01 maio 2022

AS OPERAÇÕES «BLACK BUCK»

Quando, no princípio de Abril de 1982, os argentinos ocuparam militarmente as Ilhas Malvinas, deram início a uma Guerra que era inovadora quando comparada com as tradições que entretanto haviam sido adquiridas nos decénios anteriores, no quadro estratégico global da Guerra-Fria. Em primeiro lugar, a potência colonial desta vez não ia negociar e ia resistir militarmente para preservar o status quo (acima); em segundo lugar, o conflito militar iria ser travado entre dois países de um mesmo lado de uma das Alianças.
As Operações Black Buck foram apenas um aspecto acessório e menor da campanha que o Reino Unido promoveu para recuperar as ilhas. Mas valerão este poste porque se revestiram de certas peculiaridades adicionais num conflito que foi todo ele travado em circunstâncias tácticas muito específicas, uma alargada Operação aeronaval e anfíbia como o Mundo não assistira desde a Crise do Suez de 1956. Nela, a cobertura aérea foi dada pela aviação embarcada, especialmente a dos dois porta-aviões da Royal Navy.
Parecia haver poucas oportunidades para a participação da Força Aérea britânica (RAF) na Operação. No entanto, também por questões de prestígio, o ramo esmerou-se numa solução rebuscada e imaginativa para que as suas aeronaves aparecessem também sobre os céus das Malvinas. A situação diplomática excluía que os britânicos se utilizassem de bases militares nos países limítrofes - seria o caso do Chile. Porém, a base britânica mais próxima (Wideawake) situava-se na Ilha de Ascensão, a cerca de 7.000 km de distância.
Acrescia a isso que as especificações dos aparelhos da RAF os fazia concebidos para os teatros de operações europeus. Mesmo um bombardeiro estratégico (ou seja, concebido para bombardear a União Soviética a partir de bases britânicas) como o Vulcan (acima) não possuía a autonomia de voo necessária para ser utilizado directamente sobre as Malvinas. Isso obrigou a uma gigantesca improvisação que começou pela mobilização nunca vista de várias esquadras de aviões de transporte para Wideawake (abaixo).
Tão importante quanto a esquadra de bombardeiros Vulcan era a de Victores, entretanto reconvertidos para aviões de reabastecimento aéreo. Conjugando a descolagem destes últimos em três vagas separadas era possível fazer com que um – mas apenas um! – dos bombardeiros Vulcan atingisse as Malvinas, bombardeasse os alvos e regressasse depois a Ascensão, numa missão de 16 horas que, conforme se pode ver pelo complexo esquema abaixo, envolvia não só o reabastecimento do bombardeiro como também dos reabastecedores.
A primeira dessas operações (baptizadas Black Buck), a 1 de Maio de 1982, teve por objectivo o próprio aeroporto de Port Stanley (a capital das Malvinas que estava então sob controlo argentino) e beneficiou de um efeito de surpresa total: os argentinos não contavam que tal tipo de operação pudesse ter lugar. Porém, descontando esse impacto psicológico importante nessa fase do conflito, a avaliação que hoje se faz dos seus resultados é mínima, considerando os meios envolvidos e também os riscos associados.
Cada operação requeria dois Vulcan (efectivo e suplente) e mais quatro, sete e outros quatro Victores em cada uma das três vagas, envolvendo nada menos que dezassete das sempre delicadas fases de reabastecimento em voo. Na única vez que correu mal e o Vulcan não se conseguiu reabastecer, a tripulação teve sorte porque conseguiu poupar combustível para chegar ao aeroporto do Rio de Janeiro onde aterrou com os últimos vapores do depósito e acabou internada até ao fim do conflito – abaixo, a notícia nos jornais da época.