29 maio 2010

O QUEIJO QUE OS INTELECTUAIS COMUNISTAS TÊM COMIDO EM EXCESSO

Eu suponho que já tenha saído de moda a associação entre comer-se queijo em excesso e o esquecimento mas, a redacção do título acima, tal qual está redigida, é mais uma expressão das minhas preocupações para que mais uma vez, Não se Apague a Memória! Ainda a respeito da Jornada de Luta de 17 de Junho de 1953 (acima), aquela a que me referi no poste anterior, em que perderam os que era de esperar que perdessem, por muito que o regime jurasse governar em seu nome, um intelectual comunista, de seu nome Bertold Brecht (abaixo), escreveu o poema Die Lösung¹:
A Solução

Depois da Revolta de 17 de Junho
O Secretário da União de Escritores
Pôs panfletos a distribuir pela Avenida Estaline
Afirmando que o povo perdera a confiança do governo
E que só a poderia reconquistar
Através de esforços redobrados. Não teria sido mais simples,
Nesse caso, para o governo
Dissolver o povo
E eleger um novo?

Mais do que uma crítica ideológica², trata-se de uma crítica irónica à personalidade e à mediocridade dos aparelhistas que prosperam em todas as organizações, os partidos comunistas não são excepção. 55 anos depois, outra intelectual comunista chamada Odete Santos, citou a parte final, mas apenas a parte final daquele poema, com o trocadilho da dissolução do povo para estabelecer um paralelo com a governação de José Sócrates no seu discurso ao XVIII Congresso do PCP (acima). Esquecido³ entre os aplausos ficou o pormenor que o governo da ironia original era comunista…
¹Die Lösung (A Solução)
Nach dem Aufstand des 17. Juni
ließ der Sekretär des Schriftstellerverbandes
in der Stalinallee Flugblätter verteilen,
auf denen zu lesen war, daß das Volk
das Vertrauen der Regierung verscherzt habe
und es nur durch verdoppelte Arbeit
zurückerobern könne. Wäre es da
nicht einfacher, die Regierung
löste das Volk auf
und wählte ein anderes?
² Brecht, no jornal oficial do partido, o Neues Deutschland, mostrou-se publicamente favorável às medidas repressivas então aplicadas pelo governo leste-alemão.
³ Odete Santos, nesta entrevista, minimiza deliberadamente os acontecimentos que estiveram por detrás do poema: (Brecht) escreveu um poema muito interessante numa altura em que houve um desaguisado entre o povo e um comité local do PCP.

2 comentários:

  1. Pus em dia as minhas leituras do "Herdeiro e Aécio" e só tenho mais uma vez que o felicitar.Em particular pela série "Não apaguem a memória !"
    Saudações cordiais

    ResponderEliminar
  2. Agradeço-lhe o comentário elogioso e retribuo-lhe as saudações Francisco Clamote, mas a série "Não apaguem a memória!" não era para ser propriamente uma série: é apenas o resultado de um encadeado de irritações a ouvir disparates - proferidos diante de um jornalismo inqualificavelmente medíocre.

    ResponderEliminar

Nota: só um membro deste blogue pode publicar um comentário.