25 fevereiro 2009

A DEMOCRACIA E OS DESPORTOS NACIONAIS COREANOS

O tumulto é um verdadeiro desporto nacional da Coreia do Sul. Nos outros países as pessoas manifestam-se de preferência de forma ordeira, embora, por vezes, as coisas degenerem em incidentes. Agora, quando os sul-coreanos se reúnem por uma causa (e eles estão sempre a arranjar causas…), as expectativas são para que haja naturalmente molho. Na Coreia do Sul nem valerá a pena mandar a polícia tradicional acompanhar uma manifestação para a eventualidade de haver desacatos: vai logo a polícia de choque para poupar tempo… Mas, mesmo assim, há sempre quem compareça às manifestações para enrijecer
Na Nova Zelândia, o desporto nacional é o rugby. E diz-se que qualquer neozelandês pratica, já praticou ou praticará a modalidade. Também na Coreia do Sul qualquer sul-coreano anda, já andou ou virá a andar à trolha com a polícia de choque. Nos outros países o exercício da violência pela polícia acaba sempre por prevalecer mas uma manifestação sul-coreana é de interesse desportivo por causa da incerteza do resultado… Observe-se o vídeo abaixo, por exemplo, onde a polícia de choque avança a distribuir mas acaba por ser cercada, começa a enfardar para depois ter que retirar ignominiosamente…
Do outro lado da fronteira, no país irmão da Coreia do Norte, o carácter científico do marxismo-leninismo criou uma versão muito mais avançada daquele mesmo jogo, em que os descontentes que se quiserem manifestar também têm direito a participar num outro tipo de confrontação com a polícia, podendo ser seleccionados como alvos para a prática de tiro ao mesmo (veja-se abaixo*). Noutros casos, garante-se ao jogador uma longa estadia num complexo desportivo. Perante este inequívoco avanço do socialismo, nem se percebe como Bernardino Soares pôde alguma vez ter dúvidas quanto à natureza democrática do regime
* Mais a sério, refira-se que, em rigor, os dois sistemas penais das Coreias incluem a pena de morte, embora, como refere a Amnistia Internacional, a Coreia do Sul tenha adoptado uma moratória oficiosa à sua prática que já dura há mais de uma década (desde 1997). Além disso, são substancialmente diferentes num país e noutro o tipo de delitos que são passíveis de ser sancionados com a execução.

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