29 junho 2010

CASOS EM QUE NÃO PÔDE HAVER “ERROS DE ARBITRAGEM” E AINDA OUTROS ERROS

Há que reconhecer que as cerimónias grandiosas dos Jogos Olímpicos modernos foram uma criação da extraordinária máquina de propaganda da Alemanha nazi quando os organizou em Berlim em 1936. Montados e encenados com um detalhe que nunca se vira até então, apenas ficou de fora da organização do espectáculo aquilo que não podia ser controlado: o desfecho das competições de algumas modalidades olímpicas onde, pelas suas próprias características, será mínima a influência dos erros de arbitragem para a classificação final¹. Um dos casos flagrantes disso são as competições de atletismo!
É assim que aparece esta conhecida fotografia simbólica da cerimónia protocolar dos primeiros classificados da competição de salto em comprimento, com o norte-americano Jesse Owens em primeiro lugar, ladeado pelo alemão Luz Long e pelo japonês Naoto Tajima. No meio de todos aqueles braços levantados, onde a saudação nazi se confundia com a saudação olímpica, os responsáveis da delegação norte-americana terão decidido demarcar-se de conotações incómodas, induzindo os seus atletas a saudarem com uma continência, uma ironia no caso de Owens que não cumprira qualquer serviço militar…
Conquistando quatro medalhas de ouro, Jesse Owens foi o Herói do Estádio dessas Olimpíadas de 1936 para grande aborrecimento de Adolf Hitler. Sabe-se isso pelos seus desabafos privados para quem com ele privava (Albert Speer) mas não pelas suas atitudes em público. O resto da história que acompanha a lenda, incluindo a famosa recusa em felicitar Owens é forjada. Hitler deixou de felicitar qualquer atleta depois do primeiro dia de provas, quando o Comité Olímpico lhe chamou a atenção que, como anfitrião, ou felicitava todos os atletas vencedores (e não apenas os alemães), ou então não felicitava nenhum…

Quanto ao comportamento dos berlinenses, alheios a essas subtilezas protocolares, Jesse Owens veio mais tarde a reconhecer que fora ali que recebera as maiores aclamações da sua carreira (acima). E, especificamente quanto ao comportamento de Adolf Hitler, foi o próprio desprezado a defendê-lo das críticas quando escreveu que ao passar perto da sua tribuna no estádio fora Hitler que se levantara e tomara a iniciativa de o saudar, saudação a que depois ele correspondera: Hitler não mostrou desprezo por mim – foi FDR (Franklin D. Roosevelt, Presidente dos Estados Unidos) que mostrou desprezo por mim.
Owens colocara o dedo na ferida que, quanto à prática social de racismo, os Estados Unidos não tinham moral para dar lições a ninguém. Roosevelt nem um telegrama lhe enviou. Quando se organizou uma parada (acima) e uma recepção em sua homenagem no Hotel Waldorf-Astoria de Nova Iorque – e ao contrário dos hotéis de Berlim onde estivera – o homenageado teve que apanhar o elevador dos criados... Mesmo numa cidade que se considerava cosmopolita um negro com quatro medalhas olímpicas de ouro era em primeiro lugar um negro. Com um futuro muito pouco promissor à sua frente (abaixo)...
¹ Em contrapartida, uma das meias-finais do torneio de futebol, onde o Peru vencera a Áustria por 4-2 (após prolongamento) foi repetida, alegando a organização que houvera uma invasão de campo que lesara a equipa austríaca. Dadas as circunstâncias (Berlim, 1936, jogo contra a Áustria), ainda hoje é inexplicável onde é que os peruanos poderão ter conseguido mobilizar essa multidão de apoiantes que invadiu o campo…

5 comentários:

  1. COMENTÁRIO AO POST DE ANTÓNIO TEIXEIRA - "CASOS EM QUE NÃO PODE HAVER "ERROS DE ARBITRAGEM" E AINDA OUTRAS FRAUDES"


    01- Uma primeira nota: O “apoio técnico e tecnológico” às decisões do”Árbitro”, no Futebol, faz, timidamente, o seu caminho. Mas fá-lo.

    Todas as “Lutas” do “Novo” contra o “Velho” são assim: paulatinas e por pequenos passos.

    A postura do “Tudo ou Nada”, é apanágio dos “Maximalistas”, “Esquerdizantes”, “Com a Doença Infantil do Comunismo”.

    02- Este enfoque dos Jogos Olímpicos de Berlim, no ano de 1936, no auge do nazismo, revela uma então nova fase da Propaganda Política, assumindo-se a Manifestação Desportiva como um tabuleiro promissor.

    E tal sucedeu nos regimes de conetação direitista como também nos regimes eivados de totalitarismo.

    03- Numa abordagem ainda mais ampla, poderia ter-se citado a celebração do “Black Power”, noutros Jogos Olímpicos.

    Mas incluir tal, nesta abordagem concreta e específica, indiciadora de uma Estratégia Editoral, caracterizada; seria um “não senso” descabido, pois minimizaria a questão do Racismo, que em boa hora foi associada.

    04- A “Propaganda Política”, ora se desdobra na “Agit-Prop”, ora entra na “Grande Propaganda”.

    Escalas diferentes e caracteristicas diferenciadas, com metodologias específicas.

    O Investimento da República Popular da China nos Jogos Olímpicos foi gigantesco.

    05- A minha vivência pessoal, passa também por um outra faceta na “Manifestação Política”, dita de “Massas”.

    A surpreendente utilização do “ENSAIO PRÉVIO” em Manifestações, ditas de “Massas”.

    Mas tal será “Outro Número de Obra”, de “Contos Largos”, que fica para outra ocasião, outra investida....

    CORDIAIS E AMISTOSAS SAUDAÇÕES de

    ACÁCIO LIMA

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  2. Muito bem!

    :)))

    [E Portugal acaba de ser eliminado :(((]

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  3. É que esta história de deificação do Roosevelt tem pano para mangas...
    Este texto está (é) fantástico.
    Só tenho lido os seus textos.
    Mas para o caso de o não Teixeira não se lembrar...informo-o que sou um leitor atento daquele que considero ser o melhor blog.

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  4. SEGUNDO COMENTÁRIO AO POST DE ANTÓNIO TEIXEIRA - "CASOS EM QUE NÃO PODE HAVER "ERROS DE ARBITRAGEM" E AINDA OUTRAS FRAUDES"


    00- O Comentário de João Moutinho, supra, sugere-me as seguintes considerações.

    01- A pesquiza da História, tal como todas as pesquizas, exige uma formação científica generalista complementada por uma formação específica na matéria em causa.

    02- Um “Blog”, independentemente de se aguardar por uma “Definição” do que é um “Blog”, mas atendendo só ao genérico e vago conceito de uma forma de “Comunicar”, também não foge, como Comunicação que é, a uma formação generalista complementada por uma formação especifica na área da Comunicação.

    03- Mas quer o tratamento factual da História, das Histórias, quer a sua cristalização num acto de Comunicação, requerem, sempre, um Enquadramento Político e Ideológico, que se “materializa” numa Estratégia Política, formalizada numa Linha e Estratégia Editoriais.

    04- Mais do que a individualidade de cada texto, de cada Post, um “Blog” afere-se por uma sequência de textos, e o seu impacto dimana de tal.

    Aí “descobre-se” a Linha de Rumo, - (Editorial)- a Estratégia, subjacente.

    Dos vários anos de existência do “Blog” “Herdeiro de Aécio” só li, ainda, uma escassa vintena de posts. Estou “verde”para me lançar em “Grandes Tiradas”.

    05- A aferição de um “Blog” exige outras “Muletas”, nomeadamente o conhecimento de outro textos e actividades do Autor.

    06- Sou um “Jogador”, na adesão ao “Lúdico”.

    O “Lúdico” tempera a vivência, a tal ponto que o “aderir ao Lúdico”, ou, o “não aderir ao Lúdico”, “Separa Águas”.

    Não suporto os Políticos “Cara Fechada”.

    Jamais saberão entender o Homem, e detectar as suas Necessidades.

    07- O meu “Jogo”, agora e aqui, é “intuir” qual é a “Muleta” a que acima aludi. Intuir e não pesquizar na objectividade.

    Depois teremos o “Fazer Bimbo” ou o “Não fazer Bimbo”!!!!!!!!!!

    O “Jogo”, o “Lúdico”.

    08- Tudo isto, a propósito e suscitado pelo Comentário de Joâo Moutinho.

    “Les Jeux Sont Faites”.

    Cada qual que tire conclusões.

    Mas não resisto à tentação de contar uma “História”.

    Corria o ano de 1966 e, no Forte de Caxias, um velho Anarquista, e não cometo indiscrição revelando o seu nome, Neto, que deambulara por Cuba, ainda no regime de Batista, contou-me a seguinte História.

    Realizou-se uma magna reunião clandestina, em Cuba, de Anarquistas.

    O Conclave foi longo, e foi difícil estabelecer consensos.

    O Dirigente Anarquista, que orientou o Conclave, no final, saudou todos os Anarquistas presentes e concluiu assim:

    “ E ahora, ao salir daqui, cada uno haga no que intende, como bueno Anarquista”!!!!!!

    Tal como eu acima digo: CONCLUAM O QUE ENTENDEREM POR BEM.

    Cordiais e Amistosas Saudações de

    ACÁCIO LIMA

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  5. Não me embarace mais João Moutinho… Eu já nem protesto quando escreve e repete que o “Herdeiro de Aécio” é o melhor blogue de formas imaginativamente variadas…

    Agora subiu mais um patamar nos superlativos e passou a escrever que “só tem lido os meus textos”?! Olhe que há muitas coisas interessantes escritas por aí… embora raramente nos blogues mais em moda.

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