26 julho 2012

A NÃO-BATALHA DE VALMY

Rendendo-me incondicionalmente ao meu modismo favorito da colecção de dichotes em voga neste Verão de 2012, permitam-me evocar a Batalha de Valmy (Setembro de 1792) tal qual ela costuma ser apresentada canonicamente: tratou-se da primeira grande vitória dos exércitos revolucionários franceses na defesa do seu país após a Revolução de 1789 e perante a ameaça dos exércitos das monarquias europeias que queriam derrubar o governo revolucionário e reinstalar Luís XVI como monarca absoluto. Foi, acima de tudo, uma vitória da nova classe de soldados-cidadãos que, com uma outra motivação, lutavam em liberdade pela sua pátria e não por profissão pelos interesses do rei.
 As consequências políticas do Recontro de Valmy foram como se tudo aquilo tivesse acontecido… mas a verdade é que Valmy não aconteceu assim. Valmy é uma aldeia ignorada de um planalto ventoso (daí a presença do moinho que se tornou num ex-libris da batalha, como se aprecia no quadro inicial) situado a cerca de uns 50 km. a Oeste da cidade-fortaleza de Verdun (mapa acima). No mês anterior (Agosto), os invasores prussianos haviam dali desalojado os franceses. O comando francês terá escolhido a posição de Valmy por dar uma vantagem táctica à sua artilharia na sua disposição de ameaçar as linhas de reabastecimento do inimigo e assim forçar um embate com o exército prussiano.

Apesar de haver estimativas muito díspares, provavelmente os exércitos equivaler-se-iam em efectivos quando do embate. Mais importante é que, entre os franceses, as unidades de cidadãos voluntários que viriam a entrar na lenda pela sua interpretação de canções revolucionárias (como a de cima) durante a batalha, eram uma pequena minoria. Aliás, nem foi preciso que a infantaria mostrasse outras virtudes que não as vocais, porque o recontro se tranformou num duelo de artilharias, comprovado pela percentagem ínfima de baixas dos dois lados: menos de 1% dos efectivos engajados. Os prussianos, considerados o melhor exército da época, retiraram e só isso veio logo a tornar-se na Vitória francesa!
Donde se conclui que, na Guerra, é mais importante a perspectiva colectiva do que terá acontecido do que aquilo que de facto aconteceu...

Nota: o quadro inicial intitula-se A Batalha de Valmy, data de 1826 e foi pintado por Horace Vernet (1789-1863).

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