08 julho 2009

A TRANSUMÂNCIA DAS INDIGNAÇÕES

Na sequência dos incidentes de Urumqi, as agências noticiosas apressaram-se a enviar os seus jornalistas para lá e, à falta de mais frescas, fotografias como a de cima, tirada na Praça Tiananmen de Pequim em 5 de Junho de 1989, são retiradas dos arquivos para enfeitar as peças entretanto escritas a respeito da brutalidade das autoridades chinesas. Porém, já ninguém parece dar importância ao que se passa no Irão, a Ahmadinejad ou a Rafsanjani…
Parece existir uma espécie de transumância das indignações, que se alimenta das repressões dos estados autoritários (alguns não...), e que tão depressa está em Rangoon na Birmânia quanto se muda para Teerão no Irão ou se instala em Urumqi na China, como é o caso actual. Onde chegam é preciso que haja uma enorme riqueza de imagens para se produzirem opiniões tão assertivas quanto indignadas, normalmente assentes numa enorme superficialidade de análise.
As consequências deste estilo de tratamento noticioso podem ser facilmente percebidas num par de exemplos. Se, a propósito dos acontecimentos de Tiananmen de há 20 anos, o reconhecimento da fotografia inicial deste poste é quase automático, quantos chegaram a compreender depois a importância do papel motivador dos estudantes por parte de Zhao Ziyang (acima) que os usou para a sua luta interna dentro das estruturas do Partido Comunista Chinês?...
Ou então, vamos supor que a fotografia já fora inventada em 1789 e que os acontecimentos de 14 de Julho desse ano em Paris eram devidamente cobertos por repórteres fotográficos… Possivelmente e pelos padrões actuais da relevância jornalística, a fotografia emblemática da Tomada da Bastilha, arriscar-se-ia a ser – como se vê na gravura acima – a da cabeça do seu último governador, o Marquês de Launay, pendurada da ponta de uma lança...

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