01 novembro 2010

PAÍSES DIVIDIDOS

Alemanha, Coreia (abaixo, um trecho da fortemente militarizada fronteira entre o Norte e o Sul), Chipre, Irlanda, Vietname ou Yemen são países que conhecemos por estarem ou terem estado divididos. Quando assim, os seus protagonistas políticos dos dois lados costumam considerar a sua reunificação como a mais alta prioridade nacional. Entretanto, alguns dos países mencionados acima conseguiram reunificar-se (Alemanha, Vietname, Yemen), enquanto os outros ainda se mantêm divididos.
O que parece ter mudado de há uns anos para cá, depois dos custos económicos do caso alemão depois de 1991, terá sido a vontade política das partes mais poderosas em promoverem essas reunificações. Já aqui mencionei o assunto de raspão para o exemplo coreano mas regressemos agora a ele mencionando outro caso, o da Irlanda. A ilha encontra-se dividida desde 1922 entre a Irlanda independente (70.000 km²) e a Irlanda do Norte (14.000 km²) que continua a fazer parte do Reino Unido.
À época da separação o Norte era a região industrializada e mais desenvolvida da ilha – os estaleiros de Belfast construíram, entre outros grandes navios, o Titanic. E o pretexto invocado para a divisão da ilha quando da sua autonomia em relação ao Reino Unido foi a questão religiosa, visto que nas regiões do Norte havia uma maioria protestante. Já aqui contei no blogue alguns episódios ligeiros das relações sempre turbulentas entre os dois lados. Entretanto, a geografia económica da ilha mudou…
Nestes 90 anos, o Norte tornou-se francamente menos próspero que o resto da ilha. E a ideia da absorção de uma economia mais frágil por outra mais poderosa lembra-nos o exemplo alemão em que o PIB per capita dos alemães de Leste era apenas 42% do dos seus compatriotas ocidentais. E o esforço fiscal que foi pedido a estes últimos. E o preço político que na Alemanha se pagou por isso. Ora o PIB per capita na Irlanda no Norte também é cerca de 60% do dos seus vizinhos do resto da ilha¹
É um paradoxo que à medida que aumentam as condições objectivas para que a Irlanda se volte a reunificar aumentem as cautelas em concretizar esse passo mítico que cada vez mais se percebe como inevitável. Parece estar a faltar a coragem de se assumirem os custos económicos, sociais e políticos do gesto. O egoísmo nacional era uma famoso chavão que justificava, com razão ou sem ela, a defesa dos interesses do país. Pelos vistos, nos países divididos, os egoísmos modernos já nem nacionais serão…

¹ Os valores poderão alterar-se por causa da recessão que a Irlanda está a atravessar. A alteração não será significativa por causa da interdependência entre as duas economias.

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