03 dezembro 2009

NOVE REIS

Ainda no seguimento destes recrudescimentos dos ideais monárquicos que reaparecem todos os anos por ocasião do 1º de Dezembro, ocorreu-me publicar aqui uma das mais iconográficas fotografias sobre o assunto, que veio a receber o título de Nove Reis. São nove os reis que, em 20 de Maio de 1910, se reuniram para posar numa fotografia de família num dos salões do Palácio de Buckingham, antes das cerimónias do funeral de Eduardo VII, Rei do Reino Unido da Grã-Bretanha e Irlanda e Imperador da Índia. De pé e da esquerda para a direita vemos Haakon VII da Noruega, Fernando I da Bulgária, Manuel II de Portugal, Guilherme II da Alemanha e da Prússia, Jorge I da Grécia e Alberto I da Bélgica. Sentados e pela mesma disposição: Afonso XIII de Espanha, Jorge V do Reino Unido e da Índia (que era o anfitrião e herdeiro do falecido Eduardo) e Frederico VIII da Dinamarca.
Quanto à expressão fotografia de família, ela não é figurativa, é praticamente literal. Por exemplo, e apenas para citar os parentescos mais chegados, o senhor sentado do lado direito da fotografia inicial, Frederico VIII da Dinamarca, é pai de Haakon VII da Noruega, irmão de Jorge I da Grécia e tio do anfitrião, Jorge V. Este, por sua vez, é primo direito do outro Imperador da fotografia, Guilherme II da Alemanha. A culpa de muitos destes parentescos pertence à Rainha Vitória (acima ao centro, numa fotografia com o ramo alemão da sua família em 1894, em Hesse, na Alemanha), a mãe do falecido Eduardo VII e avó de Jorge V, que casara a sua numerosa prole (quatro filhos e cinco filhas) entre as casas reinantes europeias. Símbolo do apogeu que o Reino Unido atingiu sob o seu reinado, o seu funeral em 1901 contara com a presença de onze Reis e não apenas nove, como o do seu filho Eduardo.
E, por ter falado das mudanças estratégicas que a Europa então atravessava, este funeral de Eduardo VII de Maio de 1910 foi também a ocasião escolhida por Barbara W. Tuchman para começar a narrativa do seu best-seller de 1962, Os Canhões de Agosto, que descreve o ambiente em que as várias potências europeias se vieram progressivamente a envolver até ao eclodir da Primeira Guerra Mundial em Agosto de 1914. Ainda hoje considerada uma obra marcante – parece ter influenciado o pensamento estratégico da administração Kennedy durante a Crise dos Mísseis de Cuba de 1962, quando se esteve à beira de uma outra Guerra Mundial – não deixa de ser interessante a forma como a autora, como boa americana, não conseguiu estabelecer nessa descrição o contraste entre a importância – para a cenografia diplomática – e a irrelevância – para os interesses estratégicos dos seus Reinos – de todas aquelas cabeças coroadas

2 comentários:

  1. Tudo gente democraticamente eleita.

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  2. Provavelmente não saberá JRD, mas até houve eleições para escolher o monarca - na Grécia em 1862, por exemplo - embora isso não tivesse acontecido com nenhum dos nove reis da fotografia.

    Em abono deles, pode-se dizer que também nenhum deles FINGIA ser democraticamente eleito como acontecia com Nicolae Ceausescu e tantos outros...

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