11 março 2008

OS MICRO-ESTADOS EUROPEUS – VATICANO

O Vaticano nem chega a ser uma cidade-estado, é apenas um estado que é um pedaço de cidade. A cidade é, evidentemente, Roma, que, depois de ter sido a capital do Império Romano, tem sido ao longo dos séculos* o local de residência tradicional do Papa, o Chefe da Igreja Católica Apostólica Romana. E o que se designa hoje por Estado da Cidade do Vaticano são os pequenos vestígios remanescentes das possessões que o Papa possuiu outrora no centro da Itália (veja-se o mapa abaixo).
Os vestígios são mesmo pequenos: trata-se do mais pequeno estado do mundo em extensão, com uma área que não chega a atingir 1 Km². No total, são apenas 440 hectares, a maioria fazendo parte do tecido urbano de Roma (como a Praça de São Pedro – abaixo), algumas igrejas e palácios da cidade e as áreas que rodeiam o palácio de férias do pontífice, situado em Castelgandolfo, e aquelas onde se localizam as instalações da Rádio Vaticano (Santa Maria de Galeria), ambas nos arredores de Roma.
A população tem uma dimensão correspondente: 785 habitantes, segundo os dados de 2004, a maioria a partir de pessoas que adquiriram a cidadania. Dada a natureza do Estado, a taxa de natalidade é, necessariamente, baixa… Claro que uma estrutura destas nunca pôde subsistir sem a cumplicidade da Itália, apesar de terem mediado 59 anos de disputas (1870-1929), até que sob o pontificado do Papa Pio XI, se viessem a assinar os Tratados de Latrão com a Itália, reconhecendo afinal o status quo existente.
O que, entre outras coisas, aqueles Tratados formalizavam, era a existência do Vaticano como um Estado Soberano, que lhe permite, por exemplo, continuar a manter relações diplomáticas em pé de igualdade com quaisquer outros países. Os núncios apostólicos (são assim que se designam os embaixadores do Vaticano no exterior) são um jogo de faz-de-conta formal, muito parecido com o do grupo parlamentar de Os Verdes no parlamento português: o Vaticano é um país que não existe realmente e os Verdes são um partido que também não…
O sistema de governo do Vaticano é relativamente simples: existe um monarca, que é eleito numa cerimónia cujos rituais datam da Idade Média, que incluem sinais de fumo (acima), e a sua eleição é para o resto da sua vida. Embora possível, foram muito poucos os casos em que um Papa abdicou. E o seu poder é absoluto. Adicionalmente, a legislação em vigor estabelece que, quando ele se pronuncia sobre certos temas – a escrever sobre fé ou moral, por exemplo – é considerado infalível. Privilégio que, decerto, suscitará invejas aqui na blogosfera…
Sendo um poste dedicado ao Estado do Vaticano, a verdade é que ele acaba por se centrar na figura do Papa, porque afinal toda a história do Estado não tem qualquer razão de ser sem ele. O Vaticano é um pretexto para conferir uma dignidade secular formal a um Chefe religioso**. Mesmo a famosa Guarda Suíça (acima), cujos efectivos rondarão os 100 elementos e que se tornou uma das imagens visuais mais fortes do Vaticano, é uma organização que não se destina a defender o Estado, mas apenas o seu Chefe…

* Excepto durante o período de 1309 a 1377, quando vários Papas residiram em Avinhão, no Sul de França.
** Situação que falta, por exemplo, ao Dalai Lama.

2 comentários:

  1. Muito bem observado... e explicado!
    Creio que o problema da natalidade não existia no tempo dos Bórgias e, se a dinastia tivesse tido sucesso, ainda nem precisaria de menção.
    Quanto à estada em Avinhão, merece uma referência especial: Chateauneuf-du-Pape!
    Um tinto que, com uma graduação acima dos 14º, leva qualquer apreciador aos céus!!!

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  2. Pode ter sido por isso que originalmente as cores papais originalmente eram amarelo e... vinho.

    Só no princípio do Século XIX é que passaram para amarelo e branco. Mas isso é uma outra história...

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