02 maio 2010

OS PRISIONEIROS NA GUERRA DO PACÍFICO (1941-1945)

Depois do seu ataque a Pearl Harbour em Dezembro de 1941, e com as ofensivas vitoriosas que desencadearam contra a Malásia, a Indonésia, as Filipinas ou a Nova Guiné, os japoneses capturaram várias dezenas de milhares de prisioneiros aliados (acima) das mais variadas proveniências: britânicos, norte-americanos, australianos e holandeses, mas também indianos, malaios, filipinos e indonésios.
A todos os japoneses trataram igualmente mal, mas os prisioneiros de ascendência europeia possuíam um valor adicional de propaganda, para demonstrarem às populações que a superioridade dos ocidentais havia terminado. Acima, os prisioneiros australianos capturados depois da queda de Singapura (Fevereiro de 1942) são obrigados a varrer as ruas da cidade diante da população arregimentada para o efeito.
Os japoneses deram um tratamento execrável aos seus prisioneiros, o que foi retratado de múltiplas formas (a fotografia acima data de 1943), em filmes como A Ponte sobre o Rio Kwai ou Merry Christmas, Mr. Lawrence. A explicação que se costuma dar para esse tratamento tão desdenhoso por quem se rendera é atribuída à cultura japonesa e ao seu conceito de honra que não concebe nem respeita tal atitude.
Seria por isso que, quando colocados na mesma situação, os japoneses prefeririam morrer em combate à rendição. É verdade, mas é apenas a parte da verdade que hoje se torna mais fácil de digerir politicamente. A componente do ódio racial pelo inimigo foi, como se vê acima e desde o princípio da Guerra, explorada pelas propagandas na Guerra do Pacífico. E não me refiro apenas do racismo dos ocidentais...
O panfleto acima foi concebido pelos japoneses para ser lançado sobre as posições aliadas e procurava combater a péssima reputação que a propaganda aliada inculcara nos seus soldados quanto ao tratamento que era dado pelos japoneses aos prisioneiros. Porém, apesar de destinado a persuadir, o parágrafo final¹ do panfleto é eloquente quanto à superioridade em que os japoneses se tinham face aos seus inimigos.
Quando chegou a vez de serem os americanos a passarem à ofensiva e a fazerem os prisioneiros, fotografias como a de cima, tirada no atol de Tarawa em Novembro de 1943, tornaram-se raríssimas. É que, quando do desembarque americano, a guarnição japonesa na ilha tinha 4.800 soldados. E no final dos combates, contaram-se 4654 cadáveres de japoneses. O que queria dizer que os americanos só haviam feito 150 prisioneiros: 3% do total...
Oficialmente, a razão para essa luta até ao extermínio total dos defensores devia-se ao fanatismo dos japoneses. Se era essa a causa exclusiva de tais números, então o fanatismo terá aumentado à medida que a Guerra decorria, pois na Batalha de Iwo Jima (acima, tema dos filmes Flags of Our Fathers e Letters from Iwo Jima) de Fevereiro de 1945 apuraram-se 23.703 mortos japoneses para apenas 216 prisioneiros²1% da guarnição!
Uma outra causa provável para aqueles resultados é que, para os americanos, se tornava muito mais remunerador do ponto de vista militar o investimento em armamento apropriado para eliminar os pontos de resistência, como era o caso dos lança-chamas (acima), do que apostar em operações psico para a desmoralização dos soldados inimigos (um exemplo é o panfleto² abaixo), de resultados tão incertos quanto mais lentos.
Na invasão de Okinawa, de Abril a Junho de 1945, na primeira e única vez em que os americanos se empenharam seriamente em operações psico na Guerra do Pacífico, colocando, entre outros meios, os seus próprios soldados de origem japonesa a apelar à rendição dos inimigos através de altifalantes, conseguiu-se um resultado interessante: fizeram-se 7.400 prisioneiros, cerca de 8% dos 90.000 defensores…
¹ A nossa história é dez vezes mais antiga que a vossa. Enquanto os vossos antepassados erravam por aí como selvagens já o Japão era um país civilizado. Nós somos muito mais civilizados que vós americanos.
² O panfleto diz: O japonês com esta mensagem cessou a resistência. Deve ser bem tratado, de acordo com as leis internacionais. Levem-no ao vosso comandante.

2 comentários:

  1. Ilustrativo da maneira feroz como os japoneses tratavam os inimigos de guerra, e não só os ocidentais. Quando comecei a leitura do post, lembrei-me logo do "Mr Lawrence" e do rosto lívido de David Bowie.

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  2. Com este poste procurei ir um pouco mais adiante do que isso, João Pedro.

    Os japoneses pouco se preocupavam com os prisioneiros que haviam feito.

    Por seu lado, os americanos pouco se preocupavam em fazer prisioneiros.

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