02 setembro 2009

... E AVIÕES NA ROTA

Quis a Ironia da História que o presidente que no vídeo acima se apresenta tão indignado pelo comportamento dos soviéticos depois do abate do Boeing 747 da Korean Air Lines em Setembro de 1983 e pelo consequente massacre de 269 vidas que seguiam a bordo, ocupasse ainda esse mesmo cargo quando uma das unidades navais do seu país abateu um Airbus 300 iraniano sobre o Estreito de Ormuz em 3 de Julho de 1988, ocasionando o massacre das 280 pessoas que nele viajavam... Claro que devia, mas, neste caso, Ronald Reagan não reapareceu na televisão para fazer o respectivo acto de contrição pelo massacre das 280 vidas inocentes que se haviam perdido dessa vez, nesse outro crime contra a humanidade. Em consonância, não deixou de ser curioso o contraste da reacção de quase todos os órgãos de informação do aparelho informativo mundial, que antes se mostraram tão receptivos às emoções e tão indiferentes às explicações técnicas que haviam sido prestadas pelos soviéticos a respeito das circunstâncias que haviam levado ao abate do Boeing sul-coreano no Extremo Oriente, mas que se mostravam agora muito mais sóbrios e receptivos às justificações prestadas pela US Navy quanto ao que conduzira ao abate do Airbus iraniano por mísseis disparados por um cruzador norte-americano em patrulha naquela área. Contudo, precisamente como antes acontecera com o caso envolvendo os soviéticos, também aqui a assumpção de responsabilidades e do erro por parte dos seus autores não passou de uma miragem
Só que, para efeitos mediáticos, e para evitar o ridículo da contradição entre o vídeo inicial e a nova situação, não foi Ronald Reagan. mas o Vice-Presidente George Bush quem apareceu a defender a atitude americana. E, simbólico do peso distinto que as duas superpotências gozavam no Conselho de Segurança da ONU mesmo durante o período da Guerra-Fria, enquanto a União Soviética tivera que vetar a resolução que a condenara pelo incidente de 1983, os Estados Unidos, com a presidência rotativa do Conselho naquela altura entregue ao Brasil, até conseguiram que nem houvesse qualquer resolução condenatória, para desespero dos iranianos – acima, pode ver-se um selo postal emitido por eles a respeito do incidente.

2 comentários:

  1. Teixeira,
    Continuo a pensar que se tratam de duas situações distintas. O comandante do Navio Americano tentou por diversas vezes entrar em contacto com o comandante do avião - que facilmente poderia ser entendido como uma ameaça ao navio americano.

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  2. Que as duas situações não são idênticas é evidente. Mas também suponho não serão assim tão distintas. Será que o João Moutinho poderá dizer que conhece com igual profundidade os detalhes dos dois casos?

    Já vi que fez uma descrição bastante empática da avaliação de situação que terá sido feita pelo capitão do navio norte-americano. Consegue fazer o mesmo em relação ao comando do solo e aos pilotos soviéticos? Com certeza suporá – e bem – que as instruções gerais que os pilotos soviéticos teriam não implicariam abater automaticamente qualquer avião intruso…

    É evidente João Moutinho que todos somos mais sensíveis às peças de propaganda que nos são ideologicamente mais simpáticas.

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