17 maio 2011

A PROPÓSITO DE ALGUMAS COISAS QUE LI A PROPÓSITO DE DOMINIQUE STRAUSS-KAHN

Costuma considerar-se que o Banco Mundial e o Fundo Monetário Internacional são as duas organizações basilares onde assenta o sistema financeiro mundial nascido depois do fim da Segunda Guerra Mundial que ainda permanece em vigor. Tradicionalmente quem preside ao primeiro é um norte-americano (10 dos 11 presidentes do Banco Mundial deste 1946 – e a excepção foi um australiano) e a direcção do segundo está reservada para um europeu e dos da velha Europa continental: também desde 1946, foram 4 franceses, 2 suecos, 1 belga, 1 holandês, 1 alemão e 1 espanhol.
Se fiz aquela referência à velha Europa foi porque aquela cumplicidade tácita de décadas foi perturbada há uns anos (2005) pela escolha da Administração Bush de um dos seus neocons de estimação, Paul Wolfowitz, para dirigir o Banco Mundial. Como se fosse por coincidência, aconteceu-lhe tudo, desde operações negativas de relações públicas em que o fotografaram de peúgas rotas à saída de uma mesquita (acima), até acusações muito mais sérias de favorecimento à sua namorada que também trabalhava para o Banco Mundial. Paul Wolfowitz veio a demitir-se contrariado e em desgraça em Junho de 2007…
As coincidências são para se repetir e Dominique Strauss-Kahn, que assumiu a Direcção do irmão Fundo Monetário Internacional (FMI) em Novembro desse mesmo ano de 2007, logo se devia ter apercebido como a retaliação de um clã pode ser uma motivação muito forte e como ele pisava terrenos perigosos e deveria ter levado muito mais a sério as advertências que recebera dos membros do próprio Conselho do FMI menos de um ano depois de tomar posse, quando da conclusão a uma investigação a respeito do seu envolvimento com uma namorada que arranjara entre os quadros da organização.

Assim não foi e suspeito que o próprio Strauss-Kahn será agora quem mais o lamenta. Porém, outro aspecto da questão será as críticas que para aí se lêem quanto à cobertura mediática da sua prisão. Eu não gosto nada da cultura da prepotência e violência associada à actuação policial nos Estados Unidos (como se vê no episódio acima), mas tenho de reconhecer o carácter democrático como esse (mau) tratamento é aplicado: no caso, vemo-lo a contas com a justiça (abaixo) não por ser Strauss-Kahn mas porque todos os que se encontram naquela situação são assim tratados e Strauss-Kahn não é excepção.
Mas é preciso chegar à blogosfera portuguesa para constatar o aspecto de farsa que o assunto pode ainda vir a alcançar, ao descobrir autores de blogues que parecem apartados por uma intransponível distância e hostilidade quando em termos dos clubes políticos que defendem, se reencontram neste caso de Strauss-Kahn irmanados na questão, essa sim verdadeiramente ideológica, que, se a justiça é cega e devia ser teoricamente igual para todos, em concreto, quando aparecem casos destes, ela deve afinal ser mais igual para os nossos do que para as outros...

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