela revista The Economist, comprei e ainda hoje guardo ciosamente este livro acima, The Size of Nations, que se tornou para mim num excelente exemplo das limitações de uma certa forma de tentar adaptar a análise económica a assuntos que dela nada beneficiam, sobretudo quando isso é feito de uma forma que a isola de outras disciplinas mais pertinentes. Copiando e traduzindo a apresentação do livro que consta da sua badana pode ali ler-se que os autores deste livro tão oportuno quando provocador usam os instrumentos da análise económica para investigarem a formação e a evolução das fronteiras políticas. Argumentam que, embora o assunto se revele essencial em qualquer análise histórica, os economistas que se dedicam à vertente internacional sempre tenderam a considerar a dimensão de um país como algo “exógeno” (…). (Os dois autores, Alberto) Alesina e (Enrico) Spolaore(,) consideram que as fronteiras de um país podem ser sujeitas ao mesmo género de análise que qualquer outra instituição criada pelo Homem. Em A Dimensão das Nações eles defendem que a dimensão óptima de um país é determinada por um equilíbrio de custo/benefício entre os benefícios da dimensão e os custos da heterogeneidade. Num grande país, os custos per capita podem ser menores, mas as preferências heterogéneas de uma população maior tornam mais difícil o fornecimento dos serviços desejados e a formulação das respectivas políticas para os obter. Nos países pequenos pode ser mais fácil responder às preferências dos cidadãos em sistemas de escolha democráticos.
Prosseguindo: Alesina e Spolaore fundamentam as suas análises com modelos analíticos simples que mostram como os modelos da globalização, da conflitualidade internacional e da democratização dos últimos duzentos anos conseguem explicar os processos de formação dos estados. O seu objectivo não é apenas “normativo” mas também “positivo” – ou seja, não se trata apenas de calcular a dimensão teórica óptima de um estado mas também explicar o fenómeno da dimensão dos países na realidade. Sustenta-se ainda que a complexidade da realidade mundial não impede uma sistematização dessa análise e que ela, sintetizando economia, ciência política e história pode ser um auxílio para a nossa compreensão dos acontecimentos reais no mundo. O livro tem a virtude da contenção (cerca de 260 páginas, como se percebe acima), a de não ser palavroso em excesso. Mas também não se o pode elogiar por ser reader’s friendly (para empregar uma expressão academicamente apropriada...), leia-se e procure entender-se o conteúdo desta página que inseri abaixo (p.134) para exemplo. Suponho que ajudará o leitor deste blogue elucidá-lo que naquela passagem se estão a deduzir os níveis de das despesas com defesa num modelo a quatro países, em que eles estão num equilíbrio de Nash (John Forbes Nash é um matemático norte-americano que se tornou popular depois de um filme a seu respeito intitulado Uma Mente Brilhante). Concretamente, o que este modelo analítico simples nos poderá ajudar na nossa compreensão dos acontecimentos reais do mundo, conforme é prometido pelo preâmbulo citado acima, é algo que nem remotamente consigo alcançar…
Os dois autores são italianos mas parecem escrever para audiências especificamente norte-americanas. Não será por acaso que, por muito hermético que o livro seja, ao fim de dez anos, haja quatro apreciações ao livro na Amazon de além-Atlântico, mas nenhuma na do lado de cá. A realidade histórica europeia parece ser demasiado complexa para encaixar na modelização drasticamente simplificada (estou-me a socorrer da expressão de uma das apreciações) que é usada pelos autores e isso poderá ter-se reflectido no acolhimento dado ao livro pelos leitores europeus. Engana-se quem se iludir com a aparência analítica do livro porque, por detrás das páginas encadeadas de fórmulas herméticas que acima vemos, existe uma matriz ideológica identificável. Só para dela dar um exemplo flagrante, as conclusões finais do livro remetem para fenómenos separatistas em países como o Canadá, alguns países da Europa ou a maioria dos de África, mas onde se assume que a coesão interna dos Estados Unidos é algo de inabalável… Outra forma de nos apercebermos dessas inclinações ideológicas é escutar esta entrevista de Albert Alesina com as suas opiniões a respeito do futuro da Europa. Voltando às razões a que me referira inicialmente para guardar ciosamente este livro, elas nada têm a ver com a sua valia académica: é um alerta permanente para a utilização política encapotada que pode ser dada a obras deste cariz. Onde o hermetismo servirá apenas para impressionar, funcionando como alavanca de projecção para um estatuto inquestionável, que me faz lembrar o Tournesol aqui debaixo, que é um sábio porque é um sábio, mesmo quando se dedica a uma ciência como a radiestesia

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