14 junho 2009

A CAMINHO DE HELENIZAR A POLÍTICA PORTUGUESA?

No livro Guide to The Peoples of Europe, cuja capa acima inseri, no capítulo dedicado aos gregos (p. 212) pode ler-se o seguinte parágrafo:

Uma característica incomum, senão mesmo única no contexto europeu, do processo político (grego) é a forma como os governos no poder, seja qual for a sua cor política, remexem no sistema eleitoral para sua própria vantagem. Um dos últimos actos do destroçado governo do PASOK em 1989 foi ajustar o sistema eleitoral para tornar mais difícil que a Nova Democracia chegasse ao poder. Enquanto nas eleições de 1981, 48% dos votos haviam permitido uma maioria confortável de 172 lugares ao PASOK no Parlamento de 300 lugares, oito anos depois os 47% obtidos pela Nova Democracia haviam correspondido a uns tangenciais 150 lugares. Evidentemente, uma das primeiras medidas do governo dos recém-chegados foi alterar a lei eleitoral mais uma vez, mas desta em seu favor.

Claro que este tipo de comportamento é apenas o corolário de todo uma outra mudança de cadeiras que tem lugar em todos os lugares apetecíveis da administração quando o poder muda de mãos na Grécia. As duas palavras-chave para esses momentos de transição são rousfeti (ρουσφέτι), a tradicional distribuição de favores dos poderosos pelos seus protegidos, e mesa (μεσα), a rede de contactos que cada um deve possuir.

Não é nada que nos seja difícil de compreender por nós, portugueses, mas também recordo a sensação algo sobranceira que tive quando li aquela descrição pela primeira vez – o livro já tem uns 15 anos. Em Portugal, considerava eu, as coisas não eram assim tão excessivas nem tão descaradas. Agora, há medida que o tempo passa, cada vez me parece mais que posso ter que engolir essas considerações de superioridade…

Multiplicam-se os exemplos de falta do mais elementar senso comum político (como o episódio da não eleição do Provedor de Justiça), complementados com outros exemplos da mais reles grosseria na disputa política (como estas declarações de Vital Moreira), para se poder concluir, atribuindo as culpas aos protagonistas e não aos partidos, que o ambiente político que se vive em Portugal está a degenerar acentuadamente.

E como de costume, haverá sempre aqueles imbecis que actualmente até não acham nada disto que eu aqui escrevi, e só virão a descobrir as virtudes da moderação no exercício do poder no dia em que o PSD lá chegar e, arrogantemente, eles se puserem a despedir o Governador do Banco de Portugal, o Presidente da Caixa Geral de Depósitos, etc. Nesse aspecto ao menos, José Sócrates já deixou a sua marca na política portuguesa…

2 comentários:

  1. Na Grécia é comum utilizar-se subtrefúgios para se condicionar as votações. Numa eleição presidencial, realizada no parlamento, nos anos 80, Papandreou, na altura chefe de governo e do mesmo PASOK, impôs a votação por papeis coloridos, cujas cores representariam os vários candidatos, o que impedia o carácter secreto do voto e permitia reconhecer a opção de cada deputado.
    Mas não é só na Grécia; em França já se viram manobras idênticas. Miterrand converteu a certa altura o sistema de voto uninominal para o proporcional, que permitiu À Frente Nacional eleger muitos deputados e impedir que o bloco RPR-UDF tivesse uma maioria de deputados mais acentuada.

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  2. Nós já cá tivemos um expediente parecido com esse que o João Pedro nos informa que o PASOK usou no Parlamento Grego.

    Só que era nas próprias eleições legislativas, com os eleitores comuns e passava-se antes de 1974 quando o voto era entregue em envelope. Corria que era dificil à oposição reproduzir precisamente as características do papel dos boletins de voto governamentais, criando a impressão que, por causa das diferenças de textura do papel, o voto podia não ser secreto.

    Espero sinceramente que esses expedientes não voltem a tornarem-se correntes entre nós. Já basta a fama das célebres "chapeladas"...

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