22 março 2012

UM SUPERSÓNICO NO QUINTAL

No princípio dos anos 70, o TU-144 (acima) era uma das coqueluches da engenharia aeronáutica soviética. O aparelho era um de dois únicos no Mundo – a par do seu grande rival, o Concorde anglo-francês – a ser concebido para o transporte comercial de passageiros a velocidades supersónicas, um tipo de aparelho designado pela sigla SST.
Porém, sem ter tido os problemas de exploração comercial com que o Concorde se defrontou no espaço aéreo dos Estados Unidos, o Tu-144 tinha outros mais, de cariz técnico: por exemplo, a insonorização interna em velocidade de cruzeiro era tão má que os passageiros mal conseguiam conversar com quem estava sentado ao seu lado…
Por essa falta de conforto, mas também por questões de segurança, e apesar de terem sido construídas 16 unidades do Tu-144, os seus voos comerciais apenas duraram sete meses, entre Novembro de 1977 e Maio de 1978, numa proporção economicamente desastrosa de (mais de) duas aeronaves construídas por mês de exploração.
Provavelmente, será por esse excesso que um desses exemplares envelhece hoje num quintal da cidade de Cazã. Não deixa de ser uma ironia que, naquele que outrora foi um dos países totalitários mais controlados do Mundo, haja uma aeronave que era avaliada – aos preços de então – em mais de 50 milhões de dólares…
…que possa jazer hoje esquecida numa cidade russa de província nas condições que as fotografias documentam. Depois do controle e do secretismo da era soviética, as fotografias desta negligência tornam-se mais uma metáfora sobre as consequências na Rússia da implosão do seu império refundado sob a égide do marxismo-leninismo.

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