31 maio 2012

DOIS NÚMEROS SEM QUALQUER RELAÇÃO APARENTE ENTRE SI

Começando pelo fim, o número que desencadeou este poste, é 13,7. Em milhões de €uros, trata-se do número que representa o valor das exportações de vinhos portugueses para a China – que aparece assinalada apropriadamente no mapa acima a cor de vinho. Em valor, a China é o quinto importador e Portugal o sétimo exportador mundial de vinhos. Ouvi-o hoje na TSF e esse número, associei-o a um outro, 50% superior, que ouvira recentemente a Pedro Passos Coelho, quando da Cimeira da NATO em Chicago. Ele mencionou perto de 20 milhões de €uros por ano como o custo da participação portuguesa na missão internacional no Afeganistão (ISAF) – e o Afeganistão também se encontra devidamente assinalado no mapa com cores de camuflado militar…

É evidente que os interesses portugueses na Ásia não se esgotarão nem na China nem nas nossas exportações de vinho para os vários mercados locais. Mas torna-se evidente que se gasta muito mais no Afeganistão do que aquilo que se vende em vinho à China, o maior mercado asiático. Este género de comparações, mesmo podendo ser incipientes, quase nunca se fazem e, quando se tentam fazer, costumam ser constantemente refutadas com a intangibilidade dos objectivos da nossa política externa: óptima formula para que quem a define, não sejam eles escrutinados... Em casos da NATO a intangibilidade é a da solidariedade para com os nossos Aliados. Pedro Passos Coelho parece querer prosseguir aqui uma política de fazer de conta – a dos botões areados com as peúgas rotas

Raramente vejo a política externa portuguesa a ser discutida e objecto de controvérsia - o que é uma pena! - mas estou convencido que neste caso Pedro Passos Coelho e Paulo Portas se iludem a si próprios nessa tentativa de iludir as opiniões públicas alheias. A esmagadora maioria nem sabe que existimos. E os outros que importará impressionar conhecem bem demais as nossas debilidades... Quanto aos decisores, são eles, ainda que indirectamente e por intermédio dos organismos internacionais especializados (FMI), a ajudar-nos na recuperação da nossa situação financeira. Certamente que eles compreenderão a nossa indisponibilidade temporária em afectarmos recursos a missões a que apenas nos engajámos por princípios de solidariedade para com eles. E poupavam-se mais uns milhões...

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