15 maio 2010

A REUNIÃO HISTÓRICA (de que ainda não sabemos a história)

De uma forma um pouco maldosa, poder-se-á deduzir que algo de verdadeiramente importante se terá passado no princípio deste semana em Bruxelas: é que os detalhes dos acontecimentos dessa reunião terão passado quase completamente ao lado de António Esteves Martins, Fernando de Sousa e de todos os outros correspondentes destacados para Bruxelas para nos informar sobre o que lá se passa... Porque quando o que lá se está a passar é mesmo deveras importante, então ninguém estará para perder tempo em coreografias para entreter correspondentes, que aquela reunião até se terá prolongado pela noite dentro…
Outras pistas que apontam nesse mesmo sentido foram as disputas para o estabelecimento da verdade histórica daquilo que lá se terá passado. Aí, lendo as notícias daqueles jornais de dia 11 (Terça-Feira) que se situam próximos da área do poder em cada capital antecipam-se as posições canónicas. Assim, para o jornal El País, o porta-voz do governo espanhol, Salgado – Ministra da Economia – evita a que a UE imponha a Espanha um ajuste mais drástico, enquanto no Le Fígaro, a voz da presidência francesa, escrevia-se que Sarkozy, majestático, escolheu uma comunicação discreta na sua gestão da crise.
Mas, nestas coisas de Europa, o que foge ao canónico é o que desperta a atenção. Quando um jornal espanhol (o mesmo El País) publica ontem uma notícia em que o herói não é espanhol mas sim francês, aí é que as coisas se tornam mesmos interessantes e a novidade atravessa o continente a galope: durante a tal reunião histórica Sarkozy terá ameaçado sair do euro e encostado Merkel à parede… Uma história destas só adquire consistência quando é rapidamente desmentida (como já o foi por Zapatero, Merkel e Sarkozy) mas sem qualquer esclarecimento adicional quanto ao que possa ter verdadeiramente acontecido…
Serão proporcionalmente poucos os que a seguem, mas a ingenuidade dos europeus que seguem a evolução da construção europeia tende a escassear¹. Os interesses nacionais que qualquer daqueles dirigentes tem que defender nestas reuniões e as alianças que acabam por se formar têm uma História milenar atrás de si. Neste caso que (não) aconteceu, o bloco latino (França, Itália, Espanha) que (não) se teria oposto ao bloco germânico, (não) repete os contornos do Império Romano do Ocidente do Século V (1ª figura) com a sua fronteira do Reno, que depois foi recuperada no Século XIX por Napoleão para o seu Império (2ª figura)...
E, do outro lado do Rio Reno, (não) ficarão os contornos dos II e III Reich (3ª Figura), qualquer um deles demasiado recentes para nos deixarem uma boa impressão... Paradoxalmente, o Império Carolíngio do Século IX (figura acima), cuja configuração é aquela que mais se aproxima do repetidamente citado eixo franco-alemão, foi uma das construções políticas mais frágeis da História europeia... A União Europeia fez com que deixássemos de nos guerrear pelos nossos interesses – e isso já é muito importante! Mas não acreditemos que, num par de gerações, tenha conseguido fazer dos povos europeus irmãos desinteressados que vão mudar a História…

¹ Embora haja excepções.

3 comentários:

  1. Talvez os alemães quisessem recuperar alguns dos seus dinheiros emprestados, pois com um euro fraco vai aumentar as exportações dos alemães e dos países Benelux.
    cumprimentos de Antuérpia

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  2. Talvez, alfacinha, mas sem crédito não vão ser os Piigs que lhes vão comprar grande coisa...

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