27 dezembro 2009

ROBERT McNAMARA

Segundo se veio a saber muito depois, numa daquelas pequenas histórias da História, Lyndon Johnson terá vindo a tornar-se vice-presidente dos Estados Unidos por causa de uma cortesia equivocada. Ou seja, quando John Kennedy lhe endereçou o convite para concorrer com ele às eleições presidenciais de 1960, uma espécie de agradecimento pelo apoio que lhe havia sido prestado pelo então dirigente da maioria democrática no Senado, estava totalmente convencido que o convidado iria recusar. Johnson, um texano labrego, não pertencia às elites intelectuais de que Kennedy se pretendia vir a rodear caso vencesse. Só que Johnson aceitou… E esta história é suficientemente prosaica para ser mesmo verdadeira.
E este preâmbulo serve para justificar porque é que Johnson era uma espécie de ET (a quem criaram complexos…) na equipa da Administração Kennedy. Equipa essa que o vice-presidente veio a assumir depois do assassinato de Dallas, em Novembro de 1963. Assinalada na fotografia acima, vemos um desses mágicos que John Kennedy fora buscar, naquele caso, ao mundo dos gestores para a sua Administração: Robert Strange McNamara (1916-2009). A reputação de McNamara era de homem de acção, um gestor de sucesso que entrara para a Ford em 1946 e acabara de atingir em 1960 o lugar de presidente da companhia, o primeiro a ocupar aquele cargo que não pertencia à família do fundador.
McNamara era californiano de origem e, apesar de ter desempenhado o cargo de Secretário da Defesa sob dois presidentes democráticos entre 1961 e 1968, politicamente um republicano, um dos pormenores mais esquecidos quando a ele se referem. Além de competente como gestor, McNamara era competentíssimo a promover-se. Da versão posta a circular na imprensa constava que fora o próprio McNamara a optar pela pasta da Defesa em vez da formalmente mais importante pasta do Tesouro. Outro facto, também relevante mas de que não se falava, é que ele nem fora a primeira escolha para o cargo… Contudo, logo em Abril de 1961, já conseguira uma capa da Time para os seus projectos de reforma…
E os projectos de McNamara passavam pela aplicação dos métodos de gestão que ele trouxera da Ford para o Departamento de Defesa. Foi um choque total com as hierarquias militares que perdurou até hoje. Com a excepção talvez do caso de Robert Nivelle(*) em França, na Primeira Guerra Mundial, não terá havido outro caso de uma alta figura que tenha despertado uma antipatia corporativa tão grande contra si. Não o terá ajudado muito na popularidade o facto de repetidas vezes se ter provado, com a utilização dos seus novos métodos de avaliação e em qualquer dos ramos das Forças Armadas, que ele tinha razão e que havia um enorme desperdício de recursos em comparação com os objectivos…
O grande problema veio a por-se (...e aí foi a grande desforra dos generais!) quando McNamara quis utilizar precisamente os mesmos métodos que haviam funcionado na reestruturação das Forças Armadas para a condução do envolvimento crescente dos Estados Unidos no problema do Vietname do Sul, até ele se transformar na Guerra do Vietname. Foi isso que esteve por detrás daquela riqueza estatística do conflito vietnamita (classificada displicentemente por alguns profissionais como os métodos da Harvard Business School…), englobando o número das baixas inimigas, dos patrulhamentos efectuados, enfim, uma pletora de indicadores de gestão tangíveis para uma guerra cujos objectivos costumam ser intangíveis…
Mais do que tudo, era o ego, o feitio, a ânsia da promoção da própria imagem da parte de McNamara que não eram propriamente de molde a despertar muitas simpatias entre os subordinados com quem tinha de trabalhar. Tratava-se de alguém que promovia na imprensa a sua fotografia de telefone na mão num gesto em que se subentendia que acompanhava a par e passo a Guerra do Vietname (acima), ou que deixava que se baptizasse de Linha McNamara uma barreira defensiva de fortins estabelecida nas fronteiras do Vietname do Sul para impedir as infiltrações das unidades norte-vietnamitas. E quem se opusesse a McNamara ou era afastado ou então barrava-se-lhe o acesso a Lyndon Johnson…
Sem ser o culpado, McNamara acaba por se tornar um dos mais importantes responsáveis pela surpresa com que se receberam as notícias da Ofensiva do Tet em 31 de Janeiro de 1968, considerado hoje o ponto de viragem da Guerra do Vietname. Os indicadores de gestão que eram compilados pelos computadores em Saigão (acima) confirmavam que os Estados Unidos estavam a ganhar a guerra… Mas na fotografia abaixo, que foi tirada uma semana depois, a 9 de Fevereiro de 1968, e em que aparecem Lyndon Johnson, Dean Rusk, o Secretário de Estado, e Robert McNamara (mas de onde os generais estão ausentes…), vê-se que eles ainda não perceberam cabalmente o que (lhes) tinha acontecido…
(*) Sendo também um General, Robert Nivelle era considerado um traidor à sua corporação por se ter aliado ao poder político civil para conseguir que lhe atribuíssem o Comando Supremo, o que não será propriamente o caso de Robert McNamara, que roubou a guerra aos generais.

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