07 outubro 2009

REPÚBLICAS NO EXÍLIO

Nestas ocasiões da celebração da implantação da República, reevocam-se as cenas do costume que culminam com a proclamação da dita em Lisboa e, do lado dos vencidos, com a partida do monarca para o exílio na Ericeira (como na fotografia abaixo). Exílio é uma palavra que nos habituámos a associar a monarcas e também ao respectivo regime. Ora isso nem sempre é verdade e é por isso que aproveitei este pretexto para evocar a história sumária dos dignatários de duas repúblicas que também se viram forçados a partir para o exílio.
O caso mais antigo é o da república espanhola, a facção que detinha a legalidade, mas que acabou derrotada no final da Guerra Civil que se travou na Espanha entre Julho de 1936 e Abril de 1939. Com a aproximação da derrota, em Fevereiro de 1939, o seu presidente, Manuel Azaña (1880-1940), exilou-se em França vindo a resignar ao cargo. Mas o conjunto de políticos que com ele se exilaram, a começar pelo chefe do governo republicano, Juan Negrín (1892-1956), preferiram preservar um esboço de aparelho governamental no exílio francês.

Em Junho de 1940, com a derrota francesa e a ocupação da França pela Alemanha que apoiara a facção nacionalista durante a Guerra Civil e apoiava agora o regime franquista, o governo republicano no exílio teve de se mudar para o México, para regressar no fim da Segunda Guerra Mundial a Paris. No total, a república no exílio teve quatro presidentes (um deles interino) e oito chefes de governo durante os seus 38 anos de duração, até se vir finalmente a auto-dissolver em Julho de 1977, perante o sucesso da Transição para a democracia em Espanha.
A outra república exilada é apenas seis meses mais nova que a espanhola. Nos finais de Setembro de 1939 já a Polónia se havia vergado ao poder da blitzkrieg alemã e o seu presidente, Ignacy Mościcki (1867-1946), tivera que transferir constitucionalmente os seus poderes para o presidente do Senado, Władysław Raczkiewicz (1885-1947), que se encontrava então em França. Em Junho de 1940, como aconteceu com o seu homólogo espanhol, esse governo polaco no exílio também teve que se mudar, mas neste caso para Londres.

Recorde-se que, por essa altura, a Polónia estava ocupada tanto pela Alemanha como pela União Soviética. Só depois de Junho de 1941, com a invasão da segunda pela primeira, é que foi possível estabelecer uma aliança circunstancial entre polacos e soviéticos que rapidamente degenerou. Ao contrário dos republicanos espanhóis no exílio, que se apresentavam como a alternativa legal a um estado fascista, os rivais dos republicanos polacos no exílio era um outro governo republicano no exílio, mas comunista e patrocinado pelos soviéticos.
A repartição da Europa entre soviéticos e anglo-americanos de 1945 tornou impossível a reposição da legalidade da república polaca original, substituída pela da república popular que ali se instalou a partir de 1944. A sua homóloga no exílio, permaneceu em Londres e teve seis presidentes e quinze chefes de governo durante os 45 anos que se seguiram. Foi apenas em Dezembro de 1990, quando Lech Wałęsa (1943- ) foi eleito o primeiro presidente não comunista da Polónia depois de 1945, que os exilados lhe entregaram os símbolos de Estado na sua posse.

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