12 outubro 2009

REBRANDING – O CASO DO BLOCO DE ESQUERDA

Rebranding é uma expressão em inglês do âmbito do marketing, que pretende traduzir a ideia de um processo através do qual um qualquer produto ou serviço que era produzido e/ou comercializado através de uma marca ou associado a uma determinada empresa passa a sê-lo através de uma nova marca ou através de uma outra organização. Quase sempre, essa transição envolve mudanças significativas na sua designação comercial, no seu logótipo, na imagem, na embalagem ou na publicidade. O objectivo é o de eliminar as conotações negativas que estivessem associadas a qualquer das características do produto ou serviço original…

Com a reputação de o detestar visceralmente, não sei como Francisco Louçã lidará com a subdisciplina do capitalismo que dá pelo nome de marketing… Uma coisa é certa: não se impressionando com as aparências e com os aspectos litúrgicos do seu discurso, o marketing, como se lê na definição acima, tem uma definição precisa da operação que ele, mais os seus correligionários da UDP e da Política XXI montaram há 10 anos para transformar três organizações marginais da extrema esquerda política portuguesa numa nova entidade, que se pretendia substancialmente desligada da carga de radicalismo associada a elas.
O sucesso da operação pode ser medido pela frase, colhida hoje ao acaso na internet, em mais uma tentativa de justificação do fiasco eleitoral que a organização teve nas eleições de ontem: Por outro lado, tratando-se de um partido com apenas duas eleições autárquicas e no início da sua implantação local, não se podem considerar de todo estes resultados como negativos. Há nesta citação uma influência evidente da fraseologia do PCP, o que me faria apostar que o seu autor será oriundo da Política XXI, mas o mais impressionante é a forma como quem escreve interiorizou que nada houvera antes da fusão que originou o Bloco...

Se a Política XXI é um grupo de intelectuais e uma dissidência de dissidentes do PCP, aparecido em 1994, 5 anos antes dessa fusão, tanto o PSR (que foi fundado em 1978), como a UDP (fundada em finais de 1974) vão buscar a sua origem a organizações também de intelectuais que haviam sido criadas antes do 25 de Abril: em 1970, 1971 ou 1973. Há ali, pelo menos, uns 35 anos de história, e, na essência, quando aparece, nada é novo no Bloco de Esquerda, a não ser, como as técnicas de rebranding preconizam, o logótipo, a imagem, a embalagem e a publicidade… E, muito importante em política, as pessoas (aparentemente).
Os dirigentes do Bloco foram hierarquizados (e bem, já que a promoção da acção política já não se faz nos campos e à porta da fábricas…) em função da sua boa imagem televisiva, a começar por Francisco Louçã e Miguel Portas, seguindo-se Ana Drago, Fernando Rosas ou, ainda mais recentemente, Daniel Oliveira. Outros são objecto de uma utilização judiciosa, sobretudo em canais por cabo, casos de João Semedo ou dos recém-derrotados Luís Fazenda e João Teixeira Lopes. E, outros ainda, são como o caso de Mário Tomé (mais abaixo), património histórico da organização, militar do PREC, antigo deputado pela UDP, que não existem fora do Bloco…

Entre os dirigentes do Bloco, Mário Tomé deverá ser um dos poucos que, por exemplo, poderá formular um conceito estratégico de defesa nacional em nome daquele partido. O problema poderá ser que a fórmula do Major Tomé poderá passar por uma insurreição popular armada na Serra da Estrela ou noutro local do país que se assemelhasse à Serra Maestra o que, sendo terrivelmente romântico, não gozará de grande respeitabilidade nem, sobretudo, popularidade nestes dias que correm… Mas esconder os antepassados embaraçosos não tem sido o único percalço no processo de rebranding de parte da extrema esquerda portuguesa.
Houve também os erros de casting televisivo, tipificados no caso de Joana Amaral Dias, comprovando que possuir-se uma carinha laroca pode não ser o fundamental na promoção da organização. Foi impressionante ver como Joana Amaral Dias já conseguiu escavacar em poucas aparições um programa da RTP-N para que o qual foi convidada a aparecer regularmente (Fala com Elas), onde passa o programa sentada numa pose sempre rígida, projectando as suas (generosas) mamas e parecendo envergar um daqueles espartilhos de Século XIX, bem burgueses por sinal, numa mostra corporal de dissidência com a revolução socialista

Se contei isto tudo, foi para enquadrar a minha opinião sobre os resultados eleitorais obtidos ontem pelo Bloco de Esquerda nos grandes concelhos urbanos que tidos como os seus santuários naturais. Por um lado, por tudo o que expliquei acima, porque as candidaturas autárquicas foram protagonizadas por quem não sai bem na televisão... Por outro, porque ao crescer e ultrapassar eleitoralmente o PCP, o Bloco deixou de contar com a simpatia tácita da parte de quem apenas queria que derrotasse os seus rivais à esquerda. Ao ultrapassá-lo e ameaçando a hegemonia do PS, o simpático agora deixou de ser ele para passar a ser o avô Jerónimo

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