16 janeiro 2010

O TELÉGRAFO CHAPPE

De entre todas as grandes novidades técnicas que foram contemporâneas da Revolução Francesa, a mais conhecida de todas terá sido a guilhotina, que se tornou a nova forma democrática¹ de execução de todos aqueles cidadãos que se mostrassem recalcitrantes ao regime que despontava, enquanto a mais esquecida de todas terá sido o Telégrafo Chappe, que muito contribuiu para a imposição da autoridade do Estado nesses anos. Como Guillotin, o criador da guilhotina que chegou a estar preso durante o Terror, também Claude Chappe (acima), o inventor do telégrafo com o seu nome, não era propriamente um membro daquele povo em nome do qual a Revolução fora feita: o avô era Barão…
Como descendente de um dos ramos mais novos da família, Claude Chappe estaria destinado à carreira eclesiástica, mas a Revolução tirou-lhe a sinecura, e fez com que aquilo que começara por uma brincadeira de Verão com os seus irmãos se viesse a tornar num projecto muito sério que consistia num sistema de torres encimadas por um dispositivo de madeira manejado por roldanas (como nas imagens abaixo), que fossem construídas em locais elevados e a distâncias que estivessem ao alcance visual de outras duas para que, encadeadas de uma origem até um destino, e através de posições distintas, se pudessem enviar mensagens à distância em períodos de tempo que seriam, para aquela época, estonteantes.
Para o seu projecto inicial, Claude contou com o apoio do seu irmão mais velho Ignace, que era deputado à Assembleia Legislativa. Com a aprovação desta, a primeira linha foi montada em 1793 com 15 torres (estações) espalhadas ao longo dos 230 km que separam Paris de Lille. Em 1 de Setembro de 1794, os parisienses souberam menos de uma hora depois do término da batalha que o seu exército republicano havia libertado a praça-forte de Condé-sobre-o-Escalda dos ocupantes austríacos! Em sinal de regozijo, os parlamentares rebaptizaram a praça-forte libertada de Norte-Livre e deram autorização para a construção de novas linhas daquele invento,
que era agora considerado decididamente revolucionário!
A linha para Lille foi continuada até Calais, junto às costas da Mancha, e também para Norte, para Bruxelas, Antuérpia e Amesterdão. Foi construída uma outra linha em direcção ao Leste, até Estrasburgo, além de uma outra para Sul até Lyon, mais tarde prolongada até às costas do Mediterrâneo, ligando Paris com Marselha e com Toulon. A França napoleónica estava coberta por uma rede (abaixo) que ligava a capital às suas fronteiras e que possibilitava a circulação da informação com uma demora de uma hora ou pouco mais, quando não menos. A velocidade da mensagem dependia da sua complexidade, mas, por exemplo, o início de uma que fosse oriunda de Lille, estava em Paris 9 minutos depois!
Mas os custos de operação eram muito altos: cada estação precisava de, pelo menos, um operador qualificado. Eram 534 nos cerca de 5.000 km de linhas que cobriam a França… E não eram precisos mais porque, apesar das tentativas, não se conseguia transmitir durante a noite. Ou quando havia nevoeiro… A possibilidade que um operador introduzisse um erro era alta, por isso as mensagens estavam restritas a 196 sinais-padrão. O sistema também não era seguro: o inimigo podia lê-lo. E era possível forjar mensagens². Sobretudo, creio que fornecia informação a uma velocidade que era ainda excessiva para a sociedade que o inventara... A partir da década de 1840 com o telégrafo eléctrico veio a tornar-se tecnicamente obsoleto...
¹ Sob o antigo regime os nobres eram decapitados e os plebeus enforcados.
² Em O Conde de Monte Cristo de Alexandre Dumas, o herói suborna um operador do Telégrafo Chappe para que este crie uma falsa mensagem.

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