05 setembro 2008

A FRONTEIRA RUSSO-POLACA...

Há coisa de um mês e meio, foi tremendamente propagandeada uma gaffe de John McCain que, numa entrevista para a televisão, criou uma mítica fronteira (inexistente) entre o Iraque e o Paquistão. Na altura, a comunidade informativa parecia estar toda atenta ao possível lapso verbal do candidato, e a sua asneira correu mundo.

Hoje, parece que os membros da comunidade desse turno mais forte em geografia devem estar todos de férias, quando se começa a difundir a notícia (por escrito) que a Rússia instala armas de precisão na fronteira com a Polónia. É só olhar para um mapa da Europa Oriental (acima), para verificar que, com excepção do pequeno enclave russo de Kaliningrado, a Rússia não tem fronteiras com a Polónia…

Como escrevi mais abaixo a respeito do Mar Negro, estamos de volta a mais um daqueles casos em que a preocupação informativa vai toda para o cabeçalho que dê da Rússia a imagem de uma potência agressiva, esquecendo o substancial. É que se pretendem mesmo instalar as tais armas junto à Polónia, então os russos precisarão de as instalar na sua aliada Bielorrússia, o que tornará todo este assunto muito mais interessante…

2 comentários:

  1. Como será que se sentiriam os EUA se a Rússia fizesse um acordo com os países da América do Sul para a intalação de um sistema anti-míssil virado para os EUA?

    Será que invadiriam o México e reconheceriam a independência do Yucatan ou do Quintana Roo?

    Muito provavelmente...
    Ou se clhar coisa ainda pior..
    Cumprimentos.

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  2. O problema posto da maneira que o fez é muito interessante, André Couto. Não serei capaz de lhe responder pelos Estados Unidos, sobre quais seriam os seus sentimentos no cenário que coloca, mas posso ao menos assentar nalguns elementos que reputo essenciais para essa resposta.

    O primeiro tem a ver com o sistema anti-míssil que, como tal, e ao contrário do que deixa entender na sua pergunta, não está “virado para” um país, quanto muito estará “virado” para os mísseis desse país quando em voo. É uma diferença importante, essa, entre uma arma ofensiva e uma arma defensiva.

    É que o sistema parece revelar-se verdadeiramente uma arma defensiva. Não apenas porque os norte-americanos o digam, mas também porque os russos, nos seus veementes protestos, põem sempre o acento das queixas na sua localização e não tenho notado que se refiram à sua funcionalidade.

    Usando uma metáfora, é como se aproximássemos um daqueles escudos medievais de um guerreiro dessa época: é provável que o gesto o enfurecesse (como acontece com a Rússia), tenho enormes dúvidas que isso o fizesse sentir-se ameaçado (como a Rússia reclama).

    Seguindo o cenário que coloca, também gostaria de me perguntar a razão para que a Rússia pudesse estar interessada em instalar um dispositivo defensivo anti-míssil contra mísseis norte-americanos num daqueles países da América Central, Caraíbas ou América do Sul.

    O André Couto veja um mapa-mundo – de preferência use um globo – e perceberá que a potência mais interessada nisso seria, talvez, o Brasil… Se lhe sugiro o uso de um globo, em vez de um planisfério, é por causa da facilidade com que no globo se podem seguir as trajectórias balísticas, as mais curtas entre dois pontos da Terra.

    Mas também há que reconhecer que não foi preciso o pretexto de instalações de sistemas defensivos de potências antagónicas para que os Estados Unidos tenham um currículo de intervenções em países da América Central que é particularmente vergonhoso: Cuba, Nicarágua, El Salvador, República Dominicana, Panamá…

    O que, em minha opinião, esse currículo não justifica, nem pode desculpar, é um currículo equivalente de actuações passadas e futuras no Cáucaso e na Europa Oriental por parte da Rússia…

    Cumprimentos

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