07 novembro 2011

O DESEMBARQUE DE TANGA

Há quem possa ler no título desembarque da tanga mas esta Tanga é uma cidade no Norte da Tanzânia que em 1914, ano do início da Primeira Guerra Mundial, fazia parte da África Oriental Alemã. Que, porque era uma cidade costeira e terminal ferroviário, se tornou um objectivo militar para os britânicos, que pretendiam continuar hegemónicos em todos as regiões coloniais. A forma como os britânicos o tentaram fazer – através de uma operação anfíbia – o desfecho dessa operação – um fiasco completo! – e o custo em vidas humanas assemelham-na ao Raid de Zeebrugge, do meu poste anterior. A apreciação das chefias e o tratamento histórico que a acção recebeu depois é que não…
A superioridade dos Aliados anglo-franceses no início da Primeira Guerra Mundial (em Agosto de 1914) nas regiões coloniais era esmagadora. Havia apenas que expressá-la e, na orla do Índico, os britânicos podiam mobilizar os recursos daquela que era a jóia do seu Império Colonial: a Índia. Foi de lá que foi enviado um corpo expedicionário para a conquista da África Oriental Alemã composto por 8 batalhões num total rondando os 8.000 homens. O primeiro objectivo desse corpo foi a mencionada cidade de Tanga a Nordeste, também a mais próxima da África Oriental Britânica (que é hoje o Quénia). A operação anfíbia - ou seja, os desembarques - começaram em 3 de Novembro de 1914.
Ainda não se havia atingido o profissionalismo impessoal descrito abaixo para o Raid de Zeebrugge: os britânicos apresentaram-se primeiro através do cruzador Fox, cujo capitão foi a terra parlamentar com as autoridades alemãs, solicitando a rendição da cidade, o que foi, previsivelmente, recusado. Só depois a frota que transportava o corpo se aproximou para proceder ao desembarque das tropas. Tanta cortesia apenas serviu para alertar os alemães, cuja guarnição era ínfima em comparação com os invasores. Mesmo mobilizando as reservas que chegaram rapidamente à cidade transportadas por caminho-de-ferro, do lado alemão os efectivos nunca ultrapassaram os 1.000 homens.
Mais do que isso, uma apreciável maioria era composta por soldados africanos nativos, conhecidos pela designação de askaris. Como o mesmo se passava do outro lado com os soldados indianos, o principal embate acabou por se travar entre povos colonizados, onde apenas os graduados eram europeus. O que acabou por se tornar conveniente para os britânicos conseguirem explicar o desenrolar das operações onde, apesar das forças do seu corpo expedicionário gozarem de uma esmagadora superioridade humana e material (8 para 1), não se conseguiram superiorizar ao inimigo no terreno, acabando por reembarcar. Foi uma questão de desmoralização dos soldados – incidentalmente, soldados indianos…
Ao contrário do de Zeebrugge, o fiasco de Tanga não foi tratado com os cosméticos da distribuição de medalhas por coragem, denodo ou galhardia. O comandante britânico foi sancionado. Multiplicaram-se as explicações para o desaire, incluindo a intervenção de abelhas(!), explicações de onde nunca se perde de vista qual a etnia dos derrotados. Só uma leitura atenta à ordem de batalha (abaixo) nos mostra algo que parece esquecido em todas essas explicações: entre os 8 batalhões envolvidos há um (assinalado 2 L Lancs) que é formado exclusivamente por soldados ingleses (o 2º batalhão do Loyal North Lancashire Regiment). E, em combate, não parece ter-se destacado dos restantes¹
¹ Assinalados no mapa por 2 Kash e 3 Kash são os 2º e 3º batalhões dos Kashmiri Rifles. 13 Raj é o 13º Rajputs. 81 Pioneer é na realidade o 61º Pioneers. 63 Pal é o 63º Palamcottah Light Infantry. 98 o 98º de Infantaria e 101 Gren o 101º Grenadiers. Como se pode ler nas ligações para a Wikipedia tratava-se de unidades com historial e reputação do Exército da Índia Britânica.

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